O encontro de Duas Estrelas
Eis aqui um conto! Que fala de um encontro inesperado entre duas estrelas, e como diria o matuto, que prosa é essa sô? Eu diria que é uma prosa de amor! Não o amor que se espera ver entre um homem e uma mulher, mas o amor entre almas irmãs, que não são gêmeas mas que se completam com suas afinidades e singularidades; essa prosa é subjetiva e sonhadora, e não poderia ser diferente, talvez na vida real ela não poderia existir, mas para estas duas estrelas toda essa subjetividade faz muito sentido e elas conhecem bem o seu significado. Então, eis aqui uma prosa que não tem a pretensão de ser técnica e muito menos didática, talvez apenas poética, se é que isso é possível; como é grande o universo, milhares de milhões de estrelas que não se pode contar, muitas delas nem estão mais por lá, já se foram, um dia começaram com uma explosão de energia e alimentadas por seus próprios sonhos viveram o tempo determinado de suas vidas até que se extinguiram, elas estavam tão longe, que daqui de onde vivem os mortais ainda se pode ver a sua luz que não se apaga mesmo depois de extintas.
Em uma destas galáxias muitas estrelas estavam cintilando, e quais as chances de duas delas se encontrarem? Poucas eu suponho, porém não é impossível, muitas estrelas vagavam pelo espaço na esperança de encontrar algo que lhes completassem, em meio a elas uma pequena estrelinha do ocidente vagava, ávida por receber atenção, essa estrelinha estava cadente, viajando pelas galáxias esbarrando em outras estrelas, nestes encontros havia a troca de vontades, saberes, informações, desejos frugais, coisas boas e coisas ruins, mas como as estrelas são corpos de energia, essa estrela do ocidente não encontrava alguma outra semelhante com a qual ela pudesse alimentar toda aquela ebulição energética que havia dentro dela, então entediada ela simplesmente pairava, esperando que as outras a encontrassem de alguma forma. Até que uma certa estrela do oriente se apresenta, exótica, atraente demonstrando aparentemente ter uma alguma compatibilidade.
—Vamos sair desta galáxia para uma outra, disse a estrela do oriente, e logo a estrela do ocidente encantada pelo vislumbre de algo interessante e agradável que aquela exótica estrela oriental poderia lhe proporcionar, viu grande potencial de alegria e prazer, e sem pensar aceitou de pronto o já esperado convite de mudar-se de lugar, mostrando para a outra o caminho no qual havia de seguir para que pudessem estar juntas. Mas as galáxias são grandes; e tão empolgada a estrela do ocidente não se atentou em esconder das demais estrelas que ali estavam o caminho que levava até si.
Uma galáxia menor, pouquíssimas estrelas em um lugar só seu, ali estava a sonhadora estrela do ocidente a espera daquela a quem abrira as portas da sua habitação, de repente um sinal; então pensou, ela chegou. De fato havia chegado uma estrela, que com trivialidade iniciou o diálogo se inteirando dos porquês e das intenções daquela que era a dona daquele lugar no qual havia entrado, inocente a estrela do ocidente começou a se abrir, em uma envolvente conversa que surpreendentemente foi evoluindo muito rápido, passando das trivialidades para temas mais profundos a ponto de que nenhuma das duas tivessem que fazer algum esforço para se manter naquela contagiante conversa, de repente outro sinal.
— Cheguei! Disse a estrela do oriente... espanto, surpresa, confusão!
— Com quem estou falando então? Se perguntou ela, e assim começou a dialogar também com a verdadeira convidada, ah! Mas aquela promessa vinda do oriente não estava mais tão boa assim, totalmente trivial e sem profundidade sem calor no peito e sem empolgação, poucos minutos de conversa e então.
— Adeus estrelas do oriente foi bom na verdade estar um pouco com você, mas as nossas energias não são compatíveis...
Voltando-se para aquela intrusa, a estrela do ocidente perguntou:
— Quem é você então?
— Também sou uma estrela aqui do ocidente, respondeu a intrusa, estava insaciável cadente vagando pelo universo de galáxia em galáxia, até que eu vi o seu caminho e por curiosidade decidi entrar por ele, de longe eu já podia avistar seu sorriso que como uma luz intensa brilhava mais que as outras estrelas.
Como um peixe fisgado a estrela do ocidente se deixou capturar pela gentileza daquela adorável intrusa, e já não fazia nenhuma importância se o convite tinha sido para aquela ou não, o importante é que ela estava ali e nenhuma outra estrela iria conseguir sua atenção. Como todas as estrelas elas têm luz própria, e eram produtoras e emissoras de energia, e a cada minuto que passava essa energia aumentava culminando em explosões de alegria, risos, espanto, desejo, felicidade e satisfação, descrita através das onomatopeias de seus corações.
Elas encontraram uma na outra coisas sublimes que estavam ocultas em meio à normalidade que cada uma alegava ser, encontraram afinidades, falavam uma da outra querendo falar delas mesmas e se assustaram ao perceber o quanto tinham em comum, criaram códigos que só pertenciam a elas, sim elas se entendiam perfeitamente, a troca de energia era tanta que não conseguiam mais se separar, criaram sonhos e por alguns instantes viveram eles. É tão lindo ver alguém sonhar, mais lindo ainda é quando alguém compartilha o sonho com o outro que está ao seu lado, não existe exposição tão grande quanto esta, não existe abertura maior para o outro do que relevar nossos sonhos e propor vivê-lo juntos.
O problema dos sonhos é que na maioria das vezes não passam de sonhos e não basta somente sonhar, queremos colocar em prática, o que nem sempre é possível e também não sabemos nos contentar apenas em sonhar. Estas duas estrelas sonharam alto, é um dia por algum infortúnio da vida por palavras mal colocadas e mal entendidas o sonho se quebrou como um delicado cristal, estilhaçado em muitos pedaços, o que causou magoa e decepção, tristeza e até mesmo um pouquinho de rancor. Foi doloroso para a estrela do ocidente, ela queria colar os cacos mas não sabia como, pois a adorável intrusa já havia reconhecido que talvez sonhar junto com ela tenha sido um grande exagero, e que sua vida já era boa o suficiente sem outras estrelas ocidentais ao seu lado, e que talvez essa estrela do ocidente não passasse apenas de uma momentânea distração.
Agora me parece que aquelas duas estrelas ainda estão lá no firmamento, acho que ainda não se deslocaram do seu lugar e não se tornaram estrelas cadentes novamente, ouvi um cometa dizer que parece que estão tentando colar os cacos procurando um propósito para dar um novo significado para aquele encontro tão surpreendente, o que vai acontecer não se sabe, os astros do universo esperam que essa amizade contada nesta prosa de amor não caia em um buraco negro e se perca na escuridão, mas que mesmo se elas mudarem para galáxias distintas, as boas lembranças as acompanhem por onde quer que passarem.