ANTONIETA
Antonieta era uma moça simples, recém chegada do interior, tinha uma beleza fenomenal que era encoberta pela sua aparência pobre, era uma criatura mal vestida e de gestos esquisitos, mas seu olhar era penetrante e foi nele que me identifiquei com essa matuta que mal sabia falar, pois não freqüentava nenhuma escola apesar dos seus dezoito anos, momento em que se emancipou do seu lar cujos pais a dominavam com muito poder, a moça nem podia respirar direito. Foi parar na casa de uma tia segunda que nem conhecia pessoalmente, só por ouvir falar. Descobriu seu paradeiro e conseguiu a ela chegar onde foi bem recebida. Quando chegou foi logo acolhida, tomou um bom banho, ganhou roupas novas e mudou sua fisionomia.
Eu a vi logo que chegou na casa de d. Quitéria, minha vizinha e comadre de minha mãe. Como disse antes, era uma moça simples, notei seu semblante triste, carregava uma angústia conforme me disse depois. Seu olhar me cativou, percebi através dele que algo de bom tinha nela e constatei dias depois. Quando trocou suas vestes, se produziu e mostrou o outro lado, o encanto surgiu, aquela moça tornou-se totalmente outra, aquela menina mal vestida não mais existia e a minha intenção de curiosidade passou a ser de interesse pessoal. Eu a desejei para mim e procurei fazer isso o quanto antes evitando que ela caísse em outras garras senão as minhas.
Passei a freqüentar a casa de d. Quitéria com mais freqüência, qualquer motivo era suficiente para poder ver Antonieta, agora uma moça linda e com planos de estudar. Lhe foi indicada uma escola que ficava nas redondezas e por coincidência era a mesma onde eu estudava, para mim foi uma maravilha, passamos a ir juntos para a escola onde se tornou muito admirada e cortejada, eu era uma espécie de "anjo da guarda" dela, que até aí não sabia das minhas reais intenções.
Com o passar dos dias eu não consegui me controlar e peguei na sua mão durante o trajeto tanto na ida quanto na volta da escola. Ela aceitou numa boa e eu achei que ela era ainda um pouco bobinha. Quando nos aproximávamos da escola ou da casa de d. Quitéria soltava sua mão. Uma certa tarde, na volta da escola, paramos no caminho, num trecho deserto. Olhei fixamente para Antonieta, me concentrei naquele olhar e tive o ímpeto de beijá-la, mas faltava coragem. Em certo momento ela fechou os olhos como um convite a ser beijada, parecia que advinhava o meu pensamento. Não tive dúvidas, tasquei um beijo em Antonieta e nos abraçamos com gosto. Foi um final de tarde maravilhoso e que se repetiu por um bom tempo até d. Quitéria ter a certeza (porque ela já desconfiava) do nosso relacionamento amoroso.
Ela agora já tinha seus vinte anos e eu vinte e cinco, namoramos por mais alguns anos e deixamos o tempo passar e olhem que foram muitos anos, até noivarmos e casarmos. Hoje ela é minha esposa e temos uma filhinha que se chama Cacilda, já com cinco anos.