IMAGEM GOOGLE: COMEMORAÇÕES ANO NOVO EM TIMES SQUARE (NY)




 
NEW YORK, NEW YORK


 
As horas passaram rapidamente desde que chegaram à Big Apple, foi só apanhar um táxi e dirigirem-se ao hotel, pequeno e simpático, mesmo no coração de Manhattan. Depois de arrumarem os poucos pertences, refrescaram-se e sairam para a avenida. Estava frio mas isso não os intimidou. Era o último dia do ano e já se sentia no ar a ansiedade pela chegada de 2021, totalmente preenchido com a esperança nas vacinas que a prazo resolveriam o problema da pandemia. Muita gente com máscara mas também alguns sem ela, ostentando no rosto aquele orgulho inconsciente que nada teme. 
Conforme Edu e Inês foram avançando para sul, as pessoas foram aumentando em número e formando grupos. Já anoitecera há muito e a noite envolvia tudo, mas Nova Iorque é a cidade das luzes e na avenida onde transitavam, quase não havia recantos menos iluminados.
A pouca distância de Times Square, enfiaram-se num restaurante que lhes pareceu acolhedor e com menú para todos os gostos. Comeram pouco, tinham sobretudo sede. Água, muita água. Deixaram-se estar a conversar distraidamente, através da montra viam as pessoas, umas caminhando, outras paradas, formando pequenos grupos, que aos poucos foram engrossando.
Edu viu as horas no celular, as vinte e três aproximavam-se rapidamente e começa a ver pessoas deambularem com garrafas de álcool, possivelmente champanhe ou outra bebida, preparando-se para a contagem final e saudação do novo ano. Ao ver tanta aglomeração, pensou em outros países, certamente com um panorama de mortes e infetados mais favorável que os States, e onde as autoridades tinham decretado de forma rígida o confinamento, proibindo a circulação na rua a partir de determinadas horas. Lá não haveria bebidas nas ruas nem desrespeito pelo distanciamento social.
Então convidou Inês para regressarem rapidamente ao hotel, da janela do quarto poderiam observar as comemorações de forma mais segura. Ela concordou e um pouco a custo, dada a multidão que entretanto se ia avolumando, aceleraram o passo e Inês sentiu o braço protetor de Edu, cuidando dos choques inevitáveis com os transeuntes que iam em sentido contrário.
Chegaram à porta do hotel, Inês respirou de alívio, subiram no elevador e uma vez no quarto, Edu deixou-se cair na cama, um pouco arrependido de terem vindo passar a virada de ano aquela cidade tão agitada. Decerto que nos dias seguintes iriam sentir a sua decisão acertada, tão interessantes as visitas se iriam tornar. Nova Iorque sempre será Nova Iorque, pese aquela maldita pandemia...
Inês deitou ao lado, e aninhou-se nos seus braços... Conheciam-se há pouco tempo, tinha sido um amor à primeira vista... quando o beijou pela primeira vez, sentiu aquilo que nunca sentira antes... uma emoção inexplicável, todo o corpo arrepiando, mas era uma sensação mesmo agradável... e o toque dos lábios dele, gentis e macios, impeliu-a a abraçá-lo com um misto de desejo e ternura. Mesmo nos momentos de maior entrega, não sentiu retraimento, antes um à-vontade que a maravilhou. O amor era aquilo mesmo com que sempre sonhara, desde a adolescência. E sabia que a maioria das suas amigas nem sabia o que isso era...
Aninhada nos braços dele, Inês começou a falar:
- Sabes? Dás-me bastante confiança... Tenho muita vontade de passar horas e horas em teus braços, de passear contigo de mãos dadas, de ir ao cinema abraçada, de fazer coisas banais que em conjunto ganham todo o significado. Eu adoro-te e tudo o que fizer contigo será especial e inesquecível. 
Quero ver-te partindo e voltando, comendo os pratos que fiz com todo o amor, quero ver-te sorrindo ao me encontrares cuidando das flores do jardim.
Quero que me ajudes a escolher os vestidos que usarei e mesmo que reclames se achares algum muito curto, esse ciuminho será devido ao imenso amor que por mim sentes.
Quero que me ajudes a mexer massa de bolos que irei fazer no meio de uma qualquer tarde de sábado. E polvilhados de farinha, faremos amor sobre a mesa da cozinha e iremos rir à gargalhada das nossas figurinhas...
Quero te ver dormir, tão lindo, e ficar velando o teu sono, emocionada, apaixonada.
Quero que me ensines a desenhar direito, e que me deixes fazer massagens nas costas quando chegares cansado.
Quero ser tua gueixa, tua namorada, o teu amor.
Amo-te, como nunca amei ninguém no meu passado...

Ela parou de falar e olhou-o fixamente. Ele tinha os olhos molhados, tão querido era...
Apertou-o ainda mais contra o peito e sem que ele pudesse falar, de súbito foram impelidos a espreitar o imenso barulho que subia da rua... Foguetes estouravam no céu, as pessoas aglomeradas gritavam vivas ao novo ano, chegado há momentos... O ruído era ensurdecedor, parecia que todos tinham endoidecido...
Edu olhou para o pequeno aparador e agradeceu mentalmente a ideia dos responsáveis do hotel em terem lá colocado uma pequena garrafa de espumante e dois flutes. Pegou-lhes, derramou uma pequena quantidade em ambos os copos e deu um a Inês. 
- Que contemos muitos, meu amor, sempre juntos e vivendo num mundo só nosso, tolerante e apaixonado. E que daqui a muitos, muitos anos, possamos fazer nesta altura, esta mesma viagem e recordar aqui como este amor que nos une é especial e eterno.
Edu olhou-a e sentiu as lágrimas dela rolarem pela face. Certamente que eram lágrimas de felicidade, a mesma emotividade que ele também sentia. Ela era mesmo a tal, desde há algum tempo sentia isso de forma intensa, quando a conhecera parecia que até tinha vivido com ela um grande amor outrora, talvez numa outra existência, não sabia explicar...
Beijou-a apaixonadamente e depois quedaram-se ali abraçados, curtindo aqueles momentos de enlevo e paz em contraste com o ruído exterior.
Decididamente, tinham entrado em 2021 com o pé direito, mesmo dispensando as tais doze passas...







 




 
NEW YORK NEW YORK   - FRANK SINATRA



 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 01/01/2021
Reeditado em 03/01/2021
Código do texto: T7149389
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