Quando não houver o amanhã
Eu sabia que tudo era incerto e que poderíamos não nos encontrar novamente. Então deixei em sua casa um colar prata. Ele carrega todo sentimento verdadeiro que recebi em minha vida. É a foto de minha mãe. Suzane é o nome dela.
Ela morreu há 7 anos de uma hemorragia ainda não catalogada. Sempre culpamos aos médicos por não terem encontrado um tratamento para ela. Mas já é hora de aceitar que ela não queria mais sofrer. Sete anos foram só os de internamento. Ela foi uma guerreira. Se entregou quando percebeu que nós também já estávamos entregues e ela não queria isso.
Ela estava no hospital internacional Azebert Klay e tinha as melhores enfermeiras e a melhor equipe médica. Todas a chamavam de Suze. Sua alegria contagiava a todos. Da ala de idosos a ala da maternidade. Suas enfermeiras preferidas eram Magna e Aparecida. Elas faziam tudo que ela pedia ou quase tudo. Certa vez ela as convidou para fugir do hospital e irem ao baile de Cadcross (um grande evento que ocorria nos meses de setembro). É claro que elas não o fizeram. Ela faleceu dois anos após esse pequeno pedido de fuga.
Foi dia 16 de setembro pontualmente as 20h. Ela tinha passado o dia bem. Pediu para vestir o seu vestido lilás e suas pantufas brancas. ESTAVA LINDA. Ela tinha cabelos ruivos e seus olhos eram de cor azul céu. Recebeu ao final da tarde visita de suas amigas da escola onde gargalhadas iam e vinham. Quem estava por lá queria saber o motivo de tanta graça. Até hoje não sabemos. Talvez fosse algo sobre nós e que todos conheceram menos a gente.
Gostava de flores e neste dia em especial recebeu alguns buques. Estava feliz como nunca antes. Mas nos deixou. Nos deixou tristes. É horrível imaginar como alguém tão especial e gente boa pode partir. Deixar esse vazio tremendo. Uma saudade traiçoeira. As lembranças nos trazem momentos de dor e alegria. Um misto incompreensível.