Pandemia
Em um tempo onde tudo estava ao contrário, as pessoas precisavam usar máscaras para (re)descobrir suas verdadeiras faces, ocultas pelos disfarces que escolheram vestir e pela gradativa desconexão de si mesmas. Buscavam com urgência imunizar-se do mais perigoso vírus que o ser humano já conheceu: a ignorância. Não se davam conta que a doença estava dentro delas e a cura, que parecia tão distante, jazia ao seu alcance. Cura antiga, mas ainda um pouco misteriosa para aqueles tempos. Os que a descobriram chamavam-na de amor e encontravam-na nas ações mais despretensiosas e cotidianas, no respeito, no acolhimento, no tom da voz, no silêncio, nas palavras escolhidas, na solidariedade, na relação com os animais e com a natureza, na gratidão por tudo que recebiam do planeta e do universo. Embora quisessem com todos compartilhar sua descoberta, eram considerados loucos ou idealistas, quando, na verdade, a cura era quase palpável pelos corações pulsantes e despertos.