Jade - Parte I
Sempre fui uma pessoa bem tranquila em relação a relacionamentos afetivos. Até mesmo quando ia pra balada, minha única preocupação era me divertir ouvindo boa música ou dançar com meus amigos. Posso contar nos dedos quantas vezes tive algum tipo de envolvimento com alguém numa festa e quando acontecia, na maioria das vezes, não era minha iniciativa. Não por orgulho ou soberba, mas por timidez mesmo. Não tive muitas namoradas e as poucas que eu tive, conheci através da internet. Algumas amigas brincam que eu tenho dupla personalidade: uma real e outra virtual.
E nessas tentativas de encontrar alguém bacana, conheci Jade através de um aplicativo de encontro. A gente conversava o dia todo, durante todos os dias, desde quando acordávamos até a hora de dormir. Gente boa, engraçada, linda e o papo fluía. Já de cara, ela deixou bem claro que não queria relacionamentos pois tinha terminado um casamento há pouco tempo, então combinamos de ficarmos só na amizade, mesmo eu já sabendo que havia um sentimento da minha parte.
Uma vez, eu estava em um congresso da universidade e acabamos discutindo porque eu queria muito conhecê-la, mas nunca dava certo. No meio da conversa, decidimos nos encontrar quando terminasse o evento. Marcamos no ponto de ônibus em comum aos nossos destinos pra casa, já anoitecendo. Quando ela chegou, foi tão mágico que eu nem consigo lembrar de todos os detalhes de tão nervosa que eu estava e ficamos conversando por horas. Fui pra casa encantada e um pouco frustrada porque eu tinha a certeza que ela nunca me daria bola: Uma morena alta, com cabelos longos na cintura, um corpão e sorriso que me deixava toda desconcertada. Ela era muito linda!
Apesar de Jade ser 10 anos mais nova que eu, tinha muita experiência de vida e o jeito que ela batalhava pelas coisas dela sem perder a ternura, criava em mim um sentimento de admiração por aquela mulher com jeito de menina. Eu me apaixonei por ela desde as primeiras conversas e nosso encontro só trouxe a certeza do que eu já sentia, mas até então eu estava tranquila com a ideia de sermos somente amigas. Certamente, ela não era a primeira e também não era a última mulher que eu me interessava que não queria nada comigo. Uma vida de amores não correspondidos.
Duas semanas antes de encontrar Jade pessoalmente, meu pai tinha viajado pra fazer uns exames médicos e ficou fora quase um mês. Eu, que nunca tive medo de ficar sozinha em casa, já estava ficando agoniada de ficar só por tanto tempo. O cachorro da casa, que me fez companhia por tantos anos, já não estava mais entre nós e aquela casa enorme, ficou sufocante pros meus medos e saudades.
Era um sábado, dias depois do encontro, chamei Jade pra passar o dia comigo comendo besteiras e vendo filme, sem pretensão nenhuma, e ela foi. Nossa! Meu coração quase saiu pela boca quando ela chegou, mas tentei manter a calma e agir naturalmente. Compramos pizza e vinho numa mercearia perto de casa.
Liguei a tv e perguntei o que ela queria assistir. Ela pegou o controle da minha mão e escolheu uma música pra tocar enquanto caminhava em direção à rede na porta de casa. Já era final da tarde quando sentou na rede com a taça de vinho na mão e a garrafa na janela próxima à rede.
Eu parecia uma adolescente que não sabia o que fazer, aliás, eu nem podia fazer nada já que era só amizade, né? Eu separo muito bem as relações de amizade e envolvimento por receio de estragar o vínculo, então eu tinha muito claro na minha cabeça que eu não poderia ter nenhum tipo de envolvimento físico com ela. Tudo certo pra uma pessoa racional, mas eu não era essa pessoa.
Parei na frente dela e fiquei olhando enquanto ela mirava o controle pra escolher mais uma música na televisão. Ela me chamou e eu sentei na rede de frente pra ela. Não sei se ela percebia o quanto eu estava nervosa, mas de uma forma que eu não sei explicar, a naturalidade dela me transmitia uma paz mesmo estando com os hormônios borbulhando dentro de mim.
- Tem algum problema se eu tirar minha camisa? Tá um calor!
- Eh... Não... Claro que não! – respondi ainda meio sem jeito
Enquanto ela curtia o vinho, ouvindo suas músicas preferidas, deitada de um lado na rede. Deitei, também. Nossas pernas ficaram entrelaçadas de modo que eu podia acariciá-las por cima da calça preta que ela usava. Eu fazia carinho na perna dela, logo acima dos pés, ela retribuía o carinho e ficamos em silêncio por alguns minutos. Não sei se fui eu ou se foi ela, mas quando percebi nossas mãos estavam explorando cada parte da perna, até que ela tomou a iniciativa e trouxe suas mãos entre minhas pernas. Eu já não aguentava mais de tanto desejo.
- Vamos pro quarto? – perguntei bem baixinho no ouvido dela.
Ela não respondeu. Era o meu primeiro envolvimento sexual com alguém, depois de 5 anos de término do meu namoro, e a insegurança voltou a me assombrar naquela noite. Ela levantou, pegou minha mão para que eu a conduzisse e fomos para o meu quarto. Deitei e pude ver a silhueta do seu corpo no escuro do quarto iluminado por uma fresta de luz que vinha da porta entreaberta.
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