Lenore feminista
Aquilo que era mulher de verdade! Aquele bendito corpo feminino era a minha salvação e também minha perdição! Falar seu nome ainda me acelera o coração e aquece meu sangue, nunca a vi de modo algum exaltada, convencia me sempre com o poder de seus olhos calorosos, possuía a eloquência de uma mulher revolucionária, dizia docemente à mim que toda mulher era deusa, e que a maioria delas não se dava conta, vivendo submissas aos homens. Mas, com a gente, nunca radicalizava e permitia, cheia de tesão que eu mordesse sua bunda de tanajura.
Lenore me amava e eu era obcecado por ela, isso fora de fato a minha perdição, porque o obsessivo não pode alcançar a graça da salvação divina, ao contrário dela, que me amava com desapego e por isso, os pecados que eventualmente a Santa Lenore tenha cometido seriam perdoados.
A senda de nossa passageira paixão tornou-se intransitável. Durante um tempo, andei muito ocupado na conclusão do meu romance biográfico sobre Jacques Cazotte e a obra aranhava precisamente no ponto em que o profundo segredo seria desvendado e o mago morreria...mas a coisa não ia prá frente, o livro atrasaria e que se fodesse o meu editor com suas cobranças! Me consumia escrever e apagar, escrever e queimar, escrever e rasgar a folha.
Lenore no entanto, me amava, mas não era devotada à mim e logo esqueceu-se de nossos cálidos momentos, das promessas malucas que fazíamos quando nos amávamos semi bêbados, em todo e qualquer lugar que nos desse na veneta. Meu coração logo se esfriou ao pressentir o fim, a dura realidade de que ela não seria capaz de morrer por mim, me atingiu como a aplicação de uma vacinoide, destas que se aplicam nos que sofrem obsessivamente por uma fêmea.
Ela permanecia existindo debaixo deste sol, era filósofa, deusa e puta! Sua revolução era para mim um desbunde feminista, porém a verdade é que era muito mais que isso, era definitivamente a sua redenção!