Eterno amor

Eterno amor

Ele olhou para o desodorante. Em seu coração sentiu que era o fim de sua relação. Mas não! O amor criado no dia a dia, no deslize suave da bolota em seu sovaco cabeludo era tão intenso, que sua vida já não faria mais sentido algum sem ele. Teve que tomar uma decisão, afinal sua esposa o obrigava:

-Está vazio! Compre outro e jogue esse fora!

Ele recusou. O que deixou enciumada a mulher a quem jurará amor eterno. Então ela lhe disse:

-Ou joga fora ou vou pra casa de minha mãe!

Cruel destino em que estava, parado na encruzilhada, entre a cruz e a espada. Seria o amor que sentia pela mãe de seus filhos, mulher a quem jurou amor eterno mais forte do que uma paixão louca e derradeira pelo intimo objeto de consumo?

Estava confuso. Por dias não conseguira tomar uma decisão. Até que chegou em casa e viu as malas de sua amada pronta. Quando ela tocou a maçaneta com suas lindas e delicadas unhas aprumadas ele gritou:

-Espere! Não vá. Eu jogo fora.

Caminhou cabisbaixo até a lata de lixo, com o desodorante amado na mão, abriu a lata e quando o ia soltar , começou a chorar.

O desespero tomou conta de sua alma, tudo não fazia mais sentido algum. Mas era necessário.

Foi quando , para preservar a sua paixão teve uma ideia que trouxe luz a toda sua alma.

Foi assim que, a noite, a luz de velas, se aproximou da cama onde estava sua esposa amada o esperando e mostrou algo a ela que trouxe a fúria da mulher apaixonada.

-olhe, achei uma bolinha de ping pong...

A televisão foi quebrada, a cortina arrancada, vasos de flores se destruíam ao seu redor, resultado do furacão louco em que se transformará sua amada.

Hoje está enfaixado, numa UPA da zona sul, lamentando o passado enquanto gira em seus dedos a recordação de uma grande paixão.