Fúria - (drama/suspense)

Sinopse: Renan esconde um segredo que Valentina nem pode imaginar. Após ele desaparecer no meio da noite, sem deixar pistas do seu paradeiro, finalmente depois de três meses de procura intensa na cidade do Rio de Janeiro, Valentina descobre que ele mudara-se para a cidade de São Paulo. Será que seu amor resistirá à dura prova do abandono?! Ou não?! E também: o que fez com que ele desaparecesse sem ao mínimo avisá-la?! Terá sido por outra mulher?! Descubra as respostas em “FÚRIA”; um conto repleto com tensões conjugais, mistérios de tirar o fôlego, e com revelações surpreendentemente sentimentais.

Fúria

Sem que Renan estivesse esperando, Valentina apareceu em seu apartamento como se fosse um furacão. Ela chegou como chegam às chuvas tempestivas sobre uma noite calma, ou como chegam ventanias frouxas que logo se encorpam e se transformam em grandes ventanias soltas.

De longe era possível ouvir os roncos do motor potente do Camaro adentrando a área do estacionamento do edifício; os pneus derrapando por cima do cascalho, as pastilhas do freio só parando de chiar quando enfim o estrondo emitido por um agressivo fechar de porta, denunciou a extrema fúria que o habitava.

O ambiente do condomínio — antes calmo e pacato — agora era molestado por um vozerio de resmungos somado com seus sequenciais passos descompassados, pisoteando com agressividade as escadas e o corredor, enquanto emitia negativas vibrações que substituíram os resquícios das últimas, ou seja, daquela emanação sonora do motor que se extinguira de vez por baixo do capô amarelo e robusto do seu automóvel.

Assim que Valentina chegou de frente a porta do apartamento de Renan, ela tacou o dedo na campainha, lutando contra o impulso de gritar pelo seu nome lá de onde estava. E, enquanto o aguardava, mantinha os olhos fechados, respirando e inspirando profundamente, com as unhas de porcelana subindo e descendo, também descendo e subindo, sequencialmente iniciando desde o dedo mindinho ao polegar, martelando sem parar o corrimão de metal às costas.

“Renan, você me paga!”.

Naquela manhã fatídica, Valentina vinha de longe. Para ser mais exato, ela vinha da cidade do Rio de Janeiro. Agora vou desvelar a estória, e a estória é assim...

...pois assim que Valentina descobriu por onde o namorado andava, ou melhor, para onde Renan tinha-se mudado sem ao mínimo ter avisá-la, a primeira coisa que ela fez foi burlar os compromissos do escritório com uma desculpa esfarrapada qualquer, pra voar porta afora. Sequer expressou remorso na mentira escrita no papel, jogado às pressas sobre a mesa da secretária.

Mas tão logo o automóvel adentrou o perímetro urbano da cidade de São Paulo, Valentina sentiu seu coração estremecer. E, suas emoções antes naufragadas de ódio de Renan, agora, — nos minutos que restavam até chegar a sua residência, — se vertiam em grossas lágrimas que a todo o instante lhe tiravam o foco do volante, dos outros carros e da estrada. No fundo do coração, bem que ela queria dizer...

“Que saudades de você, seu canalha!”.

...mas ela não conseguiu dizer assim. Apenas seus resmungos eram bufados enquanto ia passando marcha a marcha, o ronco do motor cada vez mais alinhado com uma raiva crescente.

Mas Valentina chegava exuberante, de maneira que ainda que estivesse falando sozinha, ou bufasse de raiva enquanto treinava — a todo custo — olhares amendoados pra oferecer a Renan, seus cabelos perfeitos perfaziam o mesmo penteado lindo de sempre, ou seja, todo amarrado para trás, sem um único fio de cabelo fora do lugar, acentuando ainda mais a sensualidade da jeans apertada, com o perfume embriagante envelopando curvas perfeitas que homem algum, em sã consciência ou não, jamais deixaria de reparar.

— O que você veio fazer aqui?! — Foi a primeira coisa que Renan vociferou ao vê-la diante da porta.

— Por que você sumiu sem me dizer nada?! — Ela disse, vacilando o corpo para trás, em parte sentindo-se acuada com a reação abrupta de Renan.

— Eu precisava de um tempo...

— De mim?! — Ela retorquiu — Só o que eu fiz foi te amar!

— Amar?! Não me venha com essa! — Renan disse — você não sabe mesmo o que é amar.

— Não diga isso, bebê...

— Não me chame de bebê! — ele retorquiu com indignação. E como alguns vizinhos aportaram no pátio, se dirigindo para pegar o elevador, Renan se conteve.

— Me desculpe Renan. — Valentina se arriscou — Pensei que gostava quando eu te chamava assim.

— Eu gostava sim de ouvir. Só que não nestas circunstâncias, né? Depois Renan deu voltas no olhar para ver se mais alguém estava à espreita — Estamos discutindo, esqueceu-se?!

Ao ouvi-lo dizer contradições deste tipo, o coração de Valentina se apaziguou. Pois havia percebido ali, certo princípio de reconciliação.

— É verdade, Renan, — ela tornou a falar, esforçando-se para esconder o sorriso que logo escapuliu pelo cantinho dos lábios — estávamos discutindo.

— Estávamos não, — Renan corrigiu — ainda estamos discutindo. Depois ele abriu um pouco a porta, destravando o pé do portal.

— Tem razão, ainda estamos brigando. Mas você há de concordar comigo que todo casal, quando de fato se amam, discutem de vez enquanto...

— De vez enquanto?! — zombou Renan — Quando estávamos juntos, brigávamos todos os dias. Não se lembra, não?!

