Ao Lado
Um dia cansamo-nos. O que foi que em ti me arrastou para esta viagem com fim à vista? Onde estão os olhos intensos, a boca desejada, a pele perfumada, o espanto que foste em pequenos nadas que apareciam, brilhando na intimidade? Olho-te e vejo-me alheio, distante, sem chama. Vejo-me assim nos teus olhos agora baços, no trejeito depreciativo dos lábios, nos diálogos ácidos. Acompanhei-te, mas soube sempre que nunca seria para sempre, disseste. Passou-me o interesse, arrefeci, deixei de sentir emoção no mínimo que dizias, fazias, mostravas. Agora acho-te vulgar, acomodado, um caminho andado. Hoje, continuaste, procuro o deus anterior e acho um homem maduro, um guerreiro em paz, um deserto. Quero arder e já não me ateias, quero descobrir e já te sei inteiro. Deste-me tudo, quiseste tudo, eu era o teu destino final. Enganamo-nos. Ambos pretendemos o que nenhum de nós já pode dar. Fico contigo, ficarás comigo, seremos ambos a cinza de um fogo apagado.