Um Presente do Amado

Por Nemilson Vieira (*)

Ia com a mãe à quinta – terreno formado de pastagens para os animais – buscar lenhas, quebrar cocos babaçu...

Um tatu ao descansar no tempero ser cozido no leite deste coco fica bom demais da conta; se degustado com o cuscuz de milho, melhor ainda.

Éramos muitos irmãos; a mãe nos ensinava os afazeres domésticos. – Bem como à culinária, a limpeza das vasilhas, da casa; o cuidar dos bichos. Fazíamos tudo com gosto e capricho o que nos era proposto, sem tantos reclames.

A mãe era uma pessoa simples, humilde e boníssima ao extremo; acima de tudo, muito temente a Deus.

O filho costuma ser a cópia dos pais em muitos aspectos...

Não me lembro de contendas lá em casa; umas rusgas devia haver, mas nada que atrapalhasse; o papai também era um poço de bondade!

Vivíamos rodeados por todos os lados de muito carinho e amor! Éramos realmente felizes.

Usavamos as vassouras de raminhos de beira de estradas, feita por nós mesmas – para varrermos a casa, os terreiros.

Veio o meu primo, o Natan, na minha direção com um embrulho nas mãos; um momento marcante!

Ficamos por alguns instantes, estáticos, a nos olhar...

Os meus olhos pequenos brilhavam como uma constelação inteira; o meu coração pequeno, não me dava sossego. Insistia num descompasso sem medida; num baticum sem fim.

-- Ofereço-lhe esta lembrança faça um bom uso! É a melhor coisa que alguém pode dar ou receber. – Não pela importância econômica, mas pelo valor espiritual. 

Fora o primeiro presente que recebi na vida. Nem sabia se existia essa coisa de “presentes”, fiquei numa felicidade extrema, num estado de graça mesmo.

Beijos, abraços e muita emoção envolvida nesta história!

Mostrei o presente à mãe, contei-lhe o que acontecera; era uma linda Bíblia Sagrada e ficou feliz como eu!

Naquele tempo não se encontrava uma em qualquer lugar. Raríssimas pessoas podiam possuir um exemplar. Talvez alguém morrera no desejo de possuir uma Bíblia.   

Os irmãos mais simples da igreja iam quilômetros e quilômetros de distância das suas residências, a pé, para participar dos cultos evangélicos.  

O meu pai era agricultor; nas suas roças eram cultivados: feijão, arroz, milho, melancias e outros mantimentos de subsistência familiar; ficou feliz também com o meu presente ao chegar do trabalho.

Fui ao culto com a minha Bíblia nova; queria logo, contar às bênçãos, mostrar aos irmãos da igreja, a todos quantos pudessem, o que ganhara.

Havia uma tristeza do lado que não devia contar: eu não sabia ler, mas não fora o fim: fui alfabetizada por ela (a Bíblia).

A minha alegria maior estava e está em Deus. Desejo que o mundo inteiro O veja e saiba o quanto é maravilhoso, o que pode fazer por nós.

Mesmo se houver algumas tristezas da vida por perto a verdadeira alegria (Cristo em nós) é muito maior e contagiante...

Não conseguimos contêr tamanha alegria e ficar calado, uma vez connosco.

*Nemilson Vieira de Morais

Acadêmico Literário.