Preciso dizer que te amo! Parte 1 (romance/drama)

Sinopse: Coração apertado, solidão e sentimento de abandono. De repente: Pumba! A vida vira do avesso e acabamos por conhecer um “outro” alguém. E agora, a paixão antes retraída em nós, nasce de novo, só que dessa vez mais forte, despontando promessas de esperanças de dias felizes no horizonte.

Preciso dizer que te amo! Parte 1

— Amiga, o quê se tá fazendo?! — Digitou Ana Luiza pelo celular.

— Oi, Ana Luiza! — Respondeu Miúcha. Ela apertava com dificuldade, teclando com seu dedo mindinho as minúsculas teclas do aparelho — Se tá sumida, hein?! — ela digitou — Depois daquele chá de sumiço que me deu lá na festa do Renan, você não deu mais o ar da sua graça. Mas me fala aí, você e o Roberto se acertaram?

— Espera aí, vou te ligar — digitou Ana Luiza. E, assim que Miúcha atendeu o retorno do telefonema, ela foi logo lhe explicando: — Então, você quer saber como estamos? Eu e o Roberto?

— Isso, Ana Luiza. Depois daquela noite não nos falamos mais. Fiquei curiosa. Conte-me, vai?!

Então, — respondeu Ana Luiza. Ela estava com uma voz empastada, beirando a tristeza — a resposta para essa pergunta é: sim e não.

— Como assim?! — assustou-se Miúcha — Não entendi! O que aconteceu?

— Ah, Miúcha, o que quero lhe dizer é que, depois daquela noite, acertei as contas com o Roberto, sabe, mas depois que conheci o Guilherme lá na festa do Renan, bom, meu coração... — Ana Luiza não ousou completar o que dizia. Miúcha, sagaz como era para perceber o que estava rolando, perguntou-lhe de pronto: — Por acaso vocês dois, quero dizer, você e o Guilherme, ficaram naquela noite?! Lá na festa?

E como o silêncio reinou em absoluto entre os fones, logo Miúcha voltou a falar: — Ah, deixa pra lá. Não é da minha conta né?

— Não é isso, — disse Ana Luiza, desvencilhando de, pelo menos de alguma forma, ter de revelar detalhes da noite que passou com Guilherme. — não vejo o Guilherme desde aquela noite. Ah, antes que me esqueça, deixa eu me desculpar com você por não ter te avisado. Só você sabe como estava minha cabeça naquela noite...

— Sei que o seu casamento é muito complicado. — Miúcha a desculpou — Nem precisa se explicar...

Como um sentimento de tristeza passou a assentar em ambos os corações, logo Miúcha tratou de animá-la, falando-lhe sobre suas programações de final de semana.

— Então, — começou Miúcha — combinei com a galera de nos encontrarmos lá na estação de Hamamatsu e, — Segundos depois, arrependida do que tinha falado, afastou temporariamente o fone da boca. Pensou: seria prudente revelar a Ana Luiza que, talvez, o Guilherme iria aparecer por lá? Pensou, pensou, pensou. Por fim, decidiu-se que sim, e assim acabou por terminar a frase, ainda que, com que cometendo um terrível sacrilégio — eu soube através de uns amigos que, “talvez”, o Guilherme vai aparecer por lá...

Com o rosto iluminando-se, Ana Luiza não se aguentou de entusiasmo: — Quer saber de uma coisa, Miúcha, — ela disse — eu bem que deveria dar uma passada lá.

— Tem certeza, Ana Luiza? — Disse Miúcha, se acercando de cuidados para evitar atrair pra si confusão com o Roberto.

— Tenho. — Ela disse. E em seguida, sua voz demonstrou traços de irritação — Sabe o Roberto?! Nem te falo! Marcou boliche com os amigos e sequer me avisou. E olhe que desde a semana passada, a gente tinha combinado de passar o final de semana juntos.

Por alguns segundos, Miúcha ficou muda no telefone. E, desejando mudar o rumo daquela conversa, logo informou o local exato aonde todos eles iriam se reunir.

***

Duas horas mais tarde...

