PerfeBleu - Amor à Primeira Vista

Quanto tempo é necessário para se apaixonar? Quanto tempo se leva para começar a gostar de alguém? A psicologia afirma que 240 segundos bastam para que as reações químicas envolvendo a serotonina e a adenina, façam com que indivíduo entre nesse estado de "paixão".

Alguns especialistas vão ainda mais longe ao afirmar que se apaixonar provoca as mesmas reações químicas no cérebro, de necessidade e recompensa, que provocam as drogas.

Para William bastou apenas 15 segundos.

Ele olhava petrificado aquela novata entrar pela sala procurando algum lugar para sentar. Atrás dela havia um homem robusto e velho, e toda a sala (Incluindo o professor Rodrigo) se silenciaram quando o viram:

- Rodrigo, essa é a Alessandra. - Explicou Leôncio em direção ao professor de história. Em seguida olhou para os alunos e adicionou. - Turma essa é sua nova colega, foi transferida hoje. Quem puder, passe o caderno para ela acompanhar as matérias. - Completou Leôncio, o diretor da escola, com sua voz trovoante. Depois, ele acenou com as mãos um tchau simpático e se retirou deixando atrás de si apenas o silêncio de toda a turma.

Evitando contato visual com a turma, Alessandra prosseguiu em direção a uma mesa vazia no canto da sala, bem perto do quadro. Talvez tenha sido coincidência ou alguma outra coisa que transcenda a explicação. Alguns até poderiam dizer que era ligeira falta de acaso, ou força quântica de atração do pensamento. Porém, Alessandra se sentou na mesa bem de frente a William. E num movimento que não superou os milésimos de segundos, seus olhares se cruzaram no que parecia ser um choque de entidades cósmicas.

A percepção de William do tempo se contraiu de tal forma, que conseguira ver em detalhes sórdidos inúmeras nuances daquele momento. A aparência de Alessandra, a forma como seu cabelo preto e volumoso cobria boa parte de seu rosto, seus óculos de armação preta que cobriam olhos castanhos e ligeiros, a forma como ela dispôs sua postura sobre a cadeira. E até mesmo, foi capaz de perceber características não observáveis, como por exemplo, o estado de espírito de Alessandra naquele exato momento, como estava se sentindo e até mesmo, partes da sua personalidade que apenas anos de convivência poderiam fornecer.

" Caucasiana, irlandesa, 1,72 de altura, ectomorfa e calça 37." - Pensou involuntariamente William instantes depois que descruzaram olhares, e embora estivesse ainda como que anestesiado pela intensidade do que estava acontecendo, reagiu de forma bastante clara quando Rodrigo levantou sua voz em meio ao silêncio contemplativo de sua sala:

— E então, qual é seu nome mesmo? — Toda a sala olhou em direção ao professor, e Alessandra pega um tanto como que de surpresa, respondeu após se organizar em sua mesa:

— Me-Meu nome é Alessandra, eu fui transferida do IENE.

— IENE? É uma das melhores escolas da nossa cidade. Eu já dei aula de história lá quando você ainda nem era nascida. Quantos anos você tem, novata? — Questionou Rodrigo novamente insistindo em usar a palavra novata em vez do nome dela. Alessandra dessa vez preparou mais sua voz, e respondeu de forma mais nítida.

— Eu tenho 16 anos.

— 16?

— Sim, é que eu nasci no meio do ano. Por isso entrei adiantada na escola. — Respondeu Alessandra se justificando.

Rodrigo nota que Alessandra está um tanto tímida e termina o assunto com um silencioso "Ah" enquanto voltava ao quadro negro para escrever a matéria. De forma esperta, Alessandra pendurou sua mochila atrás de sua cadeira, e se virou para poder pegar um caderno. Nesse movimento, ela virou seu rosto novamente em direção a William. Porém dessa vez, ele em automática reação desviou o olhar para evitar contato visual com Alessandra.

Essa reação automática específica dos olhos, William só tinha quando olhava diretamente à alguém que gosta. Era uma espécie de movimento natural que refletia sentimentos conflitantes dentro de si, e ao mesmo tempo, uma declaração de paixão implícita e totalmente inconsciente.

Aquela manhã de março estava marcada para ser uma loucura. Pouco tempo após esses eventos. A sala é surpreendida ainda na aula do Rodrigo, com a chegada de dois policiais.

— O que houve? — Perguntou Rodrigo confuso.

O policial mais robusto pegou uma menina pelo pulso e a colocou dentro da sala.

— É a segunda vez essa semana, na próxima vamos levar ela para a delegacia, professor. Desculpas a intromissão, tenha uma boa aula.