Velório, máscaras, lembranças e lágrimas

Quando soube, o primeiro pensamento era não se fazer presente. Não era hora de aglomerações, cumprimentos. O vírus... Ah, maldito vírus. Oito horas depois alguém lhe avisou que Jivago, o irmão mais novo da falecida, viria para o velório. Chegaria por volta da meia-noite.

- Ótimo! A essa hora são poucos os presentes. Por que não? A noite será de clima bom, lua cheia. Se está casado? Não vou lhe arrancar pedaços... Porém, se pudesse levaria seus olhos verdes e os colocaria num recipiente com formol e deixaria no console ao lado de minha cama. Dr. Jivago! Doutor em consertos de máquinas pesadas. Meu coração ainda está despedaçado... Como reconhecê-lo com ele de máscara? Pelos olhos, claro. Qual máscara usar? Essa com corações daria na cara. Preta! Propícia ao momento. Tirarei minha máscara, vou mostrar meu melhor sorriso e perguntar: Está lembrado de mim? Sou... Ah, vai bem um gole de vinho para perder a timidez. YouTube me ajude! Quero ouvir Diana “Ó meu amado, por que brigamos?”. Nunca brigamos! Mudei de colégio, logo ele foi servir ao Exército e após a baixa, mudou de cidade. Deus! Em que ano foi isso? Vinho, me ajude! 12 de outubro, dia da criança... da santa...? Seu aniversário! Como esquecer? Achei essa no YouTube: “Esquecer difícil di mais (...) Se amou um pouquinho”. Tens razão Moacir Franco. E aquela que cantou ao meu ouvido na noite do primeiro beijo “Eu ti darei o céu meu bem...”. O céu foi testemunha.

Acordou por volta das 10 horas da manhã seguinte e ficou surpresa ao ver a garrafa de vinho vazia. Em sua mão direita a máscara decorada com corações era de um vermelho vivo. E chorou.