Agnes e sua mãe
- Onde vamos? - Indagou Agnes curiosa, quando Parnell lhe disse que pusesse sua capa de lã com capuz e a seguisse.
- Você não quer um bicho de estimação? A minha amiga Grissell tem uma gata e ela deu cria - informou Parnell, enquanto colocava seu velho chapéu preto pontudo na cabeça.
- Então... vou mesmo poder ter um gato? - Indagou Agnes cautelosamente.
- Já disse que sim. Pensou que eu estava mentindo? - Questionou Parnell, expressão severa.
Agnes baixou a cabeça, envergonhada.
- Desculpe... desculpe... é que já passou um tempo, achei que tinha mudado de ideia.
- Não, não mudei. Estava só esperando que os filhotes da gata de Grissell estivessem desmamados; a hora é agora.
Saíram da choupana onde residiam, junto da floresta, e Parnell cruzou uma vassoura à frente da porta, indicando que não estava em casa. Ninguém se atreveria a entrar, vendo o sinal, e, de qualquer forma, pouco havia lá dentro que pudesse interessar a um ladrão, exceto talvez tachos e utensílios de cobre que a velha bruxa fazia Agnes lustrar até que estivessem brilhantes. Tomando o caminho que levava ao vilarejo, a mãe adotiva olhou para a filha e comentou, em tom pensativo:
- Todavia, são todos rajados; não há nenhum preto.
- Tem algum problema nisso? - Perguntou Agnes curiosa.
- Não, exceto se você quiser ser uma bruxa como eu - revelou Parnell. - Aí, vai precisar de um gato preto.
Agnes ainda não decidira se queria seguir a profissão de Parnell, embora devesse admitir que parecia ser fascinante. Principalmente, poder voar, que era algo que Parnell não a convidava a fazer quando saíam juntas.
- Desculpe, mas essa é uma atividade de bruxas e de aprendizes de bruxas - advertia Parnell.
- Não posso nem mesmo experimentar, para ver se gosto? - Provocou-a Agnes.
- Vai ter que fazer melhor do que isso - replicou Parnell com um muxoxo, dando o assunto por encerrado.
E assim, foram caminhando pela estradinha de terra sombreada por árvores em ambos os lados, até que avistaram as primeiras casas do vilarejo. Algumas crianças maltrapilhas e descalças brincavam entre as casas de madeira, e Agnes reconheceu a si mesma, alguns anos antes. Agora, ao menos vestia roupas sem remendos e calçava tamancos de madeira. As crianças pararam de brincar e olharam para a dupla que se aproximava, com um misto de curiosidade e receio.
- A bruxa pegou aquela garota! - Exclamou uma das meninas, apontando para Agnes. - Minha mãe disse que ela é filha de Dorithie Notfelde!
Agnes apertou a mão de Parnell e encarou a outra criança com ar desafiador:
- Essa é a minha mãe... Parnell Langstone!
Parnell balançou a cabeça, em aprovação.
- Vocês ouviram Agnes Langstone. E quem quer ser irmã dela? Ainda tenho espaço lá em casa!
As crianças fugiram imediatamente e mãe e filha trocaram um sorriso cúmplice.
Não, não era assim tão ruim ser filha de uma bruxa, pensou Agnes.
- [29-08-2021]