Todo o meu carinho ao adormecer.

Todo o meu carinho ao adormecer.

Félix Hilton

Milena estava no auge de seu trabalho, andava pelo mundo todo em busca de lábios para realizar os trabalhos a que se propusera.

Na França encontrou lábios sensuais, aqueciam o frio do inverno transformando o amor em paixão, a tristeza em momentos de plena realização. Nas praças e shoppings apenas o “bise” famoso beijinho no rosto, poucos se atreviam a ir mais longe Cada uma das fotos trazia lembranças das donas dos sorrisos e da força das mulheres e homens com os quais havia se encontrado, procurava-os em praias, restaurantes, e mesmo nas ruas e sem titubear os abordava estivessem ou não acompanhados, vez e outra levou uma negativa, mas a grande maioria das vezes foi de êxito.

A desenvoltura da caçadora de beijos tomava as manchetes da revista que a contratara, este fato a ajudava porque muitos a reconheciam, já que era on line em muitos países, e cada um em sua língua mãe.

Ouvia as histórias e dava vida às fotos que focavam o casal e por vezes os lábios de ambos, mas claramente interessava-se geralmente por apenas um deles. Homens e mulheres com lábios bem feitos têm histórias de amor e romance mais desejosos de se ouvir, geralmente um e outro contam que os desejaram primeiramente pelos lábios e das delícias de seus beijos, depois pelas outras tantas qualidades.

Histórias de primeiros beijos são infinitas, as ouvi milhares de vezes e são tão diferentes que passei a acreditar que há uma força a controlar poesias e beijos.

Difícil entrar na intimidade de casais, com algumas exceções, tal como na Holanda, Filadélfia onde as conversas são bastante livres neste ponto, para os parâmetros brasileiros até demais.

Mas, quando se fala de primeiro beijos sempre tem uma pontinha de desinibição, casais gostam de citá-los, pois são muitas vezes roubados com alguma desculpa por trás do ato, enquanto que em outros casos a dança é o escolhido para as doces lembranças do beijo que dá início a um grande amor.

Beijo é encontro de amigos, de paixões, e até mesmo de inimigos como o beijo da morte comum entre os mafiosos, e há beijos que são simples cumprimentos e nada tem a ver com a sexualidade como é entre russos que usam até mesmo do beijo na boca normalmente em muitas regiões, como pintou Dmitri Vrubel.

Mas, Milena procurava por histórias inusitadas que chamassem a atenção do leitor, seguida de lábios estonteantes que se diziam ser de apenas um homem, ou de mulheres acompanhadas por algum felizardo que se encantara com a sua beleza.

Sentada nas praças sob o sol em terras sauditas ela observa os homens a cumprimentarem-se através do toque de seus narizes, estivera ali somente por curiosidade, um voo rápido com hora para retornar e ir de encontro à Holanda, país de muita liberdade em relação à sexualidade.

Enquanto aguardava o voo passou pela Praça vermelha, não podia deixar de sentar-se em algum ponto para observar os russos e o jeito de ser de um povo que diziam ser tão frios.

Lembrou-se então de sua ida ao Camboja onde conheceu a cultura Khmer onde o sampeah é o cumprimento mais comumente utilizado, o beijo nem é visto em ruas e mercados; não sabem o que perdem, o calor de um beijo mudaria a tez carrancuda por baixo das roupas quentes.

Em todos os cantos a alegria de ouvir as histórias junto às ótimas fotos que produzia superava o prazer de viajar apenas, amava cada lugar, mas as pessoas são únicas e cada uma delas merece estar nas linhas que permeiam a revista, sua escolha era simplesmente profissional.

Alex: Quando você chega com a matéria deste mês?

Milena: Estou indo à Holanda, mas já estou com bastante material, quer que envie?

Alex: Sim, manda para que a equipe técnica vá se organizando, mas pode deixar que a última palavra seja sempre a sua, além das fotos você tem as lembranças, isto está a seu favor.

Milena: Ok, em dois dias chego.

Na última edição ela citou a Itália e Espanha, mas agora estava por optar pela Holanda, tinha curiosidade de vê-los profissionalmente falando, pois já estivera lá por duas vezes.

No entanto nada se compara ao calor do beijo nas Américas, claro que há diversidades, mas no geral é muito bem explorado por casais, muitas vezes no primeiro dia em que se encontram, é um cartão de boas vindas, ou de não volte mais dependendo do calor do momento.

Quando jovem a mãe de Milena conta que era comum a disputa do beijo mais longo, atrás dos muros juntavam-se jovens que se mantinham em seus fogosos beijos por horas, mas mesmo sendo tão bom deixavam a competição certamente pelo cansaço dos músculos da face. Vera, sua mãe participara uma vez apenas, e com o companheiro de competição casou-se, foram apenas alguns minutos, o desejo já estava em seus corações, mas como se diz o tempo dos amantes são só deles e às vezes basta um chamego para reconhecer o amor de sua vida.

Conta a dona Vera que quando soube que ele participaria queria ser a primeira e única a desfrutar de seus beijos, perdeu a timidez e aguardou o momento.

Milena sempre quis saber o que ela disse a ele antes de beijá-lo. Dizem os que assistiam que ela cochichara algo no ouvido dele, mas ela nunca revelou. Coisa de amantes refletia.

Nas lembranças de nossa protagonista escondem-se cenas de seu primeiro beijo, dizia ter sido eloquente, ela quem o beijara e não ao contrário, mas ele dizia que a tinha procurado naquela noite, o certo é que foi apenas um beijo, o compromisso acabara ali, mas não foi por falta de desejos, ele partiria para o Canadá no dia seguinte e por lá ficaria por quatro anos. Trocaram mensagens e viram-se por vídeo algumas vezes, mas os caminhos se desfizeram com o tempo, hoje ele é apenas uma marca no passado.

Milena: Voo 303.

Recepção: Embarque no portão nove

Milena tinha um encontro com a Holanda, já antevia casais belíssimos; nas outras duas vezes que lá esteve saiu com um holandês, achou-o liberal demais, mas jamais se esquecera dele.

No avião olha as fotos que tirou em suas viagens, de antemão já sabia qual usaria em uma próxima edição, mas aquela seu coração estava programado para o destino daquele vôo.

Na Holanda a noite é agitadíssima, muito pelo uso de drogas em certos locais, mas também pela sexualidade que era bastante livre e dava a eles uma alegria que diferenciava de outros países que visitara. Os sorrisos produziam lábios carnudos que a hipnotizavam, e eles eram bastantes bonitos e suas jovens muito lindas, e havia logicamente os “homos e lesbisch” que alegravam ainda mais a noite.

Poliglota por natureza até que se comunicava bem com eles e conseguiu um vasto material nos dois dias que ficara, mas tinha que levar a produção para a revista, desta vez por estar a trabalho não se entregara a nenhum dos lábios que a seduzia, mas amaria poder levar mais uma lembrança de um país tão acolhedor.

De volta ao Brasil quis andar pela noite e observar a alegria dos casais que se entregavam ao prazer dos beijos, cenas comuns em todas as grandes cidades ao menos, no dia seguinte se apresentaria levando o resto do material.

Ao deitar-se lembrava do carinho que seus pais tinham em relação ao tema de sua matéria, e dos beijos de alegria da avó nenê que soltava lágrimas quando via os netinhos partirem.

Antes de adormecer desejou o beijo do Renan, mas o cansaço a dominara.

Sérgio Ricardo de Carvalho
Enviado por Sérgio Ricardo de Carvalho em 04/11/2020
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