270 - O Encontro
E, para acabar, olhou-se outra vez e saiu. Ainda esperou um bom bocado no carro antes que ela viesse à varanda acenar-lhe e pedir mais um tempo. Foi, como de costume, gentil. Sentiu o perfume, beijou-a sem a tocar para lhe poupar a pintura, gabou o vestido que lhe apertava as coxas, achou-a linda. Escolheram a mesa de canto e o jantar foi agradável, tranquilo, cheio de olhares, toques breves das mãos. A seguir à actuação do pianista escutou-se, vibrante, música para dançar. Rodaram pela mini pista um pedaço da noite, tomaram mais um copo, viram a cidade iluminada do miradouro e, cedo ainda para ela, foram para a sua casa. À terceira bebida estavam ambos nublados. O licor de tangerina juntara-se perigosamente ao que já haviam bebido e, incapaz de segurar o sono, ela adormeceu no sofá. Viu-a inclinar para trás a cabeça e começar a dormir de boca aberta e respiração ruidosa. Ainda pensou em deitá-la com maior conforto, tirar-lhe o vestido apertado, mas desistiu avaliando a sua falta de força naquele momento. Tentou dormir mas não conseguiu. Logo que ganhou domínio do corpo, apagou a luz e saiu. A hora deixou as ruas vazias e silenciosas. Quando entrou no carro chegaram os homens do lixo e, antes que pudesse deitar-se, o telefone tocou. Era ela. Adivinhou-lhe a conversa e não atendeu.