Amor, Paixão e Vingança

A noite de verão estava quente e abafada. O vento soprava manso e morno.

Eu estava deitada em minha cama, naquela pequena casa onde morava com meu pai e três irmãos.

Eu rolava na cama. Sentia o calor da noite e meu corpo ardia em chamas como uma fêmea no cio. Não conseguia dormir. Ouvia meu pai roncando no quarto ao lado.

Levantei de minha cama e saí lá fora. Naquela vila de pescadores todos dormiam muito cedo. Eu fiquei ouvindo as ondas baterem calmas.

Saí para a areia da praia. Estava de camisola um pouco transparente e curta.

Fui caminhando sentindo a brisa em meu rosto.

Bem lá na frente vi um homem que vinha caminhando em sentido contrário.

Quando nos encontramos vi que era o engenheiro que estava na cidade fazendo um trabalho. Nós nos olhamos. Ele era um homem bonito e atraente. Já nos conhecíamos do restaurante onde eu trabalhava. Eu me insinuei para ele. Ele me olhou de cima a baixo.

-Oi, Alice! Você aqui na praia a esta hora? E nestes trajes?

-Estava muito quente e resolvi fazer uma caminhada pela praia.

-Não é perigoso você aqui sozinha?

-Todo mundo aqui me conhece.

-Mas tem muitos turistas por ai. Você está linda. Você é linda. E seu corpo é uma escultura. E o seu namorado?

-Terminamos.

-Verdade? Pareciam tão apaixonados.

-Não deu certo. Não é o que quero pra mim.

-Quer dizer que você está sozinha.

Eu me aproximei mais dele e senti meu corpo tremer.

-Sim. Estou sozinha.

Ele se aproximou e tocou meu rosto. Eu ofereci minha boca e ele me beijou. Ele me puxou para si e nossos corpos se colaram. Ele foi me despindo, deitamos na areia da praia e nos enroscamos num desejo incontrolável.

Ficamos por muito tempo ali abraçados, olhando as estrelas e vendo estrelas.

Ele, gentilmente, me acompanhou até em casa. Quando cheguei perto de casa os pescadores já estavam se preparando para ir pro mar, inclusive meu pai e meus irmãos. Meu pai me olhou como quem não estava gostando de me ver chegando aquela hora.

Quando ia entrar em casa, Josué me abordou:

-Onde você estava com aquele forasteiro?

-Aquele forasteiro é Renato, o engenheiro.

-Onde você estava com ele até esta hora?

-Não tenho que lhe dar satisfação. Não somos mais namorados.

-Eu amo você. Você ainda vai ser minha.

-Desista. Não quero mais nada com você.

-Terminou comigo por causa deste doutor aí?

-Não. Terminei porque não quero mais nada com você.

-Mas eu te amo e não vou desistir de você.

-Vai pescar, vai. Estou cansada e daqui a pouco tenho que ir trabalhar. Preciso dormir um pouco.

-Onde estava com aquele cara?

-Não lhe interessa.

Eu entrei e deixei ele ali falando sozinho. Eu estava nas nuvens. A água do chuveiro acariciava me corpo e eu sonhava com aquela noite que vivi com aquele homem. Deitei em minha cama e me sentia leve e feliz.

Renato e eu continuamos nos encontrando e vivendo uma paixão intensa e deliciosa. Cada dia eu me sentia mais apaixonada por ele. Ele era completamente diferente de Josué. Era gentil, educado, carinhoso e atencioso comigo. Mostrava-se apaixonado.

Josué me pressionava e ameaçava a cada dia. E eu sempre tentando fazer ele compreender que não havia possibilidade de volta entre nós.

Alguns meses depois eu descobri que estava grávida. Fiquei arrasada. Não queria aquele bebê neste momento. Mesmo com medo de que Renato me abandonasse eu contei pra ele.

Ele recebeu a notícia com tranquilidade e até se mostrou feliz. Disse que dentro de pouco tempo terminaria seu trabalho naquela cidade e que me levaria embora com ele. Eu não poderia me sentir mais feliz. Era tudo que eu queria. Ficar com aquele homem que eu amava e sair daquela vila de pescadores. Conhecer novos lugares.

Continuamos nos encontrando, nos amando. Ele dizia que me amava que ficaríamos juntos.

Uma noite, estávamos na areia da praia. Estávamos deitados nus e abraçados curtindo nosso momento de amor.

Josué chegou e nos apanhou. Enlouquecido ele partiu pra cima de nós com uma faca. Renato gritou pra eu fugir. Mas ele não conseguiu fugir. Josué o esfaqueou várias vezes. Escondida e de longe eu assisti a tudo, desesperada. Josué então fugiu e eu voltei pra junto de Renato gritando por socorro. Algumas pessoas apareceram pra tentar ajudar, mas ele já estava morto.

Eu me abracei ao seu corpo, chorando, alucinada de dor. As pessoas tentavam me tirar dali mas eu não queria. Queria ir embora com ele. Um pedaço de mim foi embora com ele. Mas um pedaço dele estava dentro de mim.

Levaram seu corpo. Levaram o meu amor. E eu fiquei sozinha e desamparada.

A principio meu pai não aceitou o neto dele que eu esperava. Mas me tolerava em casa.

Eu estava destruída mas me mantinha de pé por causa daquele pedaço do Renato que eu carregava comigo. Todos os dias ia até o local da praia em que nos encontrávamos e ficava lá por muito tempo. Chorando ou conversando com meu amor ou relembrando nossas noites de amor e prazer.

Por fim, meu filho nasceu. Era tão parecido com Renato! Seus olhos azuis e vivos me faziam chorar de saudade. E meu pai se apaixonou por seu neto. Aquela criança que ganhou o nome do pai era meu alento e minha razão de viver.

Vivi por meu filho, pelo amor que eu sentia por ele. Vivi também pelo ódio que sentia pelo assassino do meu amor e pelo desejo de vingança. Jurei pra mim mesma que no dia em que ele saísse da cadeia eu o mataria. Nunca tive esta oportunidade. Aquele maldito morreu na prisão.

Meu filho cresceu, estudou, se tornou um homem honrado e bem sucedido como o pai. Tenho certeza que onde quer que Renato esteja ele se sente orgulhoso da semente que deixou aqui.

Eu segui minha vida, namorei outros homens, casei, tive uma vida tranquila. Mas jamais esqueci aquele homem que um dia amei com todas as forças do meu coração e com quem eu vivi a mais linda história de amor, paixão e prazer.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 21/11/2021
Código do texto: T7390987
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