Mesmo no fim
Desde que amanheceu, eu passei um domingo inteiro sem existir. Uma hora me obriguei a levantar, mesmo desarrumado fui na padaria para comprar um lanche (Já era 18 horas da noite). Minha casa toda estava escura, então sair com a luz do céu anoitecendo foi um respirar de ar fresco. Engraçado que eu não estava pensando nada, nem filosofando sobre minha vida ou algo assim.
A única coisa que eu sentia era uma sensação de vazio imensurável e impossível de se preencher... O amor tem dessas coisas...
Quando cheguei, já houvera anoitecido completamente. Abri minha porta e sentada no sofá estava Alessandra, mas eu não costumava trancar minha porta, então sabia como ela houvera entrado.
Ela ainda me observava entrar quando eu resolvi perguntar a ela:
- Por que você está aqui? Pensei que tínhamos terminado...
Ela manteve o silêncio e uma postura séria enquanto me olhava. Nisso eu ajeitei a compra e entreguei um copo na mão dela.
- Aceita café? Pelos velhos tempos...
Ela tomou um gole e após isso disse zangada:
- Por que você não me explicou sua situação? Você achava que era melhor eu não saber? E então prefiriu se passar pelo vilão para que eu não sentisse tanto sua falta? Você achou mesmo que eu não descobriria sobre sua doença e que tudo estaria resolvido entre nós? Por que você é tão egoísta William? E eu? Como eu vou ficar sem você? Todo aquele show que você fez e bastaria ter sido sincero... Eu nunca iria te abandonar porra, eu sou sua amiga, eu te amo, você se esqueceu disso???
Enquanto ela falava isso a única coisa que eu conseguia pensar era: "Quem foi o idiota que revelou isso pra ela? Caramba que merda..."
Depois que ela terminou, eu a segurei firme pelos ombros e disse:
- Você não entende NADA!!! Está se ouvindo sua idiota? Você acha mesmo que ia me tornar um mártir na sua vida? Eu não vou ser a porra de um mártir na porra da vida de ninguém, merda. Claro que eu não ia te falar disso, eu não partiria em paz se soubesse que você ficaria triste por mim. Terminar com você foi minha única opção, você iria se esquecer eventualmente de mim e até acharia um novo amor. Eu não me perdoaria se te machucasse dessa forma...
Ela ficou um pouco em silêncio, talvez ainda estivesse processando que aquilo era realmente verdade. Ela me olhou com uma cara engraçada, e ao mesmo tempo de raiva. Mas pouco a pouco foi se desmanchando e ela quase começou a chorar e voltou a reclamar comigo num tom de voz ainda mais alto:
- Eu não acredito... Isso não pode ser...
William, acorda você está sendo hipócrita. Por que achou que sumir da minha vida ia ser menos doloroso que te ver partir??? Eu nunca ia me perdoar se não estivesse ao seu lado. Por que você quer fazer tudo sozinho? Você acha que eu aceitaria aquela sua desculpa esfarrapada simplesmente? - E aí ela elevou sua voz e soltou um baita de um "Idiotaaaa".
Confesso que eu fiquei sem reação, eu a soltei e coloquei as mãos sobre o meu rosto, porque naquele momento me dei conta da besteira que fiz.
- Quem foi o Judas?
- Sua mãe... - Ela disse mais calma depois que me viu abaixar a guarda.
- Eu não sei o que dizer... Estou envergonhado...
- Já pensou em desculpas?
- E eu mereço seu perdão? Não me sinto digno nem de te olhar no rosto... ( Eu realmente não estava a olhando no rosto...)
- Eu te amo William e vou continuar te amando... Eu só queria não te perder... Nunca nunca e jamais! (Ela estava com a voz mais meiga do mundo)
Eu só pude olhar nos olhos dela e pensar "Caramba, eu tenho muita sorte mesmo de ter alguém como ela na minha vida..."
- E aí o que a gente faz agora? - Eu disse, e talvez ela tenha entendido que não perguntei por maldade. Ela acomodou-se no meu ombro e disse com uma voz melancólica:
- Você me deixa te beijar? Beijar como nos velhos tempos...
- Mas seria um beijo de despedida... Eu não quero esse tipo de coisa. E também é imoral.
- Imoral?
- Nós terminamos... Esqueceu?
- Ah é...
- Isso aí...
- hum então, quer voltar?
- Sam... Você tem que me esquecer... Essa situação é insustentável, não percebe que está sendo difícil pra mim? Estou tentando fingir que não me importo com a morte, mas, eu me importo pra caramba... Deus sabe que eu não queria morrer assim. Se eu tiver que lidar com a culpa de te machucar... Acho que nunca me perdoaria.
- Você me perguntou o que faríamos, vamos ficar juntos então, pelo menos até o fim. Sempre foi assim, não vai ser diferente agora. Mesmo que seja a morte, ela ainda não nos separaria, você me entende?
- Talvez...
- E então? Juntos?
- Juntos... Como sempre foi, sempre será...