Minha querida,
As palavras adocicadas grafadas na carta que recebi de ti nesta bela tarde de domingo de Inverno (até o Sol se fez presente a me aplaudir) adoçam a minha alma.
Os meus olhos se deliciaram ao caminhar por sobre aquelas oitenta e uma letrinhas. São tão macias que eles foram saltando de uma para a outra vagarosamente, brilhando a cada salto dado sob meu comando na soletração. E ficavam atentos quando viam aquelas minhas paradas para empurrar a última letrinha juntando-a à última pulada, colando-a em formação de sílaba e palavra.
Folia maior dos olhos — o que mais lhe davam brilhos — ocorria nos instantes em que tinham de saltar de palavra para novo vocábulo. Salto duplo, mas o voo era delicioso. A cadência tornava-se música quando saltitava de letra em letra, entre palavra, como num bailar com rodopios nas pontuações. Menores nas vírgulas que levam a pequenas tonturas, com tempo para um beijo. Nos pontos parágrafos as vertigens eram inevitáveis. Deixavam-se cair e serem puxados para a esquerda com uma corda invisível. Igualzinho às quedas de alpinistas que, cansados, o braço não conseguia encaixar a corda ao mosquetão fixado na rocha e despenca ficando dependurado. Se para o alpinista era um fracasso, para meus olhos era um êxtase. Levitavam!
A dança continuava. Na composição da musicalidade tua voz ia se fazendo presente, acariciando a minha imaginação; tua boca ocupando a minha a pronunciar cada palavra com a sonoridade nascida do teu sentimento. E já não era mais eu a ler. Tua voz substituía a minha lendo você para mim. Agora por inteiro, ouvinte atento, tornava-me o dançarino. As letras e palavras se agigantavam, em teu corpo se tornavam, enlaçavam-me, e dançávamos suavemente. Os possessivos e adjetivos aveludavam-se no “meu” e “querido” saídos de ti; doce o substantivo “lembrança” fazia nossa história viva.
As também tão calorosas finais musicadas palavras “receba meu abraço”, tão vivas na dança, toavam como o recitar poético desejoso de ficar, num permanecer sem largar.
Ao final − de todas, as mais coloridas letrinhas da composição − teu nome. Neste instante, dos olhos tive primeiro que limpar o embaçamento que impediam o brilho resplandecer. Escrito com tanta graça como naquele momento (tu te lembras?) do encontro do rio com o mar, quando se dá a união perfeita do sal com o doce, do macho e a fêmea. Uma pororoca... explosão de paixão.
Sempre teu.
Folia maior dos olhos — o que mais lhe davam brilhos — ocorria nos instantes em que tinham de saltar de palavra para novo vocábulo. Salto duplo, mas o voo era delicioso. A cadência tornava-se música quando saltitava de letra em letra, entre palavra, como num bailar com rodopios nas pontuações. Menores nas vírgulas que levam a pequenas tonturas, com tempo para um beijo. Nos pontos parágrafos as vertigens eram inevitáveis. Deixavam-se cair e serem puxados para a esquerda com uma corda invisível. Igualzinho às quedas de alpinistas que, cansados, o braço não conseguia encaixar a corda ao mosquetão fixado na rocha e despenca ficando dependurado. Se para o alpinista era um fracasso, para meus olhos era um êxtase. Levitavam!
A dança continuava. Na composição da musicalidade tua voz ia se fazendo presente, acariciando a minha imaginação; tua boca ocupando a minha a pronunciar cada palavra com a sonoridade nascida do teu sentimento. E já não era mais eu a ler. Tua voz substituía a minha lendo você para mim. Agora por inteiro, ouvinte atento, tornava-me o dançarino. As letras e palavras se agigantavam, em teu corpo se tornavam, enlaçavam-me, e dançávamos suavemente. Os possessivos e adjetivos aveludavam-se no “meu” e “querido” saídos de ti; doce o substantivo “lembrança” fazia nossa história viva.
As também tão calorosas finais musicadas palavras “receba meu abraço”, tão vivas na dança, toavam como o recitar poético desejoso de ficar, num permanecer sem largar.
Ao final − de todas, as mais coloridas letrinhas da composição − teu nome. Neste instante, dos olhos tive primeiro que limpar o embaçamento que impediam o brilho resplandecer. Escrito com tanta graça como naquele momento (tu te lembras?) do encontro do rio com o mar, quando se dá a união perfeita do sal com o doce, do macho e a fêmea. Uma pororoca... explosão de paixão.
Sempre teu.