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UM CONSELHO DADO COM AMOR
 


 
Naquele entardecer, sentado no alpendre, Gonçalo usufruía da brisa estival, arrefecendo o ar quente de verão que há dias todos sofriam na pele. Até aquela hora, só mesmo dentro de casa. Viu passar o neto a caminho da longa estrada que conduzia direito à povoação e chamou-o.

- Onde vais, Pedro?
- Vou dar uma volta por aí, a tarde já não está tão quente.
- Senta-te aqui ao pé de mim, há uns dias que queria falar contigo…
- Sobre o quê? - perguntou Pedro, sentando-se num dos degraus da escada de acesso ao alpendre.
- Tenho reparado que andas por aí qual zombie, a vaguear, como que sem destino… o que te preocupa?
- São os exames finais de entrada na faculdade. É já para a semana e não me apetece estudar…
- Hummm… é só isso?
- É sim!
- É mesmo? Já te conheço, rapaz!

 
Pedro olhou para o chão, com ar comprometido. O avô já o conhecia melhor que ninguém, adivinhava as suas preocupações e pressionava-o para se abrir com ele, para se confessar… só queria ajudar e muitas vezes conseguia-o. Gostava muito do seu único neto, lembra-o de si próprio quando tinha a mesma idade.

- Então porque não queres estudar?
- Já sei a matéria toda…
- São vários exames… vais ter a nota máxima a tudo?
- Não, mas o que sei chega!
- Isso achas tu… Quando saíres dessa escola vais enfrentar verdadeiramente o mundo. É competitivo e isso será desde já, depois será cada vez mais complicado, mais difícil… o triunfo é só para os fortes!
 
O neto escutava-o, depois voltou a olhar para a estrada.

- Pedro, temos tempo de falar sobre a escola, acho que há outra coisa e ocupar-te a mente…
 
Pedro permaneceu calado e o avô insistiu:

- Coisa de saias? Uma colega?

Pedro sorriu, um sorriso triste.
 
- Ouve lá, rapaz, é alguém que gostas muito ou julgas que gostas?
- Eu gosto! E muito! Nem durmo a pensar nela!
- Como se chama a princesa?

- Dolores… - deixou escapar Pedro num sussurro.
- Ah, então a princesa chama-se Dolores… Já a conheces há muito tempo?
- É o segundo ano que andamos na mesma turma, se calhar será o último. Ela vai seguir outro curso.
- Então é por isso que estás triste? Acaso ela não gosta de ti? Namoram?
- Eu nunca lhe disse sequer que gostava dela desse modo…
- Pois é, essa timidez é de família… anda ao meu quarto, vou mostrar-te uma coisa.
 
Entraram no quarto do avô, ele abriu uma gaveta do roupeiro e tirou uma pequena caixa preta ornamentada de madrepérola. Depois abriu-a e pegou num pequeno livro de onde caíram vários papéis. Ele segurou um pequeno retângulo entre os dedos, onde se podia ler em letra quase infantil, desenhada:
 
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EU GERTRUDES MARIA, AMO MUITO O MEU GONÇALO

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- Vês este papel? Guardo-o há muitos anos, com todo o carinho… Foi-me dado um dia pela tua avó quando éramos apenas colegas de escola. Colocou-o como que por acidente num livro que me ofereceu no meu aniversário. Antes disso eu já a amava! Quando a vi pela primeira vez, soube logo que ela era a tal, estávamos destinados um ao outro… Namorámos até ter idade para casar e depois foram quarenta maravilhosos anos até que Deus ma tirou…
 
Pedro viu os olhos do avô molharem de emoção e deu-lhe uma palmada amigável no ombro. Após uma pausa, Gonçalo continuou:
 
- É por isso que eu te aconselho: se gostares muito de uma moça, se a amares e fores correspondido, não a deixes fugir, prende-a com a sinceridade do teu amor…
 
Pedro olhou para o avô e entendeu a mensagem.
 
- Meu querido neto, achas que há motivo para perderes a vontade de fazer mais e melhor nos teus estudos? A desmotivação por vezes surge sem motivo aparente, a preguicite aguda ancora-se em motivos que na realidade não o são. Luta por todos os teus ideais, quer seja a escola, quer seja a Dolores. E se ela não te corresponder, nunca te esqueças que haverá sempre uma mulher à tua espera! Nunca olvides isso!
- Está bem.
- Vá, vai lá dar o passeio e depois anda para casa e estuda um pouco, sim? Qual vai ser o primeiro exame?
- Matemática.
- Logo esse… Não percas tempo, passeia, areja um pouco e depois agarra-te aos livros. Um dia vais arrepender-te, se falhares por falta de empenho. - E fez-lhe uma pequena carícia na nuca.

Ficou a vê-lo até ele desaparecer ao fundo da estrada.
Sentiu um arrepio, tinha arrefecido bastante. Levantou-se e entrou em casa.





 
INTERAÇÃO


Recebi do sempre inspirado mestre  dilsonpoeta esta criativa réplica, que por muito me ter agradado plasmo abaixo.
Visitem a sua riquíssima escrivaninha.


 
Faz bem pro seu coração
Nesses tempos infernais
Amar sem moderação,
Muito amor, não é demais!


 

 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 13/03/2021
Reeditado em 26/03/2021
Código do texto: T7205857
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