Anonimato

Cobri em mim tudo o que se lia. Tapei de noite o corpo, acendi a candeia e, mesmo tendo uma flutuante identidade de sombras, pus a máscara. Fiquei ali sendo ninguém. Quando entraste não me viste, depois do susto gritaste. Mete-nos sempre medo o que não conhecemos, recusamos por mau o que fica longe da nossa vontade. A seguir fugiste sem querer adivinhar, ouvir, saber. Quando os regressos te traziam à casa, ficavas à porta a chamar por mim e eu não estava. Uma vez respondi: - entra. E entraste. Voltaste a sentir-me. Sabias, mesmo no escuro, que as mãos eram minhas, reconheceste a voz, aceitaste o meu corpo inteiro. Depois respondeste: - se quiseres tira-a não para que te reveles mas que para que me beijes.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 09/07/2021
Código do texto: T7296076
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.