O vasto céu sobre a amplidão do mar

As nuvens cinzentas encobriam por completo o céu escondido. Havia pouca luminosidade na praia sem gente, e as folhagens das palmeiras balouçavam como um pobre guarda-chuva entortado pelas ondas de vento constantes. O vai e vem das águas do mar avançava a olhos vistos sobre a areia clara.

Em ocasiões mais favoráveis, de dias ensolarados nos quais é impossível estar triste por muito tempo sem que o clima aprazível o contagie em sua disposição de ânimo, a orla daquela praia estaria povoada por um multidão numerosa: meninos brincando alegremente de bola; peles nuas femininas expostas ao bronzeado; comerciantes ambulantes fazendo dinheiro; cervejas geladas ingeridas vorazmente com espetinhos de carne malpassada; guarda-sóis multicoloridos e banhos de mar; e castelos de areia sonhadores, transitórios e lúdicos como mandalas tibetanas feitas também da mesma matéria-prima, pelas mãos ávidas de crianças de mente búdica.

À beira-mar, ladeado pelas palmeiras-imperiais, as quais, como arranha-céus envidraçados, rasgam a vista do amplo horizonte que se estende pela vastidão do oceano, um homem errava solitário, a passos cambaleantes, devido a rajada de vento que o desorientava. Quem o visse assim não demonstraria senão um dar de ombros, como se fosse um bêbado qualquer. Todavia, era de amargura na alma que estava intoxicado. Seu nome era Antônio, trajava um terno em tom terroso, amarrotado, e no todo, de aspecto maltrapilho. Numa mão carregava os sapatos mais as meias, e na outra tinha uma garrafa meio cheia de vinho, a sua companheira inseparável, a quem dava goladas generosas de tempos em tempos. As palmas dos pés descalços pisavam na areia fofa. Na cara a barba por fazer, e os olhos eram vítreos e úmidos. As mechas de cabelo crespo eram revoltas como o mar encapelado.

A marcha silenciosa de Antônio contornava a areia com suas pegadas, os vestígios de sua presença efêmera, e, consigo, carregava soluços da alma que entalavam na garganta.