De: Corvo / Para: Coruja
Doce corujinha,
É com um misto de medo e esperança que te escrevo, mas acima de tudo, te desejo as mais divertidas aventuras à que tuas asas possam te levar. Tu merece desbravar o mundo, e ter para si o melhor que ele puder te oferecer.
A partir de hoje, voamos em direções diferentes. Teu coração magoado já não podia mais suportar a dor que minhas garras, por inexperiência, te causaram.
E daí vem meu medo. Temo não conseguir esquecer teu brilho, teu riso ou teus olhos, janelas da alma. Todas as noites, hei de empoleirar-me nas árvores e lembrar de nossas conversas, nossos jeitos, nossos amores.
Meu medo se estende à possibilidade de jamais vê-la novamente. Você roubou meu coração com sua meiguice e graça, e por mais que tente devolvê-lo, não consigo aceitá-lo de volta.
Minha esperança, porém, tem poucos argumentos, mas me é suficiente. Agarro-me à ideia de que, se fomos feitos um para o outro, um dia os ventos chocarão nossas asas novamente, pois para cada corvo nesse mundo, há uma coruja.
A ti, desejo uma ótima viagem. Rogo-lhe que tenha cuidado em tuas andanças, pois nada me machucaria mais que vê-la ferida. Logo você, a mais doce das criaturas. Caso passe por momentos turbulentos, lembre-se que estou sempre a uma carta de distância, e se preciso atravessarei mares e infernos somente para buscar-te.
Já eu, aprenderei a voar sozinho, mesmo com minhas asas feridas. Somente dessa forma, não atrapalharei o voo daqueles que me acompanharem. Entenderei as minhas garras, e nunca mais as deixarei serem usadas como arma para magoar aqueles que amo.
Dessa forma, termino de escrever-te, meu grande amor. Sou eternamente grato por tudo que uma vez compartilhamos. E mesmo que ver sua partida seja dolorosa, mais doloroso seria ver-te chorar.
Espero que os ventos trabalhem ao nosso favor, pois você morará eternamente em meu coração. De todas as coisas que já vi nessa curta vida, você é a única que jamais esquecerei.
Pois para sempre lembrarei da lua que um dia me beijou.