Cega de Paixão: Um Erro Fatal

Cheguei naquela indústria química para chefiar uma equipe de pesquisas. Eu tinha experiência nesta área e uma excelente formação acadêmica e pós acadêmica tendo chegado ao pós doutorado com distinção. Sendo uma mulher firme e determinada, sempre chegava aonde queria. E ali estava eu para ocupar o cargo dos meus sonhos.

Eu tinha na época trinta e poucos anos. Era solteira e sozinha. Sempre coloquei meus estudos e vida profissional na frente de tudo e nunca encontrava tempo pra me divertir ou namorar.

Logo que cheguei, fui recebida com um coffee break. Um rapaz lindo e simpático me ofereceu um lindo buquê de flores que me deixou emocionada. Ele me ofereceu também seu melhor sorriso e meu coração disparou. Nem eu esperava por esta reação. Logo eu me controlei e voltei a ser dona da situação.

Nos próximos dias tive que rever tudo e impor o meu ritmo de trabalho. Tentei fazer tudo da maneira mais agradável possível e logo tudo estava nos trilhos e todos trabalhando satisfeitos.

Aquele lindo rapaz, que era um estagiário, era sempre muito solícito e estava sempre disponível para o que fosse preciso. Estava sempre com um sorriso e um gentileza pra mim.

O tempo foi passando e eu fui me encantando com aquele estagiário. Trocávamos olhares e sorrisos. Eu sabia que não estava certo, mas eu não conseguia me controlar.

Ele estava terminando o estágio, logo logo ia se formar e estava pleiteando uma vaga como funcionário. E cada vez mais ele se disponibilizava para tudo que precisasse. Era, na realidade, um bom profissional e sempre fazia muito mais do que competia a um estagiário. Lógico que, no que dependesse de mim, seria efetivado.

Num fim de tarde os colegas me chamaram para um happy hour. Eu sabia que ele iria e não hesitei em ir.

Conversamos muito e acabamos esticando a noite. A química era intensa entre nós e acabamos nos entregando a uma louca paixão.

Mais tarde em casa bateu o arrependimento, apesar da noite maravilhosa que vivemos.

No dia seguinte eu estava super constrangida e mal conseguia olhar para ele.

Ele chegou na minha sala com a desculpa de resolver um problema e me disse que amou ficar comigo e que queria repetir a noite e me convidou para jantar.

Começamos a sair juntos e eu me entreguei completamente a este amor. Ele era bem mais novo que eu, mas demonstrava maturidade e era muito atenciosos e carinhoso comigo.

Todos perceberam o que estava rolando. Alguns colegas tentaram me alertar que eu estava sendo pouco ética ao me envolver com um estagiário que estava pleiteando uma vaga no quadro efetivo da empresa.

Mas eu estava cega de paixão e não conseguia raciocinar com lógica. Não conseguia me reconhecer. Logo eu, uma mulher sempre racional e sensata que nunca se entregou a um amor. Ele era sempre carinhoso, atencioso e demonstrava e declarava muito amor.

E ele começou a me manipular. Fazia intrigas e inventava mentiras dos colegas e eu, completamente dominada, me deixava levar.

Muitas vezes os colegas sérios e sensatos tentaram me fazer ver que eu estava sendo dominada por ele e cometendo injustiças com bons profissionais.

Eu achava que eram eles que estavam tentando nos atrapalhar e prejudicá-lo.

Como uma tola apaixonada eu só dava ouvidos a ele. Comecei a perder a simpatia e o respeito dos meus funcionários e colegas e muitas vezes fui injusta com eles.

Logo que ele se formou eu o efetivei e como uma chefe pouco ética eu o beneficiei, preterindo ótimos e mais antigos funcionários.

Muitos tentaram me alertar, mas eu não queria ouvir nada. Ele me dominava completamente.

Eu transmitia a ele todo o meu conhecimento, toda a prática e experiência em pesquisas e em trabalhos científicos na área. Ele começou a trilhar meu caminho e se especializar. Eu o ajudei, inclusive financeiramente, para que ele se tornasse um doutor. Além de facilitar as coisas pra que ele pudesse se ausentar para seus cursos. Fiz muitos trabalhos para ele, estudava com ele. Eu vivia como se o mundo se resumisse a nós dois.

