O mecanismo do encanto
Embora William fosse entre todos os garotos daquela escola, o mais tímido e inapto socialmente, ele possuía, senão a maior, uma das mais refinadas compreensões e táticas de engenharia social no que se diz respeito a conquista. E entre todos os garotos daquela escola, ele era o único cujas conclusões a respeito de Alessandra beiravam a perfeição.
Há 30 minutos atrás os dois nem imaginavam se conhecer, mas bastou aquele curto momento de troca de olhares, cuja intensidade emocional pode ser comparada com a colisão de massivos objetos estelares, para que duas distintas coisas acontecessem: A primeira, era a inevitável semente de paixão que fora plantada no coração de William, instantaneamente ao momento que os primeiros traços da silhueta de Alessandra começaram a aparecer por aquela sala. E a segunda, como que sendo antítese à catarse mental provocada pela simples presença da garota. Foi a percepção de William, que através de um curto olhar em direção ao objeto de seu amor, conseguiu obter informações a respeito de Alessandra. Informações essas que somente dezenas de anos de convivência intensa com ela poderiam ser extraídas, mas que para alguém imerso em um amor tão profundo, bastaram-se meros instantes de tempo.
William não sabia se o fato daquela novata ter justamente escolhido se sentar a sua frente, era puramente coincidência ou mera predestinação. Mas conforme ela procurava algum lugar vago, o coração dele torcia com batidas incontáveis para que ela se aproximasse, e quando se aproximou, ela o olhou como que analisando território, e ele por sua vez desviou o olhar para evitar contato direto. E embora ele não tenha percebido até um bom tempo depois; Daquele momento em diante seu coração já estava inteiramente tomado de paixão por ela.
Após esses eventos, tocou o sinal para o intervalo e logo a sala estava vazia. Em um determinado momento durante a pausa, William estava bebendo água no bebedouro e notou uma presença bem atrás de si esperando pela sua vez. Educadamente, ele disse após terminar:
"Bom dia, com licença."
Muito se surpreendeu ao notar que era justamente a novata com quem ele falara essas palavras. Antes que pudesse demonstrar reação, ela já estava respondendo com um sorriso simpático: "Muito obrigada, William." E tornou a também beber água.
Naquele momento de pura distração mental, ele não notou que ela falara o seu nome, quando ele nem sequer houvera se apresentado formalmente. Mas enquanto a observava beber água, e o jeito que ela gentilmente impedia suas próprias mexas de se molhar. Um impulso livre de qualquer segunda intenção amorosa lhe tomou, e o fez perguntar:
— Ei novata, o que aconteceu com seus pais? — Ele disse isso sem sequer saber absolutamente nada dela, fora o que percebeu da sua própria intuição.
Que dia estranho para Alessandra, era a segunda vez em menos de uma hora que alguém lhe perguntara algo íntimo sobre si própria. E isto a levou a cogitar sobre o que responderia. "Quando foi a última vez que alguém me fez refletir no que eu responderia?" Pensou ela admirada pela pergunta. William tinha uma breve suspeita, mas não tinha ideia do tipo de pessoa que era sua interlocutora naquele momento.
Pode-se dizer em poucas palavras que Alessandra era diferente. Ela era destoante em todos os aspectos possíveis em relação as pessoas comuns. Sua inteligência, percepção, sensibilidade, destreza e capacidades de raciocínio estavam a anos-luz da maioria das pessoas, acima mesmo das do próprio William.
— Minha mãe me abandonou, e meu pai eu não conheço... Por que você perguntou isso? — Disse ela sem perder o sorriso, ao mesmo tempo que analisava o seu novo colega.
— Não sei por que eu te perguntei isso... Mas sinto muito pelo seu pai. Infelizmente é muito normal homens abandonarem as mulheres...
E você mora então com seus avôs? — Semelhantemente a William, bastou poucas palavras para Alessandra tirar conclusões a respeito dele.
Ela logo notou nuncias contraditórias sobre seu caráter, inclinações da mente e até mesmo, a personalidade dele.
— Eu moro sozinha. Mas e aí, por que você diz isso a respeitos dos homens? Você também abandonou alguém? — Ela perguntara, mas já sabia com antecedência a resposta. Ela sabia que ele falaria dos próprios dilemas sociais, e que se não fizesse isso, então provavelmente estaria tentando manipula-la e nesse caso ela simplesmente encerraria a conversa.
William notara até certo nível, um pouco de malícia nas perguntas de Alessandra. Mas absolutamente nada nela o intimidava para não se abrir. Então ele disse toda a verdade, sem omitir nenhuma informação sobre si mesmo.
— Meu padastro... Ele traiu minha mãe e a deixou doente. A maioria dos homens que conheci são canalhas e idiotas, e eu não entendo como vocês mulheres conseguem se relacionar com o sexo oposto, uma vez que vocês são bem mais independentes que nós. A mulher não precisa do homem, está bem melhor sozinha.
Foi naquele exato momento que uma estranha forma de simpatia surgiu entre os dois. Como se uma urgência de intimidade tivesse sido criada apenas para comportar as estruturas daquela interação em particular.