Os garotos se divertiam no chafariz localizado nos arredores da estação de Hamamatsu, bem em frente à lanchonete do McDonald's. Quando Miúcha avistou Ana Luiza descendo no ponto de ônibus, enfiou os dedos dentro da boca e, assoviando fino e cortante, mostrou a ela aonde todos a aguardavam. A primeira coisa que Ana Luiza falou ao chegar, mesmo antes de ser apresentada para o grupo, foi perguntar baixinho para Miúcha, se Guilherme estava ali. Mas Guilherme não viria mais, pois na noite anterior tinha ficado mal a beça por conta de uma forte gripe.

— Desculpa amiga, — Disse Miúcha, reparando que o brilho do olhar de Ana Luiza desvaneceu com a notícia — infelizmente, o Guilherme não virá. A Joana acabou de ler a mensagem de Guilherme pedindo desculpas.

— Ah, tudo bem — Ela respondeu. E em seguida, segundos após descair o semblante, expressava olhos amendoados — Desejo melhoras a ele. Quem sabe, na semana que vem, ele esteja melhor, né?!

— Gripe é muito comum aqui no Japão. — Miúcha a consolou — O clima daqui é gelado demais, né? — Depois ela virou-se para os amigos, até então mudos, com caras de taxo, e os apresentou a Ana Luiza: — Esse feioso aqui é o Marcos. Aquela que me emprestou o celular é a Joana. Aquele outro feioso ali, o cabeludo, é o Felipe, e por fim, o Matsuda, o bebê da turma.

No coração de Ana Luiza, pensamentos do último encontro valseavam a todo o instante, pipocando aqui e ali, a imagem de Guilherme à sua mente. E, como ela não tinha nada melhor para fazer em casa; decidiu por ficar por ali mesmo. Não iria embora tão cedo. Depois disto, ela animou-se com os meninos, brincou com as meninas, e até cantou, esforçando-se para entrosar com cada um deles. E quando a fome bateu pra valer, ela juntou os trocados que tinha e, após ter reunido a galera, adentraram a lanchonete como em um comboio. Como forma de autoconsolar-se, Ana Luiza logo pediu um sanduíche gigante. Foi sua forma de compensar a tristeza da vida e, por que não dizer, à saudade de um “alguém” já tão desejado.

Naquela noite, próximo à meia noite, assim que Ana Luiza chegou à sua casa, pode perceber que, como de costume, Roberto ainda não havia voltado. Mas às 7h da manhã, ela o ouviu cambaleando: cheirando a álcool, perfumes baratos, e foi possível perceber as inúmeras marcas de batons estampando parte do seu rosto e a gola da camiseta. E no pulso, a costumeira pulseira colorida que o permitia adentrar prostíbulos diversos. “Nem vergonha na cara ele teve para retirá-las” — Ela pensou. Ali deitada, perdida em outros pensamentos ruins, Ana Luiza o olhava de rabo de olho. Não era a primeira vez e, tampouco seria a última. Então, o ímpeto seria exigir logo uma explicação, mas depois de muito pensar, pensar e pensar outra vez, ela acabou decidindo que o melhor a se fazer, pelo menos para evitar se desgastar mais ainda, era voltar a dormir. Afinal, não iria, de forma alguma, iniciar uma discussão que provavelmente acabaria com o resto do seu dia.

***

Na Tóquio Seat...

O sino avisando que o almoço no refeitório já havia sido liberado acabara de soar. Guilherme, um dos operários da fábrica, correu até a cantina para entrar na fila aonde serviam as refeições. Devido ao resfriado que esgotara boa parte de suas forças na última semana, Guilherme sentia-se extremamente debilitado a cada hora de trabalho.

“Logo após o almoço, vou tirar, nem que seja, uma rápida soneca”. — Pensou.

A empresa na qual Guilherme trabalhava era uma das fábricas responsáveis pela produção direta dos bancos e outros componentes de todos os veículos produzidos pela gigante Honda. A área de quase seis mil metros quadrados, localizada na cidade de Kounosu-Shi, no interior do Japão, comportava seis galpões onde se realizavam desde a produção da espuma, cortes diversos dos tecidos, e o acabamento final antes das peças já prontas serem enviadas para a matriz em Tóquio.

