Nos braços de Morfeu

Deitada ao lado de Eugênio que ressonava baixinho, Milena não conseguia dormir. Ligou o abajur e o virou para si, num nível mínimo de claridade, só para ter a capacidade de ler o seu Quintana que morava na sua mesinha de cabeceira, enquanto esperava o sono. Ela gostava de viajar em seus dizeres, colhendo os prazeres da boa leitura para relaxar. De vez em quando, parava a leitura, e observava o rosto másculo do seu homem. Às vezes escapava-lhe um risinho maroto, no canto dos seus lábios entreabertos (“que lindo é o meu garoto!”, pensou)), e se segurava para não o beijar.

A luz era pouca , mas dava para perceber a atividade dos olhos dele (REM) que se moviam bastante, e ela ficou imaginando com o quê, ou com quem ele estaria sonhando... daí pensou que ele não ligara para ela o dia inteiro, e que lhe dissera que o trabalho tinha sido intenso. Volta e meia pensava bobagens e sentia uma pontinha de ciúmes, mas quem não tem, mesmo de leve?

De repente o cenho dele se franziu, o sorriso sumiu, e chegou a ouvir até um soluço, numa expressão clara de dor ou dissabor. Ele começou a demonstrar um sono agitado, movendo-se para um lado, depois para o outro, tremendo. Não queria acordá-lo, mas não pôde evitar... alguma coisa não estava bem. Abraçou-o, colocou sua cabeça junto ao seu peito, e disse em seu ouvido: “Calma, querido... você está tendo um pesadelo!” e com todo desvelo, afagando-lhe o cabelo, começou a balançá-lo, como se faz para ninar. Ele acordou assustado, e abraçou-a tão forte, que quase lhe tirou o ar. Disse: “Não vá embora, por favor... não me deixe, meu amor!” e ela respondeu: ”Calma, meu bem, eu estou aqui, não vou fugir... não vou a lugar nenhum sem você!”, e beijou-lhe os olhos úmidos, orvalhados... ele tinha chorado, e seu coração batia descompassado. Eugênio sentou-se e lhe explicou: “era um dia lindo de sol, nós estávamos abraçados, passeando num parque florido, os passarinhos cantando... eu estava te beijando, mas, de repente, o céu foi se transformando, e tudo escureceu... tudo virou um breu, e você, simplesmente, desapareceu da minha vida. Fiquei só, vazio, senti tanto frio, tanto medo...” Depois olhou-a, abraçou-a, beijando-a e dizendo: “Que bom que nada daquilo aconteceu... que estamos aqui juntinhos, você e eu. Não some não, por favor!” E com suas mãos habilidosas, e sua boca sábia, percorreu-lhe todo o corpo, e amaram-se feito loucos, como se o tempo fosse pouco, e tivessem que aproveitar cada segundo para se amarem.

E foi assim que o pobre Quintana foi parar no chão... depois de toda aquela ebulição, daquele sexo apaixonado e selvagem, o sono os levou em sua carruagem... Milena e Eugênio, abraçados, caíram nos braços de Morfeu...

Ouvindo Aerosmith - I Don't Want To Miss A Thing (Legendado)

https://youtu.be/f_jbPirdnyg