A Vida de Dominik Panek

- Volte amanhã - me disse a bibliotecária. - Pode ser que o livro já tenha chegado.

Apoiei as mãos no balcão da biblioteca, desconsolado. Só havia um único exemplar de "A Vida de Dominik Panek" no acervo, e ele quase sempre estava emprestado. Eu só podia torcer para que o leitor atual fosse mais rápido do que a média. O que, aliás, me deu uma súbita ideia.

- Poderia me dizer ao menos quem fez o empréstimo?

A bibliotecária me olhou por cima dos óculos.

- Você sabe que não é nossa política dar este tipo de informação - respondeu.

- Talvez seja alguém que eu conheça... - expliquei-me. - Não quero nenhum detalhe pessoal além do nome.

Ela continuou a me encarar como se estivesse avaliando o propósito do pedido. Finalmente, balançou a cabeça em concordância.

- Está bem. Apenas o nome.

Correu os dedos pelo fichário à frente dela e extraiu um cartão.

- Marzena Daniel - leu rapidamente, antes de devolver o cartão ao fichário.

Agradeci e me despedi. O nome não me dizia nada, mas eu poderia verificar num terminal de consulta da universidade se ela era aluna, técnica, ou professora.

Professora, constatei pouco depois. Não era uma boa notícia, pois ela poderia renovar o empréstimo ao fim do atual. Estudantes e técnicos não tinham esse privilégio.

Fui até o departamento dela, Letras. A professora Daniel lecionava filologia, o que não me parecia ter nada a ver com Dominik Panek. Mas eu precisava ouvir isso dela.

- Não, não estou fazendo nenhum trabalho acadêmico usando a biografia de Panek - divertiu-se, quando lhe perguntei sobre o exemplar. - Mas você, qual o seu interesse nela?

- Sou aluno de História - apresentei-me. - Marcel Barna. Precisava da obra para um seminário que irei apresentar semana que vem.

- Prazo curto, hein? - Ela me lançou um olhar de compreensão. - Está bem, me comprometo a devolver o livro à biblioteca amanhã, e deixar na reserva para você, desde que me retribua o favor.

- De qual forma...?

- Se importa se eu for assistir ao seu seminário?

Marzena Daniel era talvez dez anos mais velha do que eu; cheinha, mas indiscutivelmente bonita. Fiquei lisonjeado.

- Será uma honra tê-la na plateia - declarei com sinceridade.

A professora Daniel sorriu. E a minha responsabilidade em apresentar um bom seminário subitamente foi além da necessidade de tirar uma boa nota.

- [24-01-2021]