Eu procurava cativar os outros funcionários, procurava mostrar a eles que eu não o estava beneficiando. Muitos até sentiam pena de mim pelo que eu estava fazendo e procuravam me apoiar e me aconselhar para que eu voltasse a realidade.

Ele no entanto sabia me dominar e eu não acreditava que ele pudesse me prejudicar. Acreditava na sinceridade do amor dele. Como o meu amor era sincero.

Depois de mais de quatro anos, eu me sentia feliz e ele estava formado.

Continuávamos nossa vida. Eu me sentia feliz e realizada profissionalmente e no amor.

Um dia um colega me chamou pra conversar e me alertou que ele estava tentando puxar meu tapete. Eu não acreditei e o confrontei. Ele, lógico, negou e ainda me jogou contra o colega.

Eu continuava cega e não acreditava em ninguém. Só acreditava e confiava nele.

E ele puxou meu tapete. Fez intrigas e inventou mentiras, sabotou meu trabalho e eu acabei perdendo meu cargo. E quem ficou em meu lugar? Ele, o meu amor. Eu ainda tentei me enganar dizendo pra mim mesma que não foi por culpa dele que eu fui sumariamente demitida.

Ele conseguiu o que queria. Ele estava pronto pra assumir aquele cargo. Ele aprendeu tudo comigo. Ingenuamente eu ensinei tudo a ele. Transmiti a ele todo o meu conhecimento e experiência.

Conseguido o que queria, ele passou a me ignorar, não me atendia, não falava comigo.

Fui até a casa dele e ele não me recebeu. Eu me humilhei, eu me arrastei aos seus pés.

Depois de muitos dias eu comecei a cair na real. Comecei a perceber que fui cruelmente usada por aquele sujeito sem caráter, sem moral, sem escrúpulos.

Eu fiquei sem chão, fiquei sem rumo. Não sabia o que doía mais, a traição covarde dele ou aquele amor infinito que eu sentia. Não sabia o que me envergonhava mais, ser traída ou continuar amando aquele homem.

Eu me isolei por algum tempo. Fiquei deprimida e com pena de mim mesma.

Aos poucos eu fui me refazendo. Recomecei a vida procurando cada um daqueles que tentaram me alertar e pedindo desculpas por não tê-los levado a sério. Soube que foram perseguidos por ele. Alguns tinham sido demitidos também.

Soube também que sem a minha presença e a minha ajuda ele não estava se saindo tão bem. Ele queria o meu cargo, mas não tinha talento o suficiente para ocupá-lo. Isto não me deu nenhuma satisfação. Nunca fui uma pessoa vingativa.

Comecei a procurar um outro emprego. Com o meu currículo não foi difícil. Montei minha equipe. Chamei os colegas que foram perseguidos por ele e juntos iríamos brilhar nesta nova empresa.

Fico pensando como eu me enganei tanto com ele. Como eu pude ficar tão cega. Como eu pude me entregar de maneira tão infantil.

Eu, uma mulher tão forte e determinada, tão competente e bem sucedida, tão firme e decidida, sucumbi. Caí diante do amor, fui cruelmente enganada, fui traída e ludibriada de forma covarde.

Eu sabia tudo de química, de pesquisas, eu tinha um cargo que me conferia poder de decisão e gerenciamento. Mas não sabia nada de amor, de relacionamento. E fui usada por uma pessoa inescrupulosa que viu em mim apenas uma escada para galgar cargos em sua carreira.

Sei que agora preciso juntar meus pedaços e me refazer como mulher, buscar forças e recuperar minha autoestima. Curar meu coração ferido e minha alma destroçada. Mas como mulher forte e racional que sou, eu vou conseguir. Pode demorar pra que eu consiga confiar em um homem. Mas eu vou conseguir. E sei que um dia vou encontrar um homem que mereça o meu amor e minha confiança.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 02/11/2021
Código do texto: T7376987
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