ALICE A MENINA DA CADEITA DE RODAS
FATOS REAIS:
ALICE:
A MENINA DA CADEIRA DE ROODAS
O ano era 1974, a pouco uma menina havia se mudado para minha rua.
No começo ficamos sem jeito de se aproximar, porém com o tempo fomos pegando intimidade com ela, e logo estávamos quase todos os meninos em seu portão.
No meu caso...eu já dormia pensando na manhã seguinte. Queria que o dia amanhecesse logo para eu poder vê-la.
Ela por sua vez parecia também gostar de ver todos ao seu redor. Não sei porque. Mas parecia que aquilo lhe fazia bem.
Ficamos ali por alguns dias conversando com essa linda menina.
E por incrível que pareça, ainda não sabíamos o seu nome.
Ninguém pensou em perguntar, ou talvez seja porque naqueles tempos as coisas eram diferentes. Tínhamos vergonha de quase tudo.
O respeito existia entre as pessoas. Vez ou outra que aparecia entre nós um ou outro amigo mais atrevido, e foi isso que aconteceu.
Meu amigo Cláudio, assim que se juntou a nós, também começou a cortejar a menina e sem perder tempo perguntou seu nome.
Alice: esse era o nome daquela bela menina de cabelos compridos e reluzentes, seus olhos castanhos claros vez ou outra mostrava um tom esverdeado.
Ela realmente era linda!
Por algum tempo todos nós fomos muito felizes.
Um dia ao me levantar, e ainda sonolento, como de costume olhei a rua para ver se Alice já se encontrava em sua varanda.
Todos os meus amigos já estavam na rua a sua espera, ao terminar meu café, me juntei a eles . Aguardamos por hora para ver o momento em que sua janela fosse aberta e todos pudessem receber dela um aceno.
Naquele dia não tivemos notícias. Semanas se passaram , a espera era angustiante.
Os meses se seguiram e ninguém sabia o que havia acontecido com ela. Pensamos tantas coisas!
O fato é que, nunca mais vimos sua janela se abrir, e por ela se revelar aquele rostinho tão lindo e meigo de Alice.
Hoje não me recordo quanto tempo se passou, mais sei que aquela linda menina reapareceu. Confesso que esse foi um dos dias mais tristes de minha vida.
Alice estava ali diante de todos nós, mais dessa vez sem aquele lindo sorriso no rosto.
Não havia mais brilho no seu olhar.
Alice já não era mais a mesma de antes.
Aquela linda menina, agora estava em uma cadeira de rodas.
Hoje vejo que tomamos a atitude mais errada de nossas vidas, mais o fato é que paramos de ir ao seu portão. Acho que não fizemos isso por suas condições, penso que foi por não querer constrange-la.
Éramos jovens crianças e não sabíamos como reagir diante daquela situação.
Acho que por isso nos afastamos dela.
Por um bom tempo Alice esteve visitando sua varanda e seus olhos seguiam os nossos passos ao passar diante de sua casa. Agora cada vez mais tristes. Não se via neles mais o brilho de antes.
Hoje estou aqui escrevendo essa história pensativo, como se tivesse me condenando e também aos meus amigos, que assim como fiz, eles também se afastaram de Alice. E o pior de tudo é que fizemos isso quando ela mais precisou da gente.
Termino esse texto pensando, como está Alice agora.
O que teria levado ela a ficar naquela condição, a que limitou os seus passos, e que tornou amarga sua vida.
Nunca tive coragem de lhe fazer essas perguntas. A não ser a única que ainda me faço até hoje. Por onde anda Alice?
Igor Rodrigues Santos