Anonimato
Cobri em mim tudo o que se lia. Tapei de noite o corpo, acendi a candeia e, mesmo tendo uma flutuante identidade de sombras, pus a máscara. Fiquei ali sendo ninguém. Quando entraste não me viste, depois do susto gritaste. Mete-nos sempre medo o que não conhecemos, recusamos por mau o que fica longe da nossa vontade. A seguir fugiste sem querer adivinhar, ouvir, saber. Quando os regressos te traziam à casa, ficavas à porta a chamar por mim e eu não estava. Uma vez respondi: - entra. E entraste. Voltaste a sentir-me. Sabias, mesmo no escuro, que as mãos eram minhas, reconheceste a voz, aceitaste o meu corpo inteiro. Depois respondeste: - se quiseres tira-a não para que te reveles mas que para que me beijes.