Amor Eterno
Todos os sonhos se podem perder, pensou, despindo-se. Desta vez não iria chorar. Depois de tantos dias à espera de uma maior definição ele disse que o casamento não estava nos seus projectos. Ouviu-o espantada e nenhuma palavra achou para dizer. Sentiu aquela dor fina no peito, o coração a quase rebentar, os olhos brilhantes, o sangue a fazer arder-lhe a face e continuou, fascinada, a olhar para ele. Acabou o chá, sacudiu a cabeça para responder às perguntas, não retirou as mãos das suas, despediram-se com um até amanhã e o beijo do costume. Depois, carregando o mundo às costas, subiu os dois lances da escada de madeira, fechou-se no quarto e não dormiu. Não atendeu mais o telefone. Achava-se cobarde por não ter coragem de romper com o amor de sua vida. Quando achava que poderia ir trabalhar estalava-lhe a cabeça com dor, as olheiras encovaram mais os olhos negros, o andar vacilava. Deitou-se outra vez e esperou que os barulhos serenassem na casa em que se hospedara. Dormiu muitas horas, ligou ao chefe a explicar que estava doente, tomou um duche frio e preparou-se para sair. Um café forte ajudá-la-ia a recomeçar. Quando abriu o porta-moedas para pagar a bica, achou o bilhete com a letra dele. Acertou os óculos e, a tremer, leu: - Não caso contigo mas desejo-te para a vida inteira.