Rodoviárias

Numa rodoviária eu desço. Não tem ninguém me esperando. A ansiedade é maior por isso. “Tô indo praí agora.” Espero, olho os avisos na parede, uma criança pergunta pra mãe se o ônibus ia demorar. Estava bem cheio. Era feriado.

Chegou. Tinha um jeito sério. Era mais bonito que as fotos que vi. Não me lembro como nos cumprimentamos. No ponto, esperamos o ônibus por pouco tempo. Conversamos amenidades. Estava morrendo de vergonha, tímido que sou.

Nos sentamos em lugares separados, não tinha lugar perto no ônibus. Me senti aliviado, poderia pensar em alguma coisa pra dizer quando chegássemos, isso me pouparia de falar qualquer coisa pelo caminho. Estava realmente envergonhado.

Descemos. Ele me contou sobre onde morava. Me disse que o lugar era tão sossegado a noite que dava medo. Me mostrou a entrada, me disse pra ficar a vontade. Coloquei minhas coisas no chão. Nos olhamos.

Beijá-lo foi como andar de moto pela primeira vez. Eu senti que seria diferente. Seu abraço era como um afago na alma.

Ironicamente foi numa rodoviária que nos vimos pela última vez. Dessa vez sem beijo. Sem abraço. Sem carinho de amor. Aspereza em vez de desejo. Raiva ao invés de carinho.

O que não mudou é a saudade. Não é mais aquela de esperar a semana seguinte pra olhar em seus olhos de menino. Aquela era uma saudade com esperança.

Agora é uma saudade desesperada. Doída. Não que a outra não doesse, mas essa a dor não vai passar. É saudade de angústia. Saudade de lamentação.

É a pior de todas as saudades, a de resignação.

Gilberto Junior
Enviado por Gilberto Junior em 26/12/2020
Reeditado em 26/12/2020
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