LIBERDADE

— Ei, sabe aquela pontinha de você?

Pois é, ela ainda faz latejar o meu coração e, foi pensando nisso, que hoje resolvi abrir o armário e me agasalhar com a tua saudade, já empoeirada pelo tempo.

Dei nela uma boa sacudida e a vesti.

Caminhei até a nossa velha árvore, aquela à beira do lago, com nossas inciais gravadas em seu tronco e ali me sentei.

Senti na pele a brisa fresca me acariciar, trazendo até mim, o gosto do teu beijo.

Num extinto quase materno, me abracei, e por um instante eu pude sentir o toque dos teus lábios sobre os meus.

Lembrei das nossas manhãs azuis, quando o brilho do sol brincava sobre os teus olhos cor de mel, era tão bom vê-los sorrir pra mim.

Desejei aos céus, outra vez, viajar no teu sorriso.

Sinto falta da tua voz no meu ouvido e da leitura dos teus dedos sobre a minha pele nua.

Tudo aqui tem tanto de você, mas nada tem o mesmo sentido, embora eu te sinta em tudo.

No horizonte o sol já se recolhe, levando com ele um suspiro meu.

É hora de voltar pra casa e parar de acreditar nessa falsa esperança em te ter outra vez, cansei de lutar contra a tua partida, preciso te deixar ir e enterrar o nosso passado.

Aprender a viver sem te ter é quase impossível, é insuportável, mas necessário pra o meu próprio bem.

Com o peito dolorido me despi da saudade e a enterrei ao pé da nossa árvore.

— Descanse em paz. Sussurrei.

Os céus choraram minha despedida e sem medo, abri as asas e voei.

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 05/11/2020
Reeditado em 05/04/2021
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