O Silêncio

Amélia era uma menina que nasceu muda e seus pais faziam de tudo para ajudá-la neste seu destino. Embora não pudesse falar, nunca a viram triste, sempre sorrindo, gesticulando para expressar o que precisava. Seus olhos se destacavam, pois eram radiantes e sua beleza era sem igual. Uma pele tão alva quanto o orvalho da manhã, macia como um pêssego e olhos azuis, como se fossem duas contas.

A menina era muito amada e nada lhe faltava de atenção, carinho e amor. Amélia brincava sempre com suas amiguinhas no quintal, na frente da casa e era muito esperta, atenciosa e querida de suas amigas.

Onde passava Amélia encantava a todos com sua inteligência, destreza e desenvoltura. Na escola era aluna aplicada e aprendia tudo com muita facilidade.

Seus pais sempre sonhavam se um dia a filha pudesse falar, tudo ficaria perfeito, mas a amavam como ela era. E assim a menina linda foi crescendo, se desenvolvendo até que se tornar uma linda moça.

Ela nunca reclamou de sua condição, muito ao contrário, tentava mostrar a todos que sua vida era boa, que se sentia amada e transmitia isso pelo seu olhar terno e carinhoso.

Foi nesta sua adolescência que tudo começou. Amélia apaixonou-se por um lindo rapaz educado, trabalhador, honesto e muito amoroso. Os dois começaram a namorar e tudo era tão perfeito. Perfeito para ela, para a família, mas o rapaz quando ficava sozinho, se entristecia, até chorava em ver Amélia, sem poder ouvir um único som de sua voz.

O rapaz passou a pedir incessantemente que um milagre acontecesse e que Amélia começasse a falar. Isto passou a ser para ele um pedido diário de todas as manhãs, tardes e noites, sem parar!

Passaram-se alguns meses e uma velha senhora veio bater à porta da casa do rapaz. Ele atendeu e a velha senhora já lhe disse de prontidão: - Você fez um pedido e estou aqui para atendê-lo. A única coisa, meu rapaz é que não se pode ter tudo o que queremos. Se a sua namorada começar a falar, você perderá o seu amor e ela irá se apaixonar por outro rapaz. Ele ficou meio sem jeito, sem saber o que falar, mas gaguejou para a velha senhora: - Se for para Amélia poder falar, eu aceito sua condição! A velha senhora disse: - Então a partir de hoje você não mais a verá, não vai procurá-la em hipótese alguma. O rapaz aceitou e nunca mais ele ouviu alguma notícia sobre a moça, pois foi para um lugar bem distante.

Amélia sofreu com a ausência do seu namorado, passou dias e noites entristecida, até que o sorriso de seu rosto sumiu, não queria mais ver ninguém. Os pais estavam muito preocupados e tentavam animar a filha. Até que sua mãe teve a ideia de saírem em uma longa viagem. A moça contrariada foi com os pais.

O namorado na certeza de que Amélia estaria falando, sofreu quietinho sua dor e jamais imaginou que ela ainda continuasse muda e triste.

E para a sorte ou azar, a família foi para a cidade onde o rapaz havia ido embora. O rapaz também não conseguiu gostar de mais ninguém e seguia sua vida bem, mas triste e de coração partido, mas nunca se arrependia de tal promessa.

Com muita insistência da mãe, Amélia saiu para apreciar a paisagem do campo. Ao longe avistou um rapaz colhendo flores. Foi se deixando levar pela paisagem e neste momento apareceu uma velha senhora sorrindo, fazendo-lhe perguntas. Amélia somente gesticulava, com os olhos cheios de lágrimas para tentar ajudar a senhora. Foi quando o moço aproximou-se, e numa súbita troca de olhares, descobriram-se ali um diante do outro: Amélia e o seu antigo namorado. Neste instante a velha senhora calou-se, não mais falou nada e Amélia num susto chamou pelo nome seu antigo namorado: - Vitório! A velha senhora foi se distanciando lentamente e sorrindo, muda, calada para sempre!

E ninguém mais precisa tentar descobrir o fim desta linda história de amor, abnegação e graça recebida de alguém que se sacrifica pelo outro.