— Por que está agindo assim?!

Renan revirou os olhos, resmungou algo que pareceu ser: “bipolar”, e calou-se em seguida.

Logo os sussurros da palavra “bipolar” reascenderam-se lembranças ruins, de forma que Valentina decidiu por se conter mais ao falar. Afinal, qualquer palavra mal dita estando fora do lugar, poderia quebrar qualquer clima de reconciliação entre os dois. Mas como ficou ansiosa ao revê-lo depois de tanto tempo, ela arriscou-se a se explicar:

— Nós brigamos porque nos amamos, Renan. Casal que não briga não deseja melhorar a relação, ou demonstra, pelo menos de certa forma, que já deixou de se importar com o que o outro diz ou faz.

Renan franziu o cenho ao ouvi-la dizer coisas tão sábias. Depois quebrou aquilo, com seu tom de sarcasmo — É sério que logo você está me ensinando este tipo de coisa?!

— Por que diz isso? Não acredita mais em mim? — Ela se defendeu. Mas logo em seguida, ela não aguentou e retribuiu seu tom de sarcasmo: “Ah, esqueci que foi você que me abandonou lá no Rio”.

— Eu a abandonei?!

— Sim! — ela deu de ombros — Quando alguém vai embora sem avisar, é abandono, Renan!

Ao ouvir isto, Renan fincou os olhos na imensidão além dos prédios ao redor, e depois sussurrou consigo, como se fosse um lamento:

“Foi exatamente isso que fiz com você, né? Eu te abandonei”.

Crendo que enfim seus argumentos enfraqueciam um Renan agora retraído ao falar, Valentina — com propósito único de nocauteá-lo de vez, e quem sabe, reatar o relacionamento logo de cara — continuou a trazer coisas até mais antigas, com intuito de não deixar mais espaços para que ele pudesse raciocinar direito.

— Você sumiu Renan. Não avisou aonde ia. Sequer me telefonou. Eu te procurei como doida, telefonei pra todo mundo que te conhecia e...

Renan continuou ouvindo aquele zum-zum-zum em total silêncio, mas com o pé travando o portal. De fato sua mente viajava outro lugar, por que o zunido que durou muitos minutos pelo menos, fez a psique de Renan, tipo adormecer.

Valentina bem que perguntou: “Está me ouvindo, Renan?”, mas não ouviu a resposta de volta, de forma que aquela atitude de Renan começava a lhe tirar do sério.

Foi só depois de ter perguntando pela terceira: “Está me ouvido Renan?!”, e também ter puxando sua camiseta, foi que Renan foi transportado de seu transe particular. Ele apenas sussurrou: “Eu necessitava de paz... Por isso vim embora pra São Paulo”.

— Como é que é, Renan?! — Exclamou Valentina. Mas antes que ela pudesse argumentar coisa de volta, Renan interviu de forma brusca.

— Eu não te amo mais. É isso!

Agora, toda aquela convicção que a princípio a inflaram para argumentar coisas antigas, num piscar de olhos, minguou-se de vez. Quando por fim ela digeriu o significado contido na junção das palavras que ouviu: “Eu não te amo mais”, o que restou em seu coração foi um misto de insegurança e medo, somando-se a um princípio de desespero.

Entretanto, Valentina se recompôs a seguir. E, para não perder o controle total da situação, — afinal viera de muito longe — ela mudou a estratégia de abordá-lo. Diante dele, alteou o olhar e endireitou a postura. Depois encostou seu corpo na pilastra às costas e, a bolsa Prada que tanto amava, deixou-a jogada ao chão, ora e outra molestada pelo palmilhar do seu salto alto.

— Qual era mesmo o nome que você gostava de me chamar, Renan? — Foi sexy a mordida que ela deu no cantinho dos lábios.

— Nome?

— Sim. Aquele nome...

— Não sei do que você está falando. — Ele desconversou. Mas a mudança brusca na postura corporal acabou denunciando seu interesse pelo assunto.

— Sabe sim. — Ela disse, como que o ajudando a recordar-se — Aquele nome que, sempre que a gente estava, bem, você sabe...

Nisso, Renan recordou-se como num lampejo de pensamento. Mas teve de se esforçar para demostrar desinteresse.

— Ah, por favor, não começa. — ele disse — O momento não é apropriado.

— Me desculpe Renan, — Ela disse. E em seguida, com os olhos amendoados, tornou a insistir pra que ele respondesse sua última pergunta — eu concordo com você. Sei que é uma pergunta inadequada para o momento como você mesmo diz, mas veja bem, é só uma perguntinha boba, né? Respondê-la não vai arrancar nenhum pedacinho de você, vai?

— O que está tramando, hein?

— Tramando?! — Ela o indagou, mas ora e outra salpicando dengo na voz — Não estou tramando nada, juro! Só quero te ouvir falar, Renan! Nem que seja só mais desta vez. Depois de ouvi-lo, juro que saio da sua vida, pra sempre e nunca mais irá me ver...

Sem deixar transparecer, mas meio que Renan estremeceu todo ao ouvi-la dizer aquilo. Pois até o momento ele permanecia — como desde o início do seu encontro com Valentina — firme e ancorado nas mágoas que ainda refletiam sofrimentos diversos relacionados à vida de casal que tinha tido com ela. Mas ao ouvi-la dizer o conjunto das palavras: “pra sempre” e “nunca mais”, percebeu quando algo muito importante dissolveu dentro de si.

Continua...

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Gláucio Imada Tamura
Enviado por Gláucio Imada Tamura em 14/08/2021
Reeditado em 16/08/2021
Código do texto: T7320575
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