PRAIA NOVA OU A NOSTALGIA DO TEMPO QUE PASSOU...

Como esquecer essa época?

Retrocedendo até à época de escola secundária, aquelas tardes em que corríamos nas dunas, apanhava-te e sem maldade caíamos no areal, cheios de pequenos grãos um pouco por todo o corpo. Sacudias a areia do cabelo, um pouco contrariada, depois um pequeno lanche e íamos à água, gelada... eu brincava com o frio, olhava para os calções e dizia que algo tinha ficado na água... olhavas para eles e rias, rias, divertida...

Outros dias, melhor noites, deitados na areia, olhávamos as estrelas, tu sempre romântica e sonhadora, dizias que os amores lá ficavam um dia, para zelar por nós, eu brincava com o assunto, dizia que quando dava uma martelada num dedo também via as estrelas.

Zangavas-te, eu pedia perdão com beijos na face, tu ficavas muito séria, fitando-me. Eu, tolo, não percebia... possivelmente estarias à espera de mais romantismo, mas na verdade tinhas a maturidade que dois anos a mais faziam de diferença em relação a mim...

Esse tempo passou rápido. Foste para o Porto, eu fiquei por ali. Depois de acabar esse tempo de estudo, fui trabalhar pois a minha família, ao contrário da tua, não era rica.

Alguns anos mais tarde encontrei-te numa rua da capital nortenha. Caminhavas com os teus pais e teu irmão na rua de S. Catarina, andavas às compras. Cumprimentaste-me alegremente, realmente feliz por me ver... Fechei a boca para o meu coração não saltar por ali, tal a emoção que então senti. Fizemos perguntas um ao outro, soube que cursaste Economia e trabalhavas numa grande empresa. Tive vergonha de dizer que trabalhava como carpinteiro na oficina do meu pai.

Passaram mais três anos sem te voltar a ver... Tinha feito o serviço militar obrigatório, ano e meio, cumprido em vários pontos deste país.

Vi-te na Praia Nova, teus pais tinham conservado a casa perto do areal e de vez em quando iam lá passar uns dias, antes nunca te vira por lá.

O recontro foi pitoresco, fazias jogging na areia molhada, de fato de banho preto, que realçava a tua elegância. Corri para te cumprimentar, fiquei corado como sempre. Tu também enrubesceste...

Sentámos na areia e conversámos até anoitecer.

No outro dia regressaste ao Porto e eu continuei na minha rotina.

Nunca tive coragem para dizer o muito que gostava de ti, um complexo estúpido roubou-me as palavras certas...

No ano passado soube que casaste, fiquei triste, mas não tenho esse direito. Sempre gostei de ti, acho que te amava, sei que também gostavas de mim, mas a vida não se proporcionou. Possivelmente casaste com alguém do teu nível social, vais ter filhos e uma família para cuidar.

Eu nem sequer namoro, trabalho, vou ao cinema, à praia, ajudo o meu pai e a família nas despesas pois a vida não está fácil.

É a vida, por vezes duas pessoas seguem como se na linha do comboio estivessem, duas paralelas que só se tocam no infinito. Assim foste tu e eu.

Vou fechar os olhos e sonhar contigo...

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 20/04/2021
Reeditado em 20/04/2021
Código do texto: T7236853
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