Paixão às avessas. Será?

No grande clássico de Bram Stoker, Drácula, há um momento em que o Conde Drácula convida sua amada (Mina) para um jantar. Ele está disfarçado em uma forma humana, quando recebe uma carta de Mina avisando que não pode ir ao jantar pois necessita encontrar seu noivo. Nesse momento, o príncipe Vlad (Drácula) começa a chorar e sua forma humana derrete como cera – trazendo à tona sua forma verdadeira, um monstro. Creio que isso seja o amor: uma doença que possui um véu embelezador...

Me recordo perfeitamente das palavras daquela cartomante. Bem, vou narrar o que é preciso para entender essa história. Eu sou professor universitário bem sucedido e com vários livros publicados, apesar de que ainda sou um jovem homem. Já faz algum tempo que fui contratado por um importante jornal para ser colunista. Minha posição cética gerou algumas polêmicas que me tornou relativamente conhecido.

Ao passar do tempo percebi a presença de uma mulher; logo achei ela linda, mas acreditei ser platônico, afinal, ela andava de tênis e camisa de super-herói; parecia uma garota em um corpo de mulher, claramente oposto à minha personalidade. Com o tempo, entre uma reunião de pauta e outra e encontros casuais nos corredores acabamos nos tornando amigos.

Certo dia, eu e Laura saímos de uma reunião de pauta e fomos até um café que ficava ao lado do jornal. Sentamos, fizemos o pedido e começamos a conversar, a nossa diferença de gosto era algo notório – como se fossemos água e óleo – mas mesmo assim tínhamos uma ligação muito estranha. Depois disso ficamos muito amigos, e se tornou um hábito toda semana depois da reunião de pauta irmos até a cafeteria e passar horas conversando. O tempo foi passando e o que era algo platônico foi se tornando uma paixão, eu não sei explicar; mas sempre que ela começa a falar eu presto atenção na maneira como os olhos claros dela brilham – quase como diamante – e mesmo não gostando das mesmas coisas, vindo da boca dela é algo incrível. Aquele jeitinho doce falando de cultura pop em um belo corpo de uma jovem mulher faz com que eu me sinta um adolescente, coisa que eu odeio. Afinal, sou uma pessoa séria e gosto de ser assim, mas quando esse sentimento emana dela é algo tão lindo que eu até gosto.

Contudo só percebi que estava apaixonado por ela muito tempo depois, e já não havia mais volta. Assim o tempo passa, e a paixão não. O mais intrigante disso tudo é que ela é o inverso de tudo que sempre me chamou atenção. Uso a escrita para desabafar o que eu sinto (já que não consigo entender, pelo menos desabafo). Como já disse antes: sou uma pessoa cética e conservadora; porém esse sentimento está me deixando perturbado de tal modo que, um dia eu estava andando na rua e uma velha vestida de cigana me parou na rua e disse:

- Meu filho, tem amor sim! Ela possui um sentimento verdadeiro por ti. Na energia dela tem muita tristeza e melancolia e em algum momento você foi o alicerce dela. Eu vejo nas cartas, que, ela não sairá da sua vida e que futuramente vocês ficarão juntos; futuramente, porque por agora você precisa passar por vários obstáculos em sua vida. Ela é uma pessoa muito influenciada pela família, e isso deixa ela muito confusa. Por causa disso ela está estagnada e isso está atrapalhando o relacionamento de vocês. Mas não se preocupe, pois vocês terão um relacionamento sólido, a cruz aqui no baralho significa a certeza que a sua fé está sendo ouvida e atendida, e que a espiritualidade está trabalhando muito por você e está abençoando essa união. Meu filho, por último eu vejo que ela veio para ficar e que vocês juntos vão superar as barreiras, e você perceberá como ela amadureceu; eu vejo ainda mudanças, até mudando de cidade.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa a cartomante foi embora rapidamente. Fui para meu apartamento correndo e passei o resto do dia assustado com as palavras daquela senhora. Depois disso, passei a noite toda com uma ambivalência na minha mente: meu lado cético diz que leitura de carta é invencionismo, já o sentimento da paixão quer me fazer acreditar nisso. Então comecei a pensar em todos os nossos momentos juntos, a maneira como ela me olhava, me abraçava... absolutamente tudo, e fiquei mais confuso ainda. Agora, voltando a minha citação inicial, estou naquele momento em que Drácula espera sua amada, mas não sabe o que vai acontecer, e isso está me perturbando. Não sei o fim dessa história, mas espero em breve poder vir contar para vocês.

Felipe Valentim
Enviado por Felipe Valentim em 03/06/2021
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