PerfeBleu - Meu Docinho

Existem muitos métodos para se conquistar alguém mais bonito do que você. Métodos esses que envolvem uma série de engenharias sociais e afinidade superficial. No caso de Alessandra, havia somente uma forma de se conquista-la, e se resumia basicamente em ignora-la indefinitivamente.

Parece paradoxal, mas refletindo muitíssimo, notei que essa era a única estratégia possível dada as minhas condições, para aproximar dela. Mas no caso, eu tenho um nome especial para essa técnica, chamo de presença negativa. Todas as vezes em que estava perto dela, fazia o possível para não demonstrar forma nenhuma de interesse, na verdade, eu exalava através de gestos corporais e interações mortas, que eu não gostava dela.

A intenção era provocar no inconsciente dela, uma irresolução ao meu respeito. Não porquê eu queria manipula-la, mas esse era o único motivo no mundo que ela poderia me notar sem ser de algum jeito forçado.

Um dia após cumprimentar os meus colegas e não a ela, a mesma veio em minha direção e puxou assunto, um tanto irritada e ansiosa:

- William, você vai mesmo participar do concurso de poesias da escola? Eu estava precisando de ajuda nisso. - Disse ela fazendo um profundo contato visual comigo, e eu friamente a encarava demonstrando pressa para finalizar a conversa.

- Vou, mas tenho andado muito ocupado. Nem sei se realmente estou tão disposto assim a participar. - Eu disse isso mentindo, mas criaria nela algum tipo de sensação de escassez ao meu respeito, e teoricamente, deveria fazer ela sentir-se mais pressionada a interagir comigo.

- Sério? Eu só queria algumas dicas... - Respondeu ela com a feição de seu rosto realmente preocupada, e acrescentou. - Como você faz para escrever sobre amor?

Que pergunta intrigante, naquele ponto da minha adolescência eu considerava que nunca tinha amado de verdade, ninguém. Mas uma coisa era certa, eu era adoecidamente apaixonado por ela, de modo que eu conseguiria manter aquela postura séria por séculos, se significasse que um dia seríamos namorados. No final da frase, lembrei-me que dela houvera escrito, não somente 10, mas sim uns 20 e tantos poemas.

- Amor? Para se escrever sobre isso você deve pelo menos amar alguém.

Não funciona se seu coração estiver frio. - Respondi ela de forma que revelei em minhas palavras trocentas intenções, e acho que ela percebeu alguma parte delas, porque respondeu algo que me deu calafrios até hoje:

- Pelo que me diz, você deve estar gostando de alguém. Por que não se declara, William? Ou faz parte do seu jogo, se comportar assim?

Eu não poderia responder aquilo, porque na verdade não tinha uma resposta. Mas assombrado pela perspicácia dela, joguei a conversa contra minha estranha interlocutora que aparentemente, sabia mais dos meus jogos do que eu mesmo:

- Jogo? O amor é uma guerra, é viver ou morrer. Sua poesia deve estar repleta desse tipo de indecisão na alma, ou senão é somente ficção emocional, me entende? Agora me diz, você ao menos gosta de alguém para poder fazer poesias sobre amor?

- Sim! Eu gosto de alguém.

A conversa não terminara ali, mas foi ali onde eu parei de pensar. Meu espirito foi tomado por uma irresolução ciumenta a respeito dela. Como se o feitiço virasse contra o feiticeiro, e logo eu estava profundamente atormentado pela ideia de nunca ser correspondido por Alessandra.

E quanto aquela pergunta, até hoje não entendi se ela notou os meus truques e me confrontou, ou se foi apenas uma estranha coincidência...