O Regresso
Juraram amor eterno. Levou-o à camioneta para Lisboa e a imagem que dele lhe ficou mostrava-o de riso aberto, o mesmo que o filho, agora adulto, tem quando está alegre. Manuel encarou a tropa como a única saída possível de um mundo acanhado entre o absolutismo dos Machado, a tirania do padre, a fiscalização de quem por lá tivesse olhos e ouvidos. Nunca mais disse nada e todas as cartas que lhe escreveria nunca chegaram. De Lisboa foi para a guerra em África, soube-se na aldeia. Faziam-no em Angola como comerciante do mato, rico, preso lá por ter família. Ela nunca casou. Dizia-se que o aguardava ainda mas a verdade é que deixou de o esperar logo que se viu com o filho para criar sozinha, sem novas nem mandados, e foi para a cidade trabalhar. Educou o rapaz, amadureceu, ficou de coração fechado para novas experiências. Quando ia à terra levava consigo um orgulho azedo e ficava poucos dias. Vendeu a casa dos pais, montou negócio e prosperou. Um dia ele voltou, velho e só. Deixou de ser possível ficar por lá e a mulher que tinha não aceitou deixar a terra nem os filhos que se recusavam mudar-se. Perguntou por ela, conseguiu o endereço e escreveu-lhe a dizer que voltara. Sem resposta, demandou a cidade e apareceu na loja de Ana. Vinha caído, tenso, mal vestido. Quando viu o rapaz sentiu que já o conhecia de algum lugar, que os modos eram os dele e os olhos de um verde líquido da mãe. Olharam-se. Enxugaram as lágrimas e ela disse: José, vem conhecer o teu pai. Ficaram todos imóveis como estátuas de gelo e Manuel, rodando o chapéu na mão, saiu.