Cinquenta Anos
- Não te agradaram as rosas que dei em nosso primeiro mês de namoro? Os anos que passamos juntos, nossos filhos agora crescidos, nossa festa de casamento a qual eu lutei para que ficasse perfeita, como você, não te fizeram indefinidamente feliz? Diga meu amor, se em todas as horas que passamos sob o céu, nomeando estrelas, entre brincadeiras e beijos ardentes, não te fui o melhor dos melhores amigos? Não te amei com todas as forças do meu ser?
O senhor suspira, olha para cima enquanto as lágrimas rolam sem controle, a voz embargada, o olhar em um misto de desespero e mágoa:
- Se te fiz bem, se te fiz feliz... Me diga que é tudo mentira, levanta desta maca e me mostra que esse gelado do teu corpo é apenas friagem e que vais voltar para nossa casa, para nossos filhos? Não me abandone agora, minha velha, eu não vou suportar continuar sem você...
A enfermeira, com a voz culpada, o interrompe:
- Senhor, o senhor precisa ir. A partir daqui seus filhos assumem. O corpo da sua esposa irá para a funerária, ainda esta noite. Lá o senhor poderá se despedir com mais calma.
O homem sai, tentando demonstrar força, mas desabando no ombro da filha mais nova que o esperava na porta.
Cinquenta anos de muito amor e respeito, encerrados pela morte.
No mês seguinte, a família entende o suicídio.
Ninguém questiona.
Foi a dor... e a esperança de um reencontro.