Meu amor mais querido - PerfeBleu
Silencioso Encontro - PerfeBleu
Com o tempo, notamos que as histórias de amor e finais felizes, são simplesmente histórias. A realidade se mostra muito mais fria e crua do que apenas isso. Na verdade, é mais fácil garantir que você não encontrará felicidade alguma, senão o próprio contentamento, do que haverá alguém no final do túnel esperando por você... Não, não vai.
A menos que você jogue sua lanterna para alguém e tente, com suas falhas e seus erros, numa vida imperfeita, tentar alcançar sua própria felicidade.
Gustavo estava a um ano sem ver Alessandra. Talvez por imaturidade, decidiu se afastar achando que conseguiria se livrar de sua paixão com suas próprias forcas, porém o efeito foi contrário, esse sentimento só cresceu dentro de si. Ficou maior do que quando ela estava por perto, mas agora ele não sabia onde ela estava e a ideia de nunca mais a vê-la o atormentava todos os dias. Ele simplesmente se sentia um idiota por ter ido embora, sem antes ter tentado pelo menos amizade, mas ao mesmo tempo sentia que não queria ser um incômodo para ela, não queria fazer parte da vida dela se não pudesse ser útil para ela. No final, ele não se importou realmente com si mesmo, ele só se importou com a felicidade dela.
— Gustavo...
Ele olhou para a voz que o chamava, sem acreditar em quem estava a sua frente, apenas pôde responder gaguejando, enquanto começava a tremer e a soar frio:
— Alessandra... É você mesmo?
Ela riu, em um sorriso sem nenhum compromisso de ser lindo, porém não deixando de sê-lo, pelo menos na visão de Gustavo, que a olhava sem ainda acreditar em seus sentidos.
— Sim, eu sou essa pessoa... E você é o Gustavo, correto?
— Eu sou o Gustavo... E você é você...
Com tanto para falar sobre si mesmo, ele apenas perguntou sobre ela, como se urgentemente precisasse saber como ela estava, e sua atual situação.
— Como você está? Você está bem?
Ela não entendeu a profundidade daquela pergunta, pois não sabia dos sentimentos dele, então proveu para ele apenas uma resposta simplista, mas que para Gustavo, naquele momento já era mais que suficiente.
— Eu estou de boa... Olha, eu estou com o seu gato, já tem mais de 8 meses isso. Eu lembro que você resgatou ele na escola, mas aí ele apareceu de novo naquela rua e eu peguei ele para mim... Eu acho que você não liga, mas é bom avisar mesmo assim. Eu posso ficar com ele? Aliás, ele meio que já é meu, então... Tanto faz, mas já te deixo avisado.
Ouvir ela falar tão naturalmente de um assunto bobo o derreteu por dentro. Uma sensação de alívio imensa o tomou por apenas saber que ela estava bem e tranquila, mesmo não sabendo tudo o que ela viveu nesses 12 meses.
Se ele quisesse, poderia ter tentado puxar mais assunto para recuperar contato com ela, e nunca mais deixa-la sumir novamente.
Mas ele sempre sentiu que ela não pertencia a ele, e incoscientemente, tomou ação para dissipar a conversa e seguir seu rumo.
Ele sabia que cada segundo perto dela, iria gerar uma saudade impossível de se esquecer depois, e isso o levou a tentar acabar o assunto de uma forma evasiva, tentando se afastar dela novamente, como fez antigamente...
— Não tem problema, ele fugiu de mim a um tempo atrás. Eu nem procurei porque eu não tinha condições de cuidar dele mesmo. Mas que bom que ele está com você... Bom, eu tenho que ir agora porque estou atrasado... Te vejo na próxima, fico feliz de ouvir que você está bem... Bye
Disse ele enquanto se levantava e ia andando em direção contrária a ela, dando-lhe as costas. O coração dele esperava que ela o parasse ali, então talvez por isso, caminhava mais devagar que o normal, esperando para que ela o chamasse pelo nome.
Ele se esforçava para manter a compostura, embora estivesse muito trêmulo e ansioso, porém naquele ponto de sua vida, ele sabia ao menos controlar um pouco sua ansiedade e não demonstrou muita vergonha perto dela, na verdade, demonstrou uma forma estranha de frieza.
Alessandra franziu o rosto um pouco decepcionada, ela esperava uma recepção mais calorosa de um ex-colega de escola. Na verdade ela até preparou um texto só para puxar assunto.
Ela notou a rigidez do movimento e sua falta de naturalidade em quanto andava, ela não precisou usar nenhum pouco de sua genialidade para perceber que ele estava escondendo algo, e se fechando por razões obscuras.
Se fosse outro dia, ela apenas o deixaria ir embora sem dizer nada. Mas seus sentidos de mulher apontavam de que ela deveria para-lo antes que ele se afastasse mais. A coisa mais óbvia em que ela pensou para dizer foi:
— Gustavo... — Ele imediatamente parou seu caminhar e olhou para trás, visivelmente triste por estar se afastando dela. — Sinto muito pela sua mãe... Eu frequentava a mesma igreja que ela... Ela era uma boa pessoa.
Os olhos dele começaram a brilhar e a brilhar, até que começou a descontroladamente chorar. Depois de tantos meses tentando parecer forte e sem derramar nenhuma lágrima, ele não conseguiu se deter sob tamanha pressão sentimental.
Para qualquer outro homem, chorar na frente da mulher que gosta pode significar fraqueza, e ele também pensava assim.
Mas simplesmente não conseguia conter suas lágrimas perto daquela menina cuja feição mal lhe era fresca na mente.
Ele chorou e começou a cair sobre sua própria postura. Como se um enorme peso o fosse derrubando, ele se ajoelhou no chão e pediu, com uma voz cheia de amargura e arrependimento:
— Por favor... me ajuda...
Bingo, o pressentimento dela estava corretíssimo. Tocou na ferida que precisava ser sarada, e sem pensar duas vezes, ela usou todos os recursos psicológicos á sua disposição para acalma-lo e a ajuda-lo.
Por mais que ela não soubesse dos sentimentos dele, ela nunca foi uma má amiga. Na verdade, Alessandra era a melhor amiga que alguém poderia desejar, ela se preocupava com os outros como se fossem sua própria família.
Ela se ajoelhou e esperou em silêncio até que o choro mais intenso se passasse, e logo após, o envolvendo com os braços, em sinal de proteção começou a dizer:
— Cara, eu também já perdi as pessoas que eu mais amava. É uma dor horrível, eu te entendo, e sei que não vai adiantar eu falar nada aqui com você, porque só você mesmo entende a intensidade dos seus sentimentos.
Mas eu sei o que é estar e ser sozinha. Quando minha avó morreu, eu não tive ninguém pra me ajudar e pra me dar consolo. Nem mesmo minha mãe voltou para me buscar para morar com ela.
Foram os piores tempos da minha vida, eu me senti fraca e inútil, eu me senti tão perdida e diversas vezes eu quis me cortar e tirar minha própria vida.
Sua mãe se foi orgulhosa por ter criado alguém gentil e forte como você. Olhe para dentro de si e pense nas coisas boas que você já fez. Você é forte Gus, mais forte do que eu mesma...
Depois de muitas palavras de apoio, aos poucos ela o ia fazendo se levantar e a recuperar seu senso emocional. Pode parecer egoísmo falar sobre si própria enquanto ele chorava, mas esse era um truque que sempre funcionava quando alguém estava triste. Ela começava a falar das mesmas dores que ela já vivenciou, e isso de certa forma, atraía o foco da tristeza para ambos interlocutores.
Era um reencontro necessário para ambos. Naquele dia, Alessandra salvou a vida dele, pois Gustavo pretendia se matar naquela mesma noite.
E isso também salvou a vida dela, mas isso é algo para o futuro...
Depois de tanta guerra, agora era a hora de se recuperar o que havia se perdido, de curar o que se havia danificado...