À PROCURA DE MILAGRES em Santa Catarina

Milagres não é religiosa. E até já afirmou que não está certa de crer em Deus, apesar do nome de batismo (que foi ideia de seu pai brasileiro em comum acordo com sua mãe portuguesa).

Alfeu D’Antesco era seu apaixonado fã português.

Milagres havia sumido das vistas de Alfeu e ele sabia que ela não estava mais em Portugal.

Alfeu já estava havia mais de ano sem contato com sua musa, que não gostava de redes sociais.

Os pais da moça juravam que ela não havia dito o destino de sua nova viagem, mas que apenas havia pedido para que ambos tomassem conta dos negócios da família enquanto iria “buscar a si mesma” (nas palavras dela mesma) em nova peregrinação por outros países. Ela sempre fazia isso, quando sentia falta de algo que jamais ninguém saberia dizer o que de fato seria. Nunca havia se casado, a belíssima Milagres. Viajava sempre solitária e retornava aparentemente feliz e mais calma.

Alfeu sabia apenas que ela gostava de climas frios, fosse qual fosse o continente para onde viajasse.

Foi então que Alfeu soube que no Brasil, mais especificamente no extremo sul, as temperaturas estavam baixíssimas e bonecos de neve já surgiam saídos das mãos dos habitantes locais.

Alfeu deixou seus negócios milionários em boas mãos e se atirou a uma viagem sem prazo para retorno.

Desta vez encontraria a linda Milagres e finalmente a convenceria de ser ele mesmo o “lado” que ela procurava desesperadamente encontrar dentro de si própria. Assim pensava o apaixonado Alfeu.

Santa Catarina era o nome de um estado da região mais fria do Brasil onde ele começaria a procurar, pois Milagres bem combinaria (pelo nome) com um lugar batizado assim.

Alfeu decidiu que não iria perambular outra vez, conforme já fizera antes em outras buscas por Milagres que acabaram resultando em um retorno solitário a Portugal.

Então, Alfeu acabou se recordando de seu mágico preferido — pois era fã de ilusionistas famosos —, bem como de um desafio que o profissional famoso havia apresentado ao mundo: sobreviver a horas e horas dentro de um bloco de gelo.

Alfeu pagou regiamente (em dólares) para que profissionais da imprensa local o filmassem como se ele fosse um desses mágicos famosos e gastou uma fortuna para montar a estrutura de gelo, bem como contratou cenógrafos habilidosos e até mesmo uma equipe médica preventiva.

O dia foi marcado e o nome de um suposto mágico apareceu numa propaganda por vários meios de comunicação e mídias consagradas. Era Alfeu D’Antesco, um grande ilusionista em seu maior desafio no gelo.

Então, Alfeu investiu muita energia em imaginar que ele próprio era o famoso mágico. E, assim, atirou-se de corpo e alma à proeza.

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Você, caro leitor ou cara leitora, acredita em milagres? Bem, já que você está num alto grau de ansiedade para saber o final dessa proeza de amor, vamos ao que interessa.

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Apenas 24 horas depois dos fatos narrados acima, o Polo Sul recebia um casal em lua de mel que prometia tornar aquela região branca e gelada um lugar mais populoso (por metro quadrado) do que a China.

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Da série: “Milagres do frio”