MOVIMENTOS NOTURNOS

Enquanto contemplo o oceano de estrelas acima de mim, com o som do meu carro tocando “Night Moves” estrondosamente, estacionado na vaga de um posto de combustível decrépito na estrada, fico rememorando o quão incrível foi esta noite.

Primeiramente, eu não pretendia sair de casa. Porém, ouvi a voz do Universo e quase compulsoriamente vesti meu jeans surrado, minha camisa da banda AC/DC e decidi me aventurar pelas ruas de Los Angeles. E como pulsa vivamente esse mostro de concreto, com seus cassinos, bares, clubes e tudo que uma cidade que “nunca dorme” pode oferecer.

Circulei aproximadamente uma hora até que avistei um bar que me agradasse, ou talvez fosse o Universo me compelindo a aceitar sua vontade. Entrei no estabelecimento e pedi uma cerveja; no palco uma banda tocava canções agitadas, alguns aventureiros se arriscavam na pista de dança. Essa noite tudo parecia mágico, eu estava perdido no mar de pessoas, sendo apenas um bêbado na noite, guiado por forças das quais eu não era capaz de compreender. Mas lá estava eu, em um bar, às nove horas da noite, com uma cerveja na mão.

De repente, então, compreendi o porquê de eu estar ali. Dançando naquela pista, meus olhos se depararam com uma moça, e que mulher ela era. Cabelos castanhos ondulados como as ondas arrebentando na praia, pele clara como o amanhecer dando boas-vindas.

Ela dançava sozinha, mas dançava com tanta graça e vontade que me fez querer fazer minha carcaça balançar a noite inteira.

— Mais uma cerveja, por favor! — pedi ao barman.

Fui até onde aquela mulher estava e ofereci uma cerveja a ela.

— Tome, vai te dar mais energia. — Falei.

— Obrigada! — ela pegou a cerveja e continuou a dançar. Sorveu um gole e me disse: — Você dança?

— Nunca fui bom dançarino.

— Ótimo! Faremos um bom par.

Conversamos sobre muitas coisas, mas devo salientar que dancei como nunca. No geral, sou uma pessoa tímida, contudo, esta noite, toda a timidez se perdeu. Eu era desengonçado, até cheguei a pisar no pé dela de leve em alguns momentos; mesmo assim continuamos a nos mexer, no ritmo da canção, das batidas aceleradas dos nossos corações. Nunca, em toda a minha vida, me senti tão dono de mim.

Quando aproximava das duas horas da madrugada, ela me disse que teria que ir; beijou meu rosto, piscou e saiu pela porta do bar.

Bebi mais uma cerveja e sai do local. Não voltei para casa, eu estava aceso demais, não conseguiria me deitar e dormir.

Dirigi meu carro pela rodovia e estacionei no posto de combustível que mencionei no começo desse relato.

Enquanto vejo esse deslumbrante céu noturno, faço uma prece ao Universo:

— Faça-me vê-la outra vez. Que garota, meu Deus, que garota!