— Piuuu! Piuuu! — Apitou o celular de Guilherme. Uma mensagem havia acabado de chegar — Quem será? — Ele se perguntou. Com uma emborcada de pescoço, ele olhou a tela do aparelho e viu que não era nada de importante. Deixou o aparelho no silencioso.

“Mais vídeos idiotas” — Pensou. Depois de guardar o aparelho no bolso, voltou a se deitar no papelão desgastado estirado entre meia dúzia de caixotes de parafuso.

Matsuda que também trabalhava no mesmo galpão de Guilherme, assim que o viu estirado no papelão, tratou de avisá-lo:

— E aí, Guilherme, contamos com você lá na estação hoje à noite, combinado né?!

— Não estou sabendo de nada. — Guilherme o respondeu.

— Como assim?! — Retorquiu Matsuda — Não te avisaram que a galera vai estar toda lá?!

— Avisaram, mas — Erguendo do papelão para zombar da cara de Matsuda, Guilherme encarou-o e lhe disse — é que ainda estou me recuperando daquele resfriado, sabe...

— Que porra de gripe do caralho, Guilherme! Você já está bem melhor cara! Deixa de zoeira, ok? Os manos vão levar os patins. Vai furar com a galera de novo?!

— Cara, semana passada não deu pra ir por que, bom, eu já te disse. Não vou repetir. Estava mal à beça.

— Certo, eu te perdoou. Mas agora já tá bem melhor, da pra ver na sua cara.

— Matsuda, eu posso continuar meu cochilo?! Some daqui, por favor...

— Olha aqui, Guilherme, se você não se comprometer comigo, aqui e agora, que vai estar hoje à noite lá na estação de Hamamatsu, no horário combinado, você vai perder os... — Em seguida, Matsuda olhou o relógio e, após acercar-se das horas, apontou o dedo indicador para Guilherme e continuou — você vai perder os quinze minutos de descanso que ainda lhe restam.

— Ah, não sei não...

— Deixa de ser amarelão, Guilherme, hoje é sexta-feira, amanhã não temos de trabalhar. — disse Matsuda — Você pode acordar na hora que quiser. Sem falar que a galera toda tá me cobrando a sua presença desde semana passada.

Depois de ouvi-lo, Guilherme declinou o corpo sobre o papelão, tapou o rosto com o boné e silenciou-se. Matsuda não saiu do lugar.

— Você venceu — por fim Guilherme disse — Pode confirmar a minha presença. Mas agora faz silêncio ou suma daqui, — ele insistiu — meu trampo é pesado, cara, você sabe disso...

Alguns minutos depois, o celular de Miúcha acabava de tocar. Do outro lado da linha, Matsuda lhe disse:

— O Guilherme acabou de confirmar. Pode dar andamento no plano, Miúcha.

— Beleza, — ela disse — avisarei a Ana Luiza, mas vou fazer de conta que não estou sabendo de nada. Fale para a galera aí, ninguém conta nada, ok?

— Combinado, — respondeu Matsuda — nos encontramos todos lá. Até!

— Até!

De fato, Miúcha, por um bom tempo vinha acompanhando a situação conjugal conflituosa da amiga, mas, diferente de muita gente, sendo uma amiga de verdade, de verdade mesmo, de forma alguma ousava interferir no relacionamento sem de fato ter alguma prova concreta para apresentar. Bem que seu maior desejo sempre foi que, uma situação inesperada, ou o revés da vida mesmo, trouxesse uma circunstância inesperada, na qual, de fato, as cachorradas de Roberto fossem todas reveladas.

Mas fazer papel de cupido para ela, ainda mais naquela situação delicada, aonde sentimentos esvoaçantes plainavam por todos os lados: de Ana Luiza, Roberto e Guilherme, de fato, nunca foi a sua praia. Mesmo assim, contra a própria natureza ela se dispôs a participar daquilo que, com ajuda ou sem ajuda, uma hora ou outra iria brotar entre os dois.

— Alô, Ana Luiza, o que você vai fazer hoje, às sete horas de noite?

