LIBERDADE
— Ei, sabe aquela pontinha de você?
Pois é, ela ainda faz latejar o meu coração e, foi pensando nisso, que hoje resolvi abrir o armário e me agasalhar com a tua saudade, já empoeirada pelo tempo.
Dei nela uma boa sacudida e a vesti.
Caminhei até a nossa velha árvore, aquela à beira do lago, com nossas inciais gravadas em seu tronco e ali me sentei.
Senti na pele a brisa fresca me acariciar, trazendo até mim, o gosto do teu beijo.
Num extinto quase materno, me abracei, e por um instante eu pude sentir o toque dos teus lábios sobre os meus.
Lembrei das nossas manhãs azuis, quando o brilho do sol brincava sobre os teus olhos cor de mel, era tão bom vê-los sorrir pra mim.
Desejei aos céus, outra vez, viajar no teu sorriso.
Sinto falta da tua voz no meu ouvido e da leitura dos teus dedos sobre a minha pele nua.
Tudo aqui tem tanto de você, mas nada tem o mesmo sentido, embora eu te sinta em tudo.
No horizonte o sol já se recolhe, levando com ele um suspiro meu.
É hora de voltar pra casa e parar de acreditar nessa falsa esperança em te ter outra vez, cansei de lutar contra a tua partida, preciso te deixar ir e enterrar o nosso passado.
Aprender a viver sem te ter é quase impossível, é insuportável, mas necessário pra o meu próprio bem.
Com o peito dolorido me despi da saudade e a enterrei ao pé da nossa árvore.
— Descanse em paz. Sussurrei.
Os céus choraram minha despedida e sem medo, abri as asas e voei.