Abra a sua mão e ofereça algo de bom
Havia um velho que diariamente, antes do sol nascer, se recostava no banco da praça principal. Barba branca, comprida um tanto que dava para puxar com a mão fechada. Seus óculos eram um pouco amarelados e a lente direita estava trincada. Ele era um homem de poucos recursos, ao que parecia. Sua bengala, no entanto, era de madeira nobre bem tratada.
Ele ficava ali calado sob os galhos de uma certa árvore do jardim. Sempre fitava o horizonte entre o casarão centenário e a prefeitura. Pássaros pintavam as bordas desse quadro da aurora e faziam balbúrdias intermináveis nos telhados.
Depois dele, o padeiro era o primeiro a passar pela calçada. Todos os dias eles trocavam cumprimentos de bom dia. Mas era a terceira, uma garotinha indo para a escola, que mudava o foco do velho sisudo.
"Bom dia vovô." – gritava a garotinha que, na verdade, não era a sua neta, mas o adotou como seu avô. Este gesto talvez tenha prorrogado a data de sua morte.
O simples fato desta garotinha o cumprimentar todas as manhãs, lhe dava ânimo para continuar. Porém, fica ali parado até o meio do dia, silenciosamente, observando os transeuntes, os pássaros e as paisagens.
Em certo dia chuvoso, ele não estava sentado no banco da praça ao ar livre, mas em pé no coreto, segurando em uma das mãos a sua bengala e na outra um guarda-chuva.
Um jovem esbelto, de cabelos lisos sobre os olhos, se abrigou ali também. Havia chegado às pressas.
"E aí!" – disse o jovem.
O velho olhou espantado pelo seu linguajar e apenas consentiu com a cabeça, mas não disse nada. Apenas observou a cena.
"Que chuva, hem?" – exclamou o jovem, retoricamente.
"O que tem a chuva?"
"Água ué!" – disse sorrindo como um tolo.
"Errado você não está."
"O que está fazendo aqui vovô?"
"Eu não sou seu avô."
"Tá bom, mas relaxa velho, é só um jeito de falar."
"Quem disse que sou velho." – questionou com aspereza.
"Ok, ok!" – apaziguou o jovem.
Naquele instante a chuva se intensificou e o vento borrifava-a no coreto.
O jovem se agachou tentando se proteger melhor, enquanto o velho abria o guarda-chuva.
Dobrando a esquina uma linda jovem, parecendo não se importar com a chuva, caminha em passos lentos, olhando os próprios pés. A chuva escorria sobre os seus olhos e tornava tudo turvo ao seu redor.
O jovem, do coreto, se apruma e com visão fixada, observa a moça. O velho, interpretando tudo, lhe entregou o guarda-chuva dizendo:
"Vá logo antes que pare de chover."
"O senhor não vai precisar dele?"
"Não seja estúpido, vá logo."
O rapaz desceu os degraus e com o guarda-chuva em punho se aproximou da jovem que sorriu agradecida com o gesto de cuidado.
O velho, que assistia de camarote, sorriu finalmente.