Loucura - PerfeBleu

" Querido diário, que jogarei fora antes que termine de escrever. Tenho tido noites interessantes com a srta. Catharine do nono andar, ela frequentemente me manda cartas, e eu a respondo da mesma forma. Quando nos vemos no corredor, não nos falamos e fingimos que não nos conhecemos. Mas pelas cartas somos intensos interlocutores. No mais, não ocupo com outra coisa senão pensando em assuntos interessantes para responde-la.

Posso perceber nela uma alma poética e tristeza sublime, que a inunda de pensamentos e confusões em sua estranha mente, todas as noites antes de dormir. E possivelmente é a pessoa que no mundo, mais me identifiquei até hoje.

Hoje lhe contei sobre toda a história que vivi com a digníssima senhorita Alessandra. Ela me escreveu dissertando a respeito do amor, e sobre a persistência da memória. Ela tinha uma forma graciosa de versejar, e uma tendência sútil a copiar alguns estilos alheios, principalmente os do senhor Oscar Wilde, mas preferi não fazer tal observação a ela pois poderia envergonha-la de alguma forma, além disso era um reflexo de seu ótimo gosto de leitura.

— Digníssimo William que não sei o sobrenome, você já parou para pensar que talvez essa paixão seja nada menos que uma persistência da ilusão? Digo, uma forma estranha de obsessão baseada no fato de que se negas a admitir que enfim superou a paixão por Alessandra. Lhe garanto que não há mais amor por ela, e sim, apenas uma negação em se libertar. E isso parte diretamente de você.

A respeito dela, a considera como uma moça comum, do dia a dia, tal como eu ou a Maristela que é síndica. Está se prendendo por pouco e sofrendo atoa, tenho certeza que já a superou e falta apenas um pouco de coragem para enfim sair da vida dela.

Assim disse Catharine, sem fazer rodeios a respeito de minha condição. Confesso que devo parabeniza-la por tal observação tão pertinente.

Hoje me fui naquele lugar (perto do primeiro apartamento), e comecei a refletir sobre o que ela disse.

Enquanto ainda pensava, olhei para o céu e vi Fento se aproximando com suas asas de pomba pelo céu estrelado. Ele se apoiou em uma grade, e começou a falar comigo. Disse-me: Vim ter contigo William, diga para mim o que se passa...

— Fento, sua visita é me extremamente oportuna. Observa o seguinte, ainda não esqueci Alessandra e sua lembrança continua se arrastando por entre meus pensamentos mais obscuros. Como pode uma pessoa ser tão pertinente na mente de um outro? E o porquê, não consigo nunca esquece-la?

— Não é raro te ouvir reclamar sobre essas coisas... A única razão pelo qual ainda não esqueceu ela, não que vá realmente tira-la da mente, é porque você ainda está preso nessa ideia. O que nos faz sofrer é a falta de retribuição do sentimento, ou seja, a expectativa de ser amado de volta. E é nisso que você peca... Por que ainda espera algo dela?"

Assim ia enlouquecendo William, tendo visões e ilusões que escapavam da realidade. Tudo por causa de um amor não correspondido, e não declarado.