IMPOSSÍVEL ACREDITAR QUE VOCÊ VOLTOU
Foram muitos os sonhos com Verônica, foram tantas as alegrias que desfrutamos durante toda a nossa juventude, foram inúmeras as vezes que apreciamos a lua em noites de amor na pracinha do nosso bairro, perdi as contas dos momentos de intensa felicidade quando nós, de mãos dadas, percorríamos o imenso parque cheio de crianças brincando nas tardes dos domingos que dispensávamos só para nós dois. Gostávamos de ver os peixes coloridos nadando nos pequenos lagos do jardim zoológico e as belas aves trancafiadas em imensas gaiolas, eu imaginava nunca querer ser como elas, impedidas de terem a liberdade e poder usufruírem do imenso espaço verde que ali existia, era nesse momento que meu coração transbordava de alegria quando olhava para Verônica e a beijava ternamente, mas ao mesmo tempo sentia uma tristeza com o destino dessas aves. E assim vivemos alguns anos, praticamente toda a nossa adolescência, o amor existente no mundo parecia ser só nosso, nada nos prepcupava, desde o dia em que a conheci, quando eu tinha apenas 15 anos e ela 14, tudo era perfeito para nós, não vislumbrávamos nada que pudesse causar uma separação desses dois jovens apaixonados.
Numa tarde de domingo quando passeávamos pelo parque notei uma certa indiferença em Verônica, quando lhe perguntei se estava havendo algum problema ela negou e tentou me acalmar, disse estar tudo bem e que era apenas um mal pressentimento, um sonho que tivera na noite anterior. Ela tinha feito uma prova na escola onde estudava ali no bairro onde morava e tinha achado que não tiraria uma boa nota, não sei se foi realmente esse o motivo da sua preocupação, mas sem querer ela causou uma outra preocupação em mim. Aquilo criou em mim uma certa dificuldade de raciocínio e até eu não tive condições psicológicas de também fazer uma boa prova na escola onde estudava, situada no centro da cidade. Criou-se em mim também um pressentimento e meu coração acelerava sempre que pensava na namorada.
Nos dias que foram se passando eu fiquei a par de toda a situação que preocupava Verônica, sua família teria que se ausentar do Estado e passariam a morar em um outro bem distante por conta da profissão de seu pai, que seria transferido da empresa onde trabalhava para ocupar um cargo de maior relevância em uma filial, esperava só terminar o ano letivo da filha, já que estávamos quase no final do ano. Isso foi em 1967, eu já estava com 18 anos e ela 17, senti o mundo desabar sobre mim, ela também sentiu isso. Todos os nossos planos começaram a ir por água abaixo e não tinha outro jeito senão a separação forçada.
Passaram-se alguns anos, nos correspondíamos através de cartas, único meio de comunicação naquele tempo. Mas o nosso amor nunca deixou de ser o mesmo apesar da distância, alimentávamos uma certa esperança de nos encontrarmos novamente e se isso ocorresse seria definitivo, acontecesse o que acontecesse não perderíamos essa oportunidade. As cartas foram ficando escassas e infelizmente perdemos o contato, lá ela mudou de cidade e aqui eu também. Enfim tudo se perdeu, mas a sua imagem ficou sempre no meu pensamento e nos meus sonhos. Verônica era uma namorada mental, era uma chama que eu mantinha sempre acessa.
Os anos continuaram passando, constituí uma família, tivemos dois filhos, um casal, mas o casamento não durou muito, nos separamos, eu e Célia, por divergências familiares, apesar dela ser uma boa pessoa, porém resolvemos que seria melhor assim. O destino reservou a solidão para mim, fui morar em um pequeno apartamento e me dediquei a viajar nos finais de semanas, era meu passatempo, doía muito ficar sozinho dentro de um apartamento. Numa dessas viagens para uma cidade próxima da minha residência fui parar em uma praia quase deserta, com poucas casas de veraneio e apenas um barzinho onde fui tomar uma cerveja antes de almoçar. Tomei a cerveja, paguei e quando ia saindo esbarrei em uma senhora inadivertidamente, me virei para pedir desculpas e tive a maior surpresa da minha vida, essa senhora era nada mais, nada menos do que Verônica. Aquele semblante nunca me saiu da cabeça, o mesmo sorriso, a mesma simpatia, o mesmo jeito de olhar nos olhos, eu jamais poderia me enganar com essa fisionomia, mesmo com muitos anos passados. Seu sorriso de satisfação me encantou, o abraço foi inevitável, o que mais me surpreendeu foi o beijo que ela me deu sem que eu tivesse tempo para qualquer reação. Correspondi com todo amor como se estivesse naqueles áureos tempos da nossa juventude, nem queria imaginar se ela era casada ou não, mas a grande surpresa (mais uma) veio em seguida depois de conversarmos reservadamente ali mesmo no bar. Pedi mais uma cerveja com petiscos para comemorarmos esse reencontro e a notícia de que ela estava separada do marido, tinha dois filhos também, e um casal, como eu. Verônica me contou toda a sua história e ouviu a minha, ela estava com alguns amigos e pediu licença a eles para ficar comigo. Dali mesmo fomos para o meu apartamento onde fizemos mais um brinde ao amor regado a uma noite de muito sexo.