O beijo gay - segunda parte

Caíque é o irmão mais velho do Pedrinho. Se destaca nos eventos esportivos do colégio, ganhando vários campeonatos, e por isso era muito popular. Esse dia, quando chegou do colégio, seu pai o informou:

- Amanhã cedo se arrume que vamos sair.

- Pra onde?

- Vamos assistir a um jogo no estádio.

- Que ótimo!!

- não vá com a camisa do seu time.

- Por que?? perguntou surpreso.

- Ouvi dizer que as torcidas estão muito exaltadas estes dias.

- Tá bom.

Pela manhã Caíque e seu pai tomaram um café da manha super animados e saíram pra assistir o jogo.

- Pai, você errou o caminho, o estádio do Palmeiras é pro outro lado.

- Hoje vamos ao estádio do Corinthians.

- Tá louco?? eu odeio o Corinthians.

- O time do Corinthians tem mais torcida e a festa no estádio vai ser bem mais bonita.

- Mas...

- Não tem mais nem menos. Vamos ao estádio do Corinthians.

Visivelmente irritado, Caíque assistiu ao jogo ao lado do pai. Na saída do estádio, o pai disse que iriam almoçar fora. Caíque prontamente pediu um rodízio de massas, mas o pai disse que iriam em outro local. Chegando a um restaurante japonês, Caíque o indagou:

- Tá louco, pai? odeio peixe cru. E desde quando vc gosta de comida japonesa?

- Meu filho, todo mundo hoje em dia come comida japonesa.

- Eu não vou comer isso!

- Então vai ficar com fome.

Irritado, Caíque ficou de cara fechada durante todo o almoço.

Na saída, o pai diz que irão ao cinema. Os dois adoram ver filmes de terror juntos.

"que bom", diz Caíque. "Tem um filme de terror ótimo que tô louco pra ver". Então seu pai responde:

- Eu já comprei as entradas pra um filme russo que tá todo mundo dizendo que é ótimo

- E daí que todo mundo tá dizendo? Eu não quero ver esse lixo!

- Já está comprado.

- Eu não quero ver!

- Então vai ficar de fora me esperando.

Irritado Caíque fala:

- Posso pelo menos comprar uma pipoca? tô com muita fome.

- Pode

Na volta pra casa, muito irritado, Caíque nem dirigia a palavra ao pai, que tentava puxar assunto:

- O que achou do filme?

- Péssimo.

- Todos elogiaram.

- Eu não sou todos.

Chegando em casa, Caíque desceu do carro batendo fortemente a porta e foi reclamar com sua mãe.

Agora, neste momento da história, tenho que contar um fato acontecido na tarde anterior:

Pedrinho chegara da aula visivelmente abalado e foi direto pro quarto. Sua mãe foi até lá perguntar se estava tudo bem. Ele disse que sim, mas o pai não ficou satisfeito com a resposta e resolveu insistir. Subindo ao quarto do filho:

- Pedrinho, você tá calado, me diz o que aconteceu.

- Nada não, pai. Deixa pra lá.

- Me conta, eu sou seu pai. Prometo que guardo segredo.

Foi quando Pedrinho abraçou o pai e começou a chorar.

"pai, o Caíque não gosta mais de mim".

"claro que gosta meu filho".

Contou que na manhã anterior, chamou os amigos pra verem a premiação do time de futebol, que tinha Caíque como capitão. Ao se dirigir ao irmão, ele o ignorou completamente, fingiu que nem o viu e depois mandou uma mensagem pro Whatsapp do Pedrinho.

"Deixe-me ver essa mensagem", disse o pai, visivelmente decepcionado.

"Não, pai, eu não quero que você brigue com o Caíque"

"Pedro, me dê esse celular agora" e leu a mensagem:

[não fale comigo em público. Desde que você foi pego beijando outro garoto no colégio eu decidi que não quero ser visto com você. Se resolver virar homem eu falo].

Voltando à história, depois que Caíque foi reclamar com sua mãe, muito irritado, sobre as atitudes do pai, ela veio falar com ele, bastante alterada:

Jonas, vc está louco? você fez o Caíque ver um jogo do Corinthians - que ele odeia - e ainda o levou pra comer sushi? sabe que ele não gosta.

"Depois te explico, vou lá no quarto do Caíque e já volto".

- Meu filho, preciso falar com você.

- Não quero falar com você!

- Mesmo assim eu gostaria que você me ouvisse, por favor. Fiquei muito decepcionado com você ontem.

- Por que? eu ganhei o campeonato do colégio, fui o artilheiro e você vem me dizer isso?

- O Pedrinho me contou o que houve. Sabe o tanto que ele tem orgulho de você, o tanto que ele gosta de você.

- Eu também gosto dele.

-O que você fez com ele ontem, não tenho nem palavras pra descrever.

- E o que ele fez comigo? me envergonhando no colégio? você não diz nada? Ele tem que virar homem, isso sim, ser como todos os homens da família.

- Lembra por que eu te levei ao jogo do Corinthians hoje? Mesmo você sendo palmeirense?

- Porque disse que tinha mais torcida e por isso seria melhor o jogo.

- E por que fomos no restaurante japonês, mesmo você não gostando da comida, nem eu?

- Porque tava na moda, você disse que todo mundo gosta de sushi!! Eu odeio!!

- E por que fomos ver o filme russo e não o de terror que nós adoramos?

- Porque todo mundo tava falando que era ótimo.

Caíque olhou fixamente nos olhos do seu pai. Agora tudo começava a fazer sentido.

- Meu filho, você deixaria de torcer pelo seu time de coração porque a maioria das pessoas torce pro outro? você deixaria de comer o que gosta porque tá na moda comer outra coisa? você deixaria de assistir seus filmes de terror porque as pessoas preferem ver os filmes do momento?

- Não, não, nunca!

- e por que você quer que seu irmão deixe de ser o que ele é e finja gostar do que ele não gosta só porque as outras pessoas querem?

- [silêncio].

- Você quer que seu irmão deixe de ser feliz pra te agradar?

- [silêncio].

- Você seria feliz fazendo só o que as outras pessoas dizem ser o certo? você seria feliz sabendo que seu irmão é infeliz?

Caíque então, chorando muito, abraça o pai.

"Desculpa, pai. Desculpa, pai",

e correu ao quarto do Pedrinho, que já estava deitado. Pulou na cama do irmão, o abraçando e beijando: "eu te amo! eu te amo! eu te amo!", repetidamente entre beijos. "Amanha é pra você ir me ver jogar"

"Mas..."

"Não tem mais nem menos, quero você lá, e se alguém falar alguma coisa eu quebro a cara deles"

"rs", "eu vou!".

O pai, que assistia tudo da porta se afastou pra que não o vissem.

Caíque se despediu do irmão com um beijo e um boa noite.

Após alguns minutos, o pai vai ao quarto do Pedrinho, que está dormindo com um sorriso nos lábios, dá um beijo no filho, que acorda sonolento e diz, meio que dormindo:

"Pai o Caíque me ama!"

"Eu sei, meu filho, eu sei".