— Oi Miúcha, nadica de nada. E você?

— Eu estava pensando em dar uma passeada lá no shopping Jusco, quer ir comigo?

— E onde fica esse shopping Jusco?

Miúcha fechou os olhos, rezando para a amiga não desconfiar de nada que ela estava planejando.

— O shopping Jusco, fica lá na estação de Hamamatsu, mesmo.

— Ah, — Ana Luiza sussurrou — Vai alguém “especial”?

— Ainda não sei direito, — Miúcha mentiu na cara dura — ninguém confirmou nada ainda, sabe...

— Hum... Deixe me ver; o Roberto desapareceu desde ontem e, bom, a última coisa que eu quero é passar mais um final de semana sozinha. Esse passeio bem que pode ser divertido, né?

— Sim, vai ser ótimo — Miúcha exclamou — já recebi meu pagamento, quero que me ajude a escolher um vestido...

— Está bem, — disse Ana Luiza — mas com uma condição. Pode ser?

— Qual? — Miúcha disse apreensiva.

— Você vai me pagar um sorvete!

— Ah, claro que sim, que isso, até dois sorvetes. — Ela respondeu aliviada — Então vamos fazer assim, vamos combinar de nos encontrarmos lá na frente daquele chafariz, a do Mc Donald, pode ser?

— Pode ser. Envio uma mensagem assim que chegar lá. Até mais, Miúcha.

— Até mais Ana Luiza.

***

Às sete horas da noite, em ponto, quase toda a galera já se encontrava reunida na praça frontal ao ACT TOWER, ou carinhosamente conhecido pelos brasileiros como o Garrafão. Com exceção de Ana Luiza que, momentos antes, telefonara, avisando que iria se atrasar, ali já estavam: Miúcha, Matsuda, Marcos, Joana, Érika, Felipe, dois gêmeos argentinos e Guilherme, o último a chegar.

Em uma rápida explanação, o garrafão é o edifício mais imponente da cidade, localizado bem no centro da estação de Hamamatsu. Um complexo comercial com duzentos e treze metros de altura, e com quarenta e cinco andares de pavimentos que o tornam, por assim dizer, um dos prédios mais altos do Japão. Sua parte superior é formada pelo famoso Hotel Omura, e em alguns andares abaixo, localizam-se espaços comerciais como; lojas de roupas, escritórios imobiliários, advocatícios e, na área maior, o shopping Jusco, o principal shopping da cidade.

No terraço, ou seja, no ponto mais alto do Garrafão, sobrepuja um deck de observação, na qual, principalmente em datas especiais, os visitantes se aglomeram para observar a cidade lá do alto.

Assim que Miúcha recebeu a mensagem de Ana Luiza, avisando que já a aguardava no chafariz, ela deu um jeito de se desvencilhar do grupo e ir sorrateira buscá-la no local combinado. Chegando próxima ao grupo de novos amigos, Ana Luiza logo se entusiasmou ao ver que Guilherme, também se encontrava no meio deles.

— Oi, Guilherme! — Ana Luiza o cumprimentou — e segundos antes dele se virar, ela tapou seus olhos e perguntou com os lábios bem próximos ao seu ouvido — Advinha quem é?

— Só pode ser a Ana Luiza... — Guilherme disse de pronto, e logo em seguida perguntou? — Quer saber como descobri tão rápido?

— Ah, — ela suspirou — Fiquei curiosa. Mas me diga então, como você descobriu tão rápido que era eu? Alguém contou que eu viria?

— Nada disso, — Ele a respondeu, com um sorriso matuto esvaindo pelo cantinho da boca — Foi o perfume Giovanna Baby que te entregou.

— Ah, — Ela reclamou — assim não vale, né, Guilherme! Em seguida Ana Luiza deu-lhe um forte abraço, mas logo ficou toda corada quando ouviu Guilherme sussurrar o jogo de palavras “eu estava morrendo de saudades de você”.

Continua...

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Gláucio Imada Tamura
Enviado por Gláucio Imada Tamura em 13/08/2021
Reeditado em 16/08/2021
Código do texto: T7319749
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