Diga, Alessandra - PerfeBleu

As meninas estavam bastante empolgadas com o novo crush de Alessandra, e então elas estavam a encorajando ao máximo para ela se declarar, porém ela ainda relutava constantemente com timidez:

— Ai gente eu tenho vergonha... Eu nem conversei direito com ele, e tipo, não sei se ele vai gostar de mim... Me deixem pelo menos conhecer ele um pouco melhor e daí eu tento falar com ele...

— Não, você vai com a gente agora falar com ele. — Disseram elas em coro. — Toda vez é isso, você enrola e fica stalkeando o pobre do menino no Facebook, e depois quando vai falar com ele assusta o rapaz. Vai ser bom para você se declarar assim, fica tranquila não é um bicho de sete cabeças. Primeiro que o “não” você já tem, e se, ele não quiser nada, então pelo menos você vai ter sido sincera.

Mas você é tão linda e simpática, é difícil pensar que ele não iria gostar de você... — Acrescentou Ana

Depois de convencida, as meninas acompanharam Alessandra em busca de William, que nada sabia o que o esperava.

Avistaram ele sozinho comendo bolo em uma pequena vasilha de plástico, na verdade ele estava comendo os últimos farelos do bolo distraidamente, numa cena um tanto engraçada.

Elas chegaram sorrateiramente, de modo que ele não se preparava para sua chegada.

Elas pareciam risonhas, enquanto Alessandra timidamente se escondia atrás da Carol, Ana e a Júlia se sentaram e puxaram assunto, enquanto William observava sem entender a cena.

— Eii Will, como você vai? — Começou pela Ana o assunto, e ele igualmente envergonhado só conseguiu responder “V-Vou tranquilo e vocês?...”

— Ahh Vamos bem...

...

O assunto deu uma pausa ali, com elas o encarando bizarramente, como se segurando o riso, enquanto ele ainda mais envergonhado por causa do silêncio constrangedor. Depois de pensar um pouco, ele concluiu do que se tratava a abordagem questionando:

— Eu fiz alguma coisa de errado? — Ele disse isso com uma voz muito tenra e suave, de quem realmente estava acuado. As meninas deram algumas risadas e começaram a o elogiar dizendo que ele era realmente muito fofo, assim como Alessandra descrevera. “Essas meninas são doidas, eu não falei nada...” Pensou ele enquanto ria também desesperadamente tentando fugir daquela constrangedora abordagem.

Júlia puxou o assunto novamente dizendo:

— Nossa Ana, você não sabe conversar direito com ninguém, você está ASSUSTANDO o menino — Disse entre risos, e daí virou em direção a ele.— Então William, deixa eu te explicar o que está acontecendo... Tem uma menina que gosta de você, mas ela está tímida pra se declarar, ela queria saber se você tem namorada, ou se você está solteiro...

William não acreditava naquelas palavras, isso porque bem a sua frente, uma menina extremamente tímida se escondia atrás de uma outra garota, essa menina era justamente Alessandra, a garota por quem ele se apaixonara a poucas semanas atrás. Então ele deduziu naturalmente que a menina tímida que estava apaixonada por ele era exatamente Alessandra, e foi essa constatação que fez ele tremer de medo e ansiedade, pois não sabia como reagir.

“ Se eu disser que estou solteiro, então a Alessandra vai se declarar para mim? Mas não tem como ser ela, ela é extremamente mais bonita que eu e mais inteligente... A menos que eu tenha superestimado ela... Ou talvez eu só esteja com esperanças falsas? E se eu estiver me enganando achando que é ela? Então é melhor eu dizer que estou namorando? Mas se não for a Alessandra, eu preciso saber quem está gostando de mim de qualquer forma, não posso deixar uma pessoa dessas em anonimato amoroso...”

Tal pensamento se concebeu em frações de segundos e momentos, antes de sua resposta, tal ação só era possível devido a grande quantidade de emoções a quais ele estava sendo exposto naquele momento, lembrando que o simples fato de estar perto de Alessandra já o deixava extremamente desajeitado, pois ele não sabia como agir perto dela.

— Eu estou solteiro atualmente, mas não tenho planejamento de ficar com ninguém por agora... Será que vocês não poderiam dizer pra essa menina que por agora eu estou solteiro, mas é muito improvável que eu aceite namorar?

Ele disse isso de modo muito estratégico. O plano dele era o seguinte: Se a menina que gostava dele fosse realmente Alessandra, então o efeito daquelas frases a faria ter uma reação corporal instantânea (então ele não tirou os olhos dela, tentando observar o efeito de sua frase final) além de um efeito de escassez por ele estar “supostamente ocupado”. Já se não fosse realmente Alessandra, a menina que gostava dele, ou ela iria apenas desistir ou tentaria o procurar em particular para confirmar a veracidade da história das meninas.

Isso dá ligeiramente certo, pois após essa frase, Alessandra toma uma postura um pouco mais interessada no assunto, como se tivesse algo a falar. Tal movimento dela foi mínimo, mas para os olhos atentos de William eram mais que suficientes para a seguinte conclusão:

“Ela reagiu as minhas últimas palavras, mas não tanto quanto eu esperava. O que eu posso concluir, é que se não for ela a menina que gosta de mim, então ela está diretamente relacionada com ela... Mas isso não explica o fato de ela estar tão tímida atrás da outra garota... Então tem que ser ela, a menos que haja algo que eu não tenha calculado...”

Em questão de inteligência, William e Alessandra estavam equiparados.

Após sua frase, as meninas pareciam um tanto menos empolgadas em continuar a conversa, e constantemente davam olhares rápidos em relação a Sam esperando reação.

Júlia respondeu, aproximando as mãos perto das de William:

— Mas por acaso, você está gostando de alguém atualmente?

Ele não esperava por essa pergunta, e sem tempo de disfarçar, respondeu — Como assim? — Dizemos isso quando o cérebro precisa de mais tempo para formular mentiras. — Eu tenho uma pessoa em mente atualmente... — Ele levemente afastou seu olhar de Alessandra, para não a vê-la nos olhos. — Mas eu não acho que tenha muitas chances com ela... Ela é tipo a mais inteligente e bonita da escola (na minha opinião), e ela é muito concentrada nas aulas, então não deve querer saber de namoro...

— E QUEM É ELA??? — Disseram as garotas atônitas e especialmente atentas nessa parte da conversa. A próxima resposta de William foi matadora para Alessandra começar a tomar parte no diálogo:

— É uma amiga de vocês. — Antes que elas pudessem perguntar quem era, ele acrescentou — Mas eu não vou falar quem é, senão vai chegar até ela. E eu não quero que ela saiba dos meus sentimentos.

Alessandra, cujos olhos brilhavam enquanto procuravam por William, agora pareciam desapontados e sem esperança ao ouvi-lo falar. Na verdade, o maior sinal de sua decepção, foi o mero fato de ter movido seus pés levemente em direção contrária à de William. Tal movimento foi novamente minuciosamente notado por ele.

Porém em um segundo movimento que contrariou todas as percepções minuciosas de William, ela tornou sua voz mais alta em meio a inúmeras risadas e indagações, e disse:

— Gente, pera ai rapidinho deixa eu falar uma coisa... — As meninas logo se calaram para ouvi-la, e instantaneamente o coração de William disparou ao vê-la em pé tomando a iniciativa da conversa, na verdade, a imagem dela conversando sobre, ou diretamente com ele, era por si só preciosíssima, tal como ouro.

— Mas você sabe se essa menina que você gosta já tem namorado? — Disse Alessandra enquanto se sentava também, o encarando vigorosamente no olhar. Ele engoliu as palavras e agora teria que desenvolver melhor sua quase-mentira. Na verdade, por se tratar de uma quase verdade, era mais fácil para ele criar argumentos ao seu favor, do que se fosse uma história falsa.

— Ela? Como eu vou saber de uma coisa dessas? Alessandra? Não sou do tipo que pergunta, na verdade, eu dificilmente crio coragem para dizer alguma coisa...

— Eu não vou insistir para você dizer quem é, mas se você dar uma dica a gente pode te ajudar com ela. Você falou que era nossa amiga, não é? Então pronto, a gente pode falar bem de você para ela...

— É que... — Internamente William riu-se pela ironia de Alessandra ser a menina que ele gostava. Mas ao mesmo tempo, teve maldade o suficiente para entender que as perguntas de Alessandra eram puramente estratégicas com o objetivo de sorrateiramente descobrir a informação. Ele entrou no jogo dela. — Mas é que ela é muito focada nos estudos, e na verdade ela também é muito bonita, até demais para mim. Eu não creio ter chances, na verdade, eu tenho certeza que eu não tenho chances.

O jogo dele era simples, iria demonstrar insegurança e falta de alto-estima para ver se Alessandra falaria bem dele (comportamento típico de pessoas que estão apaixonadas), ou se ela apenas concordaria com o que de ruim ele falasse sobre si próprio ( e isso indicaria total falta de interesse dela.)

O jogo dela era mais complexo, ela tomou todas as forças para esconder sua timidez e entrevista-lo ativamente. Levando em consideração as duas pistas que ele deu sobre a garota (Ela ser próxima das amigas de Sam, e que ela era muito estudiosa) dava-se para facilmente deduzir quem era pelo processo de eliminação. Mas, ainda faltava o viés de confirmação. E então Alessandra tinha 3 hipóteses em mente sobre a identidade da garota que ele gostava:

Primeira: era uma garota que não estava presente naquela conversa.

Segunda: uma garota que estivesse presente naquela conversa.

Terceira: a própria Alessandra.

Sim, Alessandra tinha uma leve suspeita de que se tratava ser ela, e tal suspeita a enchia de esperança e alegria, de modo que ela conduziu a conversa para testar a terceira possibilidade...

— Não diga isso de si mesmo, você não é feio e nem é mal educado. Tenho certeza de que ela iria gostar muito de você, mas se você ficar calado e nunca se confessar, nunca vai saber os sentimentos dela... Lembre-se que o “não” você já tem.

Já estava confirmado, Alessandra era a garota que gostava dele. E com tal constatação, ele começou a ostentar um breve sorriso de alegria e de vitória enquanto formulava a próxima frase:

— Obrigado pelas palavras Alessandra, mas pense no amor como a coisa mais complicada do mundo. Nem sempre se apaixonar é algo positivo. Para falar a verdade, é mais comum sofrermos na paixão do que conseguirmos usufruir dela. Tenho esse medo de fazê-la sofrer, ou também ser ferido nessa situação. Pode parecer algo bobo, mas é muito sério. Tive um colega de gostou de uma menina por 12 anos. Ele nunca namorou pois achava que um dia iria reencontra-la, mas ele acabou sendo rejeitado e todo esse sentimento o traumatizou.

Acho que as vezes a vida foi feita para ser vivida sozinha, sem ninguém...

As três garotas não se importaram com a última frase dele, fora Alessandra, cuja sensibilidade filosófica a permitiu ter destreza para argumentar sobre essa questão. Pois ficou intimamente tocada por essa última frase, de modo que ela deslocou o assunto para um outro patamar de profundidade:

— Eu acredito que te entendo... A maior parte das pessoas que conheci passaram por experiências ruins no amor... A pior experiência é sempre a perda de expectativas, você doar tamanho tempo para alguém, ou na idealização de alguém, e no fim ver todas essas expectativas serem jogadas no lixo através de uma rejeição é simplesmente doloroso.

Então não há como te criticar por querer evitar tais sentimentos, porém, assim como não há garantia da felicidade, também não há garantia da infelicidade.

Muito do sucesso que alcançamos na vida vem através de incontáveis tentativas. — Ela tomou uma postura mais a vontade e agora começou a tomar espaço na conversa.

— Porém, no seu caso... Você parece se contradizer... Se você gosta tanto assim dela, assim como afirma gostar, por que então diz que a vida as vezes parece ser feita para ser vivida sozinha? Você diz que gosta, mas ao mesmo tempo nega a paixão. Como pode, pois, tal dualidade?

Alessandra o olhava nos olhos e sua feição demonstrava interessante concentração. Uma vez começado um assunto filosófico, ela não conseguia deixar de expor suas ideias mais profundas, uma vez que sua natureza curiosa e questionadora se aflorava.

William sentiu-se convocado para participar daquela conversa, porque uma sensação de animação o percorreu o corpo. Logo, ele decidira que iria o mais longe possível, destrinchando e desconstruindo os argumentos dela, para ver até onde a inteligência dela a permitia argumentar. Então, usando toda sua capacidade mental para aquela conversa, em especial, Will retrucou:

— Isso mesmo Alessandra, você percebeu algo que dificilmente os outros percebem, mas ainda assim você errou no seu argumento...