Eterno

Como mais um dia de domingo, eu me levanto, me arrumo e vou aprontar o café da manhã. Após prepará-lo pego uma xícara de café quente puro e com um aroma que me fascina desde criança e vou para a janela da cozinha. Pela janela observo meu belo jardim florido, com rosas, azaleias e lírios, fico pensando o que farei com a minha família, esposo e filho, neste ensolarado fim de semana.Vasculho a minha memória e procuro um lugar que seria gostoso brincar, rir, se divertir e curtir meu amado filho. Então fecho os olhos:

“—Sophie, você precisa perder o medo de voar. Não quer dar uma volta?

—Agora não -digo com um sorriso acanhado, pois sempre tive muito medo de voar, e um helicóptero? Pior ainda.

—Mas eu vou com você. Você sabe que o pai vai sempre estar com você. -diz, pegando em minhas mãos e então sorri.”

Quando abro os olhos nem percebo que lágrimas já escorrem pelos meus olhos. Mas, diferente das outras vezes, não tento impedir, por isso fecho os olhos novamente:

“—Pai, em que está pensando? Está tão distraído.

—Problemas, filha. Mas do que falávamos mesmo?

Fixo meu olhar nos olhos dele, sorrio e digo: —Não se preocupe, sempre há uma luz no fim do túnel. E estávamos aqui decidindo se o tio Ricardo vai dividir a lasanha comigo, né Tio? -completo olhando e rindo para o meu tio. —É tradição, tio. Quero lasanha.

Quando olho novamente para o meu pai, ele está com um sorriso acolhedor e pegando e minhas mãos, ele diz: —Acho que você é minha luz no fim do túnel.”

Ele sempre pegava em minhas mãos, ficava segurando enquanto estava comigo e me sentia segura ali. Sua mão firme e forte, o peito acolhedor, o olhar sempre tão profundo e brilhando quando olhava pra mim. A voz dele melodiosa e quando ria era encantador.

Saudade de ouvir seus conselhos, sua risada e suas brincadeiras. Saudade do seu abraço forte, das suas instruções e apoio. Saudade quando éramos cúmplices, amigos, pai e filha. O meu pai foi amigo, conselheiro e Porto Seguro. Meu lugar de paz.

Agora por mais que eu sinta saudade, se eu ligar ou escrever ou ir até seu apartamento não terei uma resposta, porque meu pai, Fábio, se foi. Embora já tenha passado 10 anos a dor continua aqui, hoje amadurecida, mas sempre presente. Porém, essa tristeza não é maior que meu amor por ele e nem supera a alargaria que sinto quando lembro de cada momento nosso junto, das risadas, dos meus ataques de ciúmes que o divertia, dos abraços, das conversas... Tudo foi único. E se hoje desce lágrimas dos meus olhos é de alegria, de amor e de gratidão. Grata por cada memória e por ter recebido seu amor.

Afasto-me da janela, esboço um sorriso. A saudade é um sentimento estranho, você chora, sorri, fica triste, alegre, ás vezes dói, outras acalenta e assim vai. Viver é um milagre e a saudade é a manifestação dele. E meu pai, ah, ele é eterno no meu coração.

Sorrio novamente e olho pra porta, vejo meu filho descalço vindo ao meu encontro.

—Bom dia, mamãe. -diz correndo para os meus braços.

—Bom dia, meu amor. -digo beijando a sua bochecha macia. —Meu pequenino dormiu bem?

Ele acena em resposta. E pergunta: —O que vamos fazer hoje?

Passo a mão no seu rosto, sorrio e respondo: —Hoje vamos voar.

Eu sabia exatamente onde levaria meu pequeno, Fabio, para passear.

Helena da Paz
Enviado por Helena da Paz em 03/04/2021
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