DINORÁ
O que foi, amiga, parece triste – era Dinorá, sempre que encontrava a amiga naquela inquietude espiritual sentia um aperto no coração. Uma vontade de afagar aquele corpo no colo, deitar-lhe no regaço, proteger aquela alma e falar-lhe das suas angústias, mas algo no inconsciente a repugnava tão friamente feito pólos diferentes que se atraem. Havia um forte sentimento auspicioso, mas esse futuro parecia nunca chegar e assim, esperaria até a morte... não, até a morte não, até o momento certo. Ao afagar os lindos fios de cabelos da amiga e ser a luz daqueles olhos, para tentar confortá-la – seria este o momento certo. Dinorá envolvia-se com profundos sentimentos de ternura, como uma mãe ao acariciar um filho que acabara de nascer, e em seguida, via este sentimento transformar-se em vagueidades de espírito e cair num abismo dissimulado de fingimentos da carne. Sentia-se muitas vezes impotente diante das circunstâncias, diante de si mesma, queria livrá-la de todo o mal e fazê-la feliz em seus braços. Sim, uma felicidade que nenhum homem jamais poderia oferecer muito menos uma mãe. Não se tratava de um jogo de sedução. Não havia presa e predador neste campo, nem seduzido e sedutor que dominasse nossos corpos frenéticos, seria uma harmonia de sentimentos interagindo entre seres e almas, tão perfeitos e sublimes que poderíamos chamar de amor, amor que faz sentir o cheiro de todas as coisas, amor que faz doer, amor que faz esquecer tudo só para pensar e que, no silêncio, achamos que todos podem ouvir o nosso pensar. Mas aquele momento exigia providências imediatas. Talvez falar sobre o assunto que a estivesse incomodando, oferecer um ombro amigo, somente ouvir sem nada dizer, que infelicidade a minha, sequer posso aplacar o sofrimento de quem amo, nem ao menos dizer uma palavra que desejo sem provocar a dor da separação.