PACTO DE AMOR

Brian Mcland aconchegou-se no divã de uma das melhores psicanalistas de Nova Iorque: Karen Lee.

A sala de consultas era suntuosa e requintada, as paredes pintadas de branco davam a sensação de bem-estar. A Dra. Lee era atenciosa e paciente.

— Como se sente hoje, Brian? — Perguntou a especialista.

— Um pouco melhor. Já sabe o que se passa comigo?

Era a quinta consulta de Brian, e Karen já detectou o mal que acometia o seu cliente desde a segunda consulta, mas aguardou o momento adequado para dar o diagnóstico.

— Você está passando por uma melancolia. Quando perdemos um ente querido, é comumente ficarmos tristes, o luto faz parte do processo. Porém você tem se bloqueado, não está deixando sair a dor que te aflige. É necessário sentir essa aflição, para se livrar dela.

— Como farei isso? Se perdi a única mulher que amei! — Brian exclamou, angustiado. Tamanho era seu sofrimento.

— Lembrando-se e se libertando. Conte-me, como você e sua esposa se conheceram, e conte-me também os momentos ruins que enfrentaram. Ainda se recorda dos detalhes?

Brian Mcland se recordava de cada momento. Fazia oito anos quando a conheceu, ele havia acabado de ser reformado, fora durante muitos anos um militar, servindo com honra o seu país.

O capitão Mcland já estava dispensado das suas atividades, poderia gozar da vida com o salário que o governo lhe dava. Para ele, era mais que suficiente; era solteiro e queria aproveitar para conhecer o mundo. Assim fizera, visitou a Alemanha, Noruega, Espanha, dentre muitos outros países. De cada um desses lugares trouxera um souvenir, para provar que desbravara a Europa.

No entanto, foi quando chegou a Amsterdã que seu mundo fora impactado. Brian ainda podia sentir a tarde quente e o sol escaldante daquele verão. Ele fora para um badalado restaurante à beira da baía da cidade, sentiu uma brisa fresca lhe soprar no rosto. Quando se virou para encarar a água, Mcland avistou a mulher que viria a ser sua esposa; ela era uma típica holandesa, pele clara e os olhos de um azul vivo.

Tomado por um impulso que ele não sabia de onde vinha, aproximou-se da mesa que a holandesa estava sentada, como não havia ninguém com ela, tomou a liberdade e pôs-se a falar:

— É sempre assim tão quente?

A mulher o encarou, como se estivesse divertindo-se com o atrevimento do homem.

— Costuma abordar mulheres sozinhas? — Repreendeu-o, com um sorriso descontraído no rosto.

— Não foi minha intenção ofendê-la. — Brian desculpou-se.

A holandesa fitou-o, claramente achando graça no embaraço do homem.

— Tudo bem, não tem perigo. Por favor, sente-se.

O homem acomodou-se.

— Brian Mcland — estendeu a mão para a mulher.

— Lieve Margriet. — Respondeu a holandesa, aceitando o cumprimento dele. — É americano?

— Nova Iorque, Estados Unidos.

— Sou daqui mesmo. O que faz longe de casa?

— Faz pouco tempo que me aposentei das forças armadas, estou só relaxando.

— Amsterdã é o lugar ideal.

Lieve e Brian deixaram-se levar pelo diálogo que fluía, como se fossem velhos conhecidos. Assim que almoçaram, foram passear, o americano achou a cidade reconfortante, como uma promessa de calmaria depois de uma terrível tempestade.

Quando a noite chegou, o americano acompanhou a mulher até o seu apartamento. Despediram-se e prometeram encontrar-se novamente para almoçarem no mesmo restaurante.

Era para ser apenas alguns poucos dias de estadia, mas o amor de Brian foi tornando-se incontrolável, os dias deram lugar aos meses, e os meses trouxeram a união dos dois. Mcland casou-se com Margriet, e com ela viveu os seus melhores anos.

A vida dos dois já havia virado rotina quando os primeiros sinais da doença apareceram. Começou com enjoos, Lieve achara que poderia se tratar de uma gravidez. Contudo, quando o casal recebeu o diagnóstico, a vida harmoniosa que levavam juntos, saiu dos trilhos. Margriet estava com câncer de útero já em estado avançado. Os dois travaram, durante um ano, uma luta insana e árdua contra a morte, mas perderam. Lieve se fora, resistiu o tanto que pôde, agarrou-se até o último resquício de esperança, até não lhe sobrar mais nada a que se apegar.

Deitado no divã da psicanalista, Brian rememorava todos esses acontecimentos, às vezes relatando com dificuldade, outras vezes desenvolvendo bem a história. Quando encerrou sua narrativa para a Dra. Karen Lee, sentiu-se mais leve, como se um fardo lhe fosse arrancado das costas.

— A morte não é o fim, Brian. As pessoas só morrem quando são esquecidas. — Falou a Dra. Lee. — Você irá esquecer sua esposa?

— Irei levá-la comigo, até o dia que estaremos juntos novamente.

— Então ela continuará a viver.

A sessão terminou, o capitão reformado retirou-se. Seria doloroso prosseguir sem o amor da sua vida, mas ele tentaria, para que sua amada pudesse existir mais um pouco em suas memórias.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 09/09/2020
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