A vingança das frutas, parte 2
O ano era dois mil e alguma coisa. Não havia pandemias, não havia tristeza, apenas a felicidade de uma família reunida aproveitando a calmaria do parque no centro calmo daquela cidade.
Senhor Pêssego ria de seu filho mais velho que acabara de cair um belo tombo perto do escorregador do playground, logo recebendo um tapa de sua esposa.
Falando nela, estavam comemorando cinco anos de casados. O que seria melhor senão comemorar essa data tão importante junto com a família completa? Ainda mais no pequeno feriado da semana das crianças.
Para ele, a única coisa que realmente importava era o sorriso nos rostos de sua família. Era como se todas as coisas ruins do mundo fossem embora de uma só vez.
Pensava seriamente em se mudar para uma casinha tranquila numa praia no meio do nada, mas seu salário de professor não era suficiente para tal. Poderia, então, apenas viver em seu apartamento confortável em Vitória, sem o estresse da vida adulta real.
Era incontável o tempo que passava se divertindo com os filhos, como se tivesse a mesma idade deles. Sempre pregando peças em sua esposa juntos; roubando doces no meio da noite; vendo desenhos. Aquilo sim era a verdadeira diversão para ele.
Gostaria de dizer que aqueles foram os melhores cinco anos de sua vida, mentiria drasticamente. Os melhores anos com certeza começaram quando conheceu Laranja.
Uma pequena laranjinha toda delicada e forte ao mesmo tempo. Estava linda quando se conheceram. Deslumbrante quando disse "sim". E simplesmente perfeita no vestido branco, entrando na igreja.
Chora apenas por lembrar desses dias.
Não que o sentimento tenha mudado, chorava de felicidade por saber que conseguiu chegar até ali. Ria de si mesmo quando se flagrava perdido nos olhos dela, sorria bobo com cada mínimo detalhe presente no corpo bem desenhado.
Voltando ao presente, passaram a tarde inteira se divertindo na praça verde cheia de árvores grandes. Na hora do jantar, nada melhor do que levar sua amada para o restaurante favorito dos dois, onde acontecera o pedido de namoro.
Não era lá um lugar vinte estrelas, mas era, com certeza, o melhor do mundo, afinal, o que importa são as lembranças.
A única coisa que passava pela sua cabeça naquele momento era a sorte que tinha por ter achado uma mulher tão perfeita que concordou em dividir sua vida com ele, um serzinho besta e brincalhão.
Ela comentava sobre o trabalho, revezando sobre o ambiente e a comida que comiam. Mesmo assim, era a criatura mais linda que já pisou nesta Terra, pelo menos era assim que Senhor Pêssego pensava.
Como seus filhos não estariam os esperando naquela noite, resolveram andar pela cidade da mesma forma que faziam quando eram adolescentes estranhos para o mundo.
Seguiram sem rumo por, no mínimo, duas horas. Conversaram, riram, fizeram juras. Naquele momento, eles tinham dezessete outra vez.
Chegaram em casa e estranharam uma encomenda do correio esperando por eles perto da porta. Olhou rapidamente o remetente, rindo logo em seguida. Sentou-se lado a lado com sua esposa no sofá, abrindo o pacote.
De cara, viram um pequeno cartãozinho enfeitado, "Para Sr. Cara de Pêssego e sua linda e legal esposa, Laranjinha". Por baixo dele, havia uma livro de poesias e pequenos versos soltos, retratando histórias de amor tristes e felizes.
Um belo presente de aniversário de casamento, eles diriam. Começou com uma simples história da pequena Ameixa e terminou com um livro completo feito apenas para eles.
E assim ele terminou o dia, sendo feliz e estando com a pessoa que mais amava no mundo. Nada estragaria aquilo, nem mesmo o fim do universo.
Para meu querido professor Fernando e sua recém-esposa. No final, foi o senhor quem ganhou